Capítulo Catorze

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Vinte e seis de Maio de dois mil e dezoito

— Grande Prêmio de Mônaco

Eu caminhava animadamente pelo pit lane junto de Alexsander. Era o seu segundo ano correndo no seu "circuito" natal junto de Charles e não poderíamos estar mais felizes. Falando em Charles, o piloto da Sauber estava bem ali do nosso lado.

As arquibancadas, as pessoas nas varandas dos prédios e o camarote estava lotado como de costume. Eu nunca me acostumaria com toda aquela gente ali para ver todos os pilotos e meu irmão. Acho que nunca me acostumaria com a fama repentina de Alexsander Marchese.

— Não vai comer poeira — Charles brincou com Alex quando chegamos em frente ao box da McLaren e os dois fizeram um toque de mãos antes de seguirem caminhos diferentes.

Entramos no box da equipe do meu irmão e o observei terminar de se vestir, ajeitando o macacão em seu corpo. Tinha me esquecido de mencionar o quanto eu adorava aquela energia pré corrida, era uma correria sem fim para ajustar os últimos detalhes, mas tinha uma sensação boa, uma adrenalina fora do comum.

— Tome — entreguei-lhe seu capacete. — Preciso ir até um lugar antes de começar.

Alexsander parou de colocar sua touca e arqueou uma sobrancelha. Ele com certeza já sabia onde eu iria.

— Você vai desejar boa sorte para ele e não vai me ajudar com os detalhes finais?

— É um pulo daqui até ali, eu volto em cinco minutos — apoiei uma mão em seu ombro e me inclinei para beijar a sua bochecha.

Não passei pelo pit lane para chegar até onde eu queria, caso contrário poderiam me ver e as coisas sairiam do controle antes da corrida. A última coisa que eu desejava era ser o centro das atenções e por sorte quase ninguém reparava em mim.

Pelo corredor interno apressei meus passos contando exatas três portas brancas para então chegar na do meu interesse. Abri a porta lentamente e somente coloquei minha cabeça dentro da sala para não fazer ninguém surtar por eu estar ali.

Fiz uma espécie de assobio quando vi quem eu queria de costas para mim e ele se virou. Seu olhar se iluminou quando me viu e eu tinha certeza que o meu também.

— Entra — disse ele. — Como você está?

— Estou bem e você? Nervoso com essa corrida?

Ele sorriu.

— Um pouco, mas vai passar.

Tirei suas mãos do zíper do seu macacão da Red Bull e o puxei para cima, fechando-o completamente.

— Seja cuidadoso lá na pista, Max — sorri e o olhei novamente, encontrando seus olhos nos meus.

— Mande boa sorte para o Alex.

— Eu vou mandar.

Como não tinha muito tempo para ficar ali, me despedi brevemente e voltei para o box do meu irmão, que já estava indo para a largada.

— Toma cuidado — falei para o meu irmão. — Estarei aqui no box até o final da corrida. Volta inteiro para mim.

Ele fez uma careta.

— Credo, falando assim até parece que eu nunca voltei inteiro.

Fiz um coração com as mãos e suspirei. Não tinha mais nada a fazer a não ser sentar e assistir.

Quando a corrida começou, tudo ao meu redor pareceu sumir. Era sempre assim. Somente eu e a televisão. O foco máximo era no meu irmão e eu não estava nem aí nem mesmo para o meu amigos de outras equipes, só queria saber como Alex se saía atrás de um volante de um carro de Fórmula Um. Meus pais costumavam brincar que na outra vida eu devia ter sido uma engenheira ou diretora de alguma equipe de tão focada que eu ficava.

Na décima segunda volta, Alex e Max entraram em uma longa competição de ultrapassagens que me fizeram ter dores de cabeça instantâneas, mas que pararam da décima quarta volta e eu me aliviei novamente.

O problema começou quando eles voltaram a competir na penúltima volta. Brigando por um lugar que nem era dos melhores.

— Fala para o Alex desacelerar — comentei com algum mecânico que observava a corrida ao meu lado pela televisão.

Eles não conseguiriam fazer aquela curva se continuassem acelerando tanto igual estavam, como se estivessem em uma reta.

— Fala para eles desacelerarem! — exclamei e me levantei, ficando totalmente aflita com a cena que eu via na transmissão.

Fechei meus olhos e só ouvi as pessoas ao meu redor começarem a falar alto e a movimentação começar.

Quando tive coragem de abrir os olhos novamente, a câmera focava no carro de Alex, com a frente totalmente destruída ao bater contra o muro. Max estava saindo de seu carro um pouco mais na frente e correu até onde meu irmão estava entre toda aquela fumaça e aquelas ferragens do seu carro.

O que tinha acontecido? Como ele foi bater logo ali, em uma curva que ele era experiente?

— Ele está bem? — perguntei sentindo meus olhos marejar. — Ele está bem?

— Ele não responde o rádio — ouvi alguém dizer.

Naquele momento, senti uma parte do meu corpo paralisar. Como assim ele não respondia ao rádio? Ele tinha que responder e dizer que apesar do acidente estava bem.

Saí do box em silêncio, com as lágrimas rolando nos meus olhos, sentindo todos os olhares para cima de mim no momento. Uma ou duas pessoas tentaram me segurar, mas não funcionou.

Eu queria o Alex.

Me encostei na grade que separava o pit lane da pista e desabei a chorar, como um bebê pequeno.

Perdi a noção de quantos minutos fiquei ali em silêncio, chorando encolhida no canto.

— Scarlett! — ouvi meu nome e levantei o meu olhar.

Max vinha correndo na minha direção tirando sua touca protetora que ia por debaixo do capacete. Eu não queria saber dele, ele tinha sido o causador do acidente, ele tinha acelerado sabendo que não tinha como passar.

Verstappen parou alguns metros longe de mim, como se estivesse pensando se iria se aproximar ou não, então jogou o capacete no chão e se agachou na minha frente enquanto segurava os meus ombros.

— Ele está bem? — perguntei uma última vez.

O semblante no rosto dele já dizia tudo. Alex não estava bem.

Meu Alex, meu irmão, meu melhor amigo, não estava nada bem e não voltaria inteiro para mim.


Me and the Devil | Max VerstappenOnde histórias criam vida. Descubra agora