Capítulo Três

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Encontrei Alexsander sentado na poltrona na sacada do seu quarto e ao notar minha presença ele se virou para me olhar. Eu amava os olhos tão claros como o oceano do meu irmão e a maneira como ele me olhava como um príncipe protetor.

Sentei-me ao seu lado na poltrona quando ele chegou para o lado me dando um pouco de espaço e encostei minha cabeça em seu ombro.

— Como você está? — ele me perguntou, olhando para o horizonte. A vista do quarto dele era incrível.

— Não muito bem e você?

Ele suspirou.

— Me sinto ótimo, Scarlett — ele sorriu e se virou para mim, fazendo-me tirar a cabeça de seu ombro. — Você já vai embora? Eu sinto muito a sua falta.

— Eu estou sempre aqui para você, Alex — sorri para ele também.

Mas ele balançou a cabeça.

— Você está em Houston e o seu lugar é aqui em Mônaco. Por que não fica o restante de suas férias e vai até a corrida? Eu adorarei saber que você estará lá.

Ergui uma sobrancelha.

— Alex? — o chamei ao perceber que ele não estava mais perto de mim e sim na beirada da sacada. — O que você quer dizer com isso?

Ele sorriu, tão serenamente que me deu uma estranha sensação de calma, uma paz que eu não sentia há anos.

— Nem tudo é como você achava que fosse. Talvez seja hora de descobrir a verdade.

[...]

Acordei assustada e suando, coisa não muito comum de fazer. Peguei meu celular da mesa de canto da cama e olhei a hora, exatamente três horas da manhã.

Mesmo que tivesse sido um sonho um tanto quanto estranho com meu irmão, suas palavras ainda estavam frescas na minha mente. O que ele queria dizer com descobrir a verdade? O que eu precisava saber? Para mim tudo já estava muito claro.

Levantei-me e andei até o corredor. A porta do quarto de Alex ficava fechada desde sua morte, eu tinha entrado no cômodo algumas vezes nesses cinco anos e desde que fui para Houston nunca mais entrei quando visitava os meus pais.

Antes que eu pudesse raciocinar claramente, meus pés me guiaram até o quarto que ficava no fim do corredor e segurei a maçaneta. Hesitei por alguns segundos antes de girá-la e abrir a porta.

Ao acender a luz, percebi que tudo estava conforme era antes. Uma cama de solteiro no canto da janela, uma escrivaninha com diversos troféus de suas corridas de kart quando era pequeno, os quadros na parede ao lado do guarda-roupa faziam uma espécie de linha do tempo desde a sua infância até a maioridade. Me aproximei daquela parede e observei melhor cada foto, mas uma em especial me chamou a atenção: Alex e eu sentados nos pneus de um carro de Fórmula 1 da McLaren. Foi a sua primeira foto de estreia e ela era a maior de todas da parede.

Caminhei até a sacada e abri a porta de correr de vidro. O local também ainda tinha a sua poltrona em que no sonho eu conversava com ele. Me sentei nela e respirei fundo, observando a cidade lá embaixo. Dali eu conseguia ter uma clara visão do cassino de Monte Carlo e me lembrei de como era apaixonada naquela vista do horizonte. Também podia ver algumas lanchas e iates no mar, inclusive em algumas delas estavam acontecendo festas. A cidade estava movimentada por conta da corrida que aconteceria.

Desbloqueei meu celular e entrei no contato de Charles, mesmo sabendo que ele provavelmente não estava acordado aquela hora. Logo digitei uma mensagem para ele.

"Você consegue um Paddock Pass para mim?"

Olhei a mensagem mais dez vezes antes de enviá-la. Eu ainda não sabia o que meu irmão queria, mas começaria pela corrida em Mônaco. Pensando nisso, apertei no botão de enviar a mensagem e balancei a cabeça.

Era hora de enfrentar os meus fantasmas.

[...]

Desci a escada pulando alguns degraus e encontrei meus pais sentados no sofá tomando café. Era tradição deles tomar café da manhã vendo jornal na sala.

— Onde você vai? Espera, não era para a senhorita ter ido embora ontem? — minha mãe perguntou assim que me viu arrumada e sem as malas. Certamente estava estranhando, principalmente porque eles nem perceberam que eu fiquei um dia inteiro dentro do meu quarto quando na verdade eu tinha dito que ia embora.

— Resolvi ficar até o final das férias — respondi. Pensando nisso, tinha me lembrado que precisaria trocar a passagem de avião no meu aplicativo.

Meus pais se entreolharam e vi meu pai erguer uma sobrancelha para minha mãe antes de voltar a prestar atenção na televisão.

— E o Charles conseguiu um Paddock Pass para mim — falei impaciente por estar guardando aquela notícia.

Naquele momento, vi nos olhos da minha mãe como ela ficou contente em ouvir aquilo. Meu pai também parou imediatamente de tomar o café em sua mão e me olhou novamente.

— O que aconteceu? — ele perguntou curioso em saber o motivo de tudo aquilo tão repentinamente.

— Eu tive um sonho estranho de anteontem para ontem e preciso saber se isso quer me dizer alguma coisa.

Eu não me importava de contar para eles sobre os meus sonhos, porque sabia que eles acreditavam fielmente que sonhos podiam ser sinais disfarçados. Também sabia que meus pais queriam muito que eu voltasse a ser a Scarlett alegre, brincalhona e apaixonada por Fórmula 1 de antes. Aquela notícia deveria estar deixando um grande alívio neles.

— Bom... Esperamos que você se sinta bem lá — minha mãe comentou, sorrindo. — Se quiser vir embora antes ou não se sinta confortável, nos ligue e iremos te buscar.

Balancei a cabeça concordando e saí de casa rapidamente. Optei por tomar café em uma cafeteria não muito longe antes de ir para o circuito e aproveitei da minha própria companhia enquanto comia pela primeira vez desde muito tempo.

Quando cheguei na entrada do Paddock minha ficha começou a cair que eu estava realmente ali e senti um formigamento percorrer meu corpo, mas eu não poderia voltar. Charles tinha movido montanhas para conseguir um passe tão de última hora para mim e voltar da entrada o faria muito triste. Além disso, eu queria poder apoiar meu amigo de perto. Eu era muito grata pela amizade dele.

Caminhando pelos boxes comecei a sentir toda a emoção que eu sentia quando Alex corria. Eu chegava ali como se fosse um parque de diversão e quando chegava no box da McLaren e podia ver como tudo funcionava de perto, me sentia como uma criança. Era tudo muito incrível.

Por sorte o box da Ferrari ficava antes da Red Bull e assim eu evitaria muitos conflitos internos.

Infelizmente não consegui falar com Charles antes da corrida para agradecê-lo pessoalmente, então me dirigi para o camarote enquanto eles colocavam os carros na pista para a largada. Me encostei na grade e procurei meu amigo pela multidão, localizando seu carro e logo o vi também. Ele parecia procurar alguém, olhando na direção do camarote que eu estava, mas não tinha ninguém ali que eu imaginava que ele poderia conhecer. Seus olhos encontraram os meus e ele apontou para mim, logo fazendo um coração com as mãos. Sorri para Charles e fiz um coração de volta para ele.

— É a irmã daquele piloto? — ouvi uma voz desconhecida perguntar ao meu lado e desviei minha atenção para o telão que agora focava em mim. Droga, era tudo que eu não queria que acontecesse.

A câmera mudou de foco para os pilotos novamente e vi que agora Max também me olhava. Aquele câmera man só poderia estar de brincadeira. Me afastei da grade e me sentei em um banco aguardando pelo começo da corrida.


Me and the Devil | Max VerstappenOnde histórias criam vida. Descubra agora