Capítulo Dezesseis

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— Scarlett, recolha a mesa três e a doze, por favor — minha gerente disse assim que entrei na cozinha para entregar a bandeja cheia de louça suja para as senhoras que lavavam tudo. Elas já trabalhavam ali há tantos anos que lavar louça havia se tornado tão habitual que elas faziam isso de olhos fechados e não deixavam uma sujeira no prato ou no garfo.

Assenti e me apressei para sair novamente. Toda sexta-feira o movimento no restaurante aumentava e eu fazia hora extra até quase onze da noite.

Pelo menos as pessoas já pareciam ter esquecido quem eu era e ninguém mais me olhava torto. Deslizei meu corpo entre as mesas até chegar na três perto da porta de entrada e cumprimentei com um sorriso o hostess que estava ali. Peguei a gorjeta deixada debaixo do prato e guardei no meu bolso, contente com o valor. Ainda existiam muitas pessoas simpáticas que reconheciam o trabalho do garçom ou de qualquer outra pessoa que tinha um cargo mais inferior. Era até esquisito pensar que eu nasci em Mônaco onde não havia uma pessoa de situação financeira ruim e eu trabalhava ali em Houston como garçonete, embora meus pais sempre se ofereceram para me bancar enquanto eu estudava.

Andei até a mesa doze e também recolhi a louça suja. Fui parada no caminho por dois clientes pedindo mais bebidas e disse a eles que já traria seus pedidos.

Eu não tinha um segundo de descanso.

Uma vez de volta para o salão do restaurante com as bebidas dos clientes, me esgueirei para poder levar até eles, que agradeceram gentilmente.

— Mesa cinco — a gerente disse pelo meu fone e eu procurei a mesa cinco com o olhar.

Um casal com uma criança.

Me aproximei deles e tirei meu celular do bolso.

— Sejam bem-vindos. Posso pegar os seus pedidos? — falei abrindo o meu melhor sorriso. Ali era proibido trabalhar de mau humor.

A mulher abaixou o cardápio e me olhou antes de começar a fazer seu pedido. Seu marido também fez o dele e repeti tudo em voz alta antes de enviar para a cozinha.

Me permiti respirar um pouco mais tranquilamente quando vi que todos estavam comendo ou aguardando a comida chegar e aproveitei para tomar um pouco de água. Me aproximei da entrada e peguei minha garrafinha de trás do balcão de Tyler, o hostess.

— Hora não passa — ele reclamou. Tyler já estava na casa dos trinta e cinco anos e parecia não aguentar mais aquele trabalho.

— Vamos lá, faltam só três horas para fecharmos — tentei animá-lo quando terminei de beber a água. Guardei a garrafa novamente no balcão e ajeitei meu uniforme.

Ele se encostou no balcão.

— Vamos tomar alguma cerveja depois do nosso expediente?

O olhei em dúvida. Ok, talvez ele só quisesse realmente tomar uma cerveja. Além disso, Tyler tinha sido o único que não me olhou torto, talvez ele nem soubesse de tudo que aconteceu comigo e a mídia no mês que se passou. E eu também não estava me reservando para outra pessoa, Max nem mesmo respondeu a mensagem que Abigail mandou em meu nome.

— Hum, ok. Pode ser — sorri para ele antes de me afastar.

Voltei para o trabalho e continuei atendendo as mesas que me chamavam.

[...]

— Boa noite, pessoal — me despedi de todos os funcionários enquanto a gerente trancava as portas do restaurante e coloquei as mãos nos bolsos do meu casaco, observando de relance Tyler se aproximando de mim.

— Eu conheço um bar muito bom aqui perto, você gostaria de ir?

Eu tinha me esquecido completamente que aceitei sair com ele para tomar uma cerveja depois do expediente. O problema era só um: eu tinha desanimado completamente.

— Hã, pode ser. Só vou beber uma e ir embora, amanhã tenho que ir na faculdade — menti para ele.

Ele assentiu.

Caminhamos conversando alguns assuntos aleatórios pelas calçadas até chegar no tal bar que não era nada amigável. Encolhi os ombros ao entrar no estabelecimento, lotado de homens jogando sinuca e outros bebendo assistindo a uma luta na televisão.

Nos aproximamos do balcão e Tyler puxou um banco para eu me sentar.

— Então — começou, virando-se para mim depois que nossas bebidas já tinham chegado. — Como vai sua família?

— Ótimos, obrigada. E a sua?

Que tipo de pergunta era aquela? Ele nem conhecia minha família.

— Estão bem também. Eu gostaria de saber, por que você trabalha em um restaurante?

Bebi um gole da minha cerveja e a apoiei no balcão novamente.

— Porque eu preciso de dinheiro — sorri amarelo. — O aluguel não se banca sozinho.

Ele riu.

— Eu sei, mas você é Marchese. Sua família é de Mônaco — ele abaixou o tom de voz. — Você é amiga de pilotos de Fórmula Um.

Ah, então ele tinha sido o único a não me falar aquilo, porque estava esperando um momento a sós comigo. Agora eu tinha entendido.

— O que não me faz ter dinheiro. Eu quero ter a minha própria independência.

Ele abriu a boca.

— Uau, tenho que admitir que é lindo ver uma mulher não se escorar em homem — ele se aproximou um pouco.

Assenti sem saber o que fazer. Bebi mais um longo gole a fim de acabar com a cerveja logo.

— Acho que já vou, Tyler. Estou muito cansada — ameacei a me levantar do banco, mas ele segurou meu ombro. — Tyler?

Ele pareceu perceber e tirou a mão de mim, me deixando livre para eu me levantar.

Assim que saí do bar, a brisa fria da noite me atingiu e cruzei os meus braços. Eu poderia muito bem chamar um táxi ou ir andando, já que não era tão longe assim.

Optei pela segunda opção e comecei a caminhar em direção do meu apartamento até sentir que havia alguém me seguindo. Olhei para os lados e não vi ninguém a não ser um carro preto andando um pouco mais devagar do que o normal, até que ele parou do meu lado e o vidro se abriu.

— Senhorita Marchese? — o homem perguntou e me virei com toda a minha falta de coragem para ver quem era. O desconhecido acendeu a luz do carro deixando-me ver seu rosto e me aliviei.

— Rossi? — abri o maior sorriso que aquele homem já deveria ter visto na vida. — O que o senhor está fazendo aqui em Houston? — perguntei ao me aproximar da janela.

— Meu chefe me pediu para vir com ele.

Abri minha boca.

— O Max está em Houston?

Ele assentiu e escutei o som da trava da porta.

— E ele quer te ver, senhorita. É por isso que estou aqui.

Tentei não sorrir muito e entrei no carro. Durante o trajeto, ele me contou que descobriu onde eu trabalhava por informações que minha mãe passou e que me acompanhou sair do restaurante e ir com Tyler para o bar e que por sorte eu não demorei nem vinte minutos lá.
Mas, se ele queria tanto me ver, por que não respondeu minha mensagem?

Me and the Devil | Max VerstappenOnde histórias criam vida. Descubra agora