Ponto de vista de Max Verstappen
— Você não precisava falar daquele jeito com ela.
Meu pai sempre aparecia em momentos importunos e sempre tinha um comentário desagradável para fazer, embora eu já estivesse acostumado com isso desde quando era pequeno, outras pessoas não precisavam ouvir coisas embaraçosas a troco de nada.
— Achei que você já tinha desistido dela. Não foi o suficiente todos os sermões que eu te dei na sua adolescência?
— Eu não sou mais criança — protestei, ele conseguiu me afastar de Scarlett quando éramos mais novos, mas não conseguiria fazer isso novamente. — Tenho estabilidade, sou bicampeão de fórmula um, coisa que você disse que eu nunca seria. Você acha que uma mulher vai me distrair dos meus objetivos?
Era justamente isso que ele achava. Ele sempre fez de tudo para que eu ficasse longe da Scarlett quando eu a conheci entre uma corrida de kart e outra, quando ela acompanhava seu irmão. Até mesmo me impedir de vê-la no hospital quando ela caiu do segundo andar ele conseguiu. Agora que eu tinha a chance de me redimir não só pelo acidente com Alex, mas também por essas pequenas coisas que tenho certeza que a aborreceram, ele iria dar palpite?
— Não uma mulher — meu pai abaixou o tom de voz e passou a mão pelo cabelo. — Mas ela em específico. Por causa dela você teve resultados ruins, por causa dela você ficou se culpando pela morte de Alex, só porque ela não foi capaz de enxergar que não foi você que empurrou ele contra a parede.
Eu sabia que não tinha sido eu, eu sabia de tudo isso desde o primeiro momento que saí do meu carro e vi Alex preso entre as ferragens do carro dele. Eu ainda me lembrava do que ele tinha me falado assim que conseguiu tirar o capacete. Mas por ela eu fui até em público dizer que eu errei também em acelerar junto dele.
Será que no fundo disso tudo o verdadeiro demônio ao meu lado era ela e não eu mesmo?
— Meninos, parem com essa discussão que não vai levar a lugar nenhum — minha mãe interveio, segurando o meu braço com delicadeza. — Max, vá tomar um banho para irmos almoçar em algum restaurante.
Balancei a cabeça e me afastei, subindo a escada em seguida e deixando eles sozinhos na sala de estar.
Meu pai onde chegava conseguia o grande feito de acabar com o meu dia e até mesmo minha semana.
Peguei meu celular no quarto de hóspedes e olhei a bagunça da cama, mas eu não iria arrumar tão cedo. Segui para o meu quarto e aproveitei para mandar uma mensagem para Scarlett e ver se ela estava bem ou se já tinham buscado ela. Caso contrário, eu a levaria em casa.
Mas ela não me respondeu.
Nem mesmo quando eu acabei de tomar meu banho e me arrumar, ela ainda não tinha me respondido. Eu não a julgava. Meu pai tinha sido um idiota, eu não gostaria de ser tratado daquela forma que ela foi tratada.
[...]
Não era como se eu me importasse de ver aquelas pessoas querendo tirar fotos comigo durante meu percurso do estacionamento do carro para o restaurante, mas não era um dia bom para aquilo. E como se já não me bastasse isso, meu celular não parava de apitar com notificações e mensagens de todas as fotos que tiraram de mim e de Scarlett no evento.
Eu com certeza errei muito em tê-la convidado para ir comigo.
Nos sentamos em uma mesa com vista para o mar e fizemos nossos pedidos a um garçom. Enquanto aguardava, peguei meu celular para ver se tinha alguma notificação de quem eu estava ansioso para que me respondesse, mas nada. Onde ela estava? Quem tinha ido buscá-la?
— Que dia você vai para o Canadá? — minha mãe perguntou chamando a minha atenção para ela.
— Amanhã.
— Como vão os treinos? — Jos perguntou.
— Bons. Tenho ótimos resultados e não perco uma corrida três vezes seguidas.
— Você precisa melhorar.
Deixei meu celular de lado e o olhei.
— Eu vou melhorar.
— As vezes que ele não ganhou, ele ficou em segundo lugar. O que tem de errado nisso? — Victoria perguntou.
— Se ele disse que tem estabilidade e nenhuma mulher vai atrapalhar os objetivos dele, quero vê-lo ganhando todas, sem exceção e sem segundo lugar.
A partir dali eu decidi que venceria todas as corridas e mostraria para meu pai que Scarlett não seria um empecilho na minha vida como ele achava que ela era.
[...]
Andei de um lado para o outro em frente ao portão baixo daquela casa. As minhas mensagens não tinham sido respondidas, mas eu precisava saber se ela tinha ficado chateada ou não e me despedir dela para poder ir viajar em paz.
A luz da sala foi acesa alguns segundos depois que toquei a campainha e ajeitei minha postura, como um adolescente saindo pela primeira vez com uma garota faria. Como ela me deixava tão bobo?
A porta foi aberta e meu sorriso se desmanchou quando vi a mãe de Scarlett ali.
— A Scarlett está? Ela não responde minhas mensagens.
Ela balançou a cabeça.
— Ela saiu com o Charles faz algumas horas. Quer entrar e esperar por ela?
— Não, não precisa. Obrigado — sorri e balancei a minha mão. — Bom, diga para ela me avisar quando chegar.
— Max — ela começou. Levantei meu olhar para a senhora encostada na porta. — Você já contou para ela?
Por um momento, não soube como reagir. Por que parecia que tudo estava tomando rumo para eu dizer para ela? Eu não queria contar.
— Não tive coragem — admiti. — Acho que ela não aguentaria saber a verdade.
— Uma hora ou outra você precisará dizer. Fico feliz que tenha conseguido fazer as pazes com ela, mas acho que só vai dar certo quando você tirar esse peso dos seus ombros.
O sonho que tive com Alex veio à tona naquele momento, como um flashback recente na minha cabeça. Tinha sido tão real e ele estava tão bem. Será que aquilo poderia ser um sinal que ele estava em paz o suficiente para que eu contasse para Scarlett a verdade sobre o acidente do seu irmão?
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Me and the Devil | Max Verstappen
FanfictionScarlett teve sua vida marcada pelo trágico acidente que tirou a vida de seu irmão, um talentoso piloto de Fórmula 1, durante uma corrida anos atrás. Anos depois, ainda assombrada pelo passado e alimentando seu ódio pelo causador do acidente, Max V...