Capítulo Quatro

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Tinha sido uma péssima ideia ter ido à corrida achando que conseguiria tirar algo de bom daquilo. Tudo começou a ficar pior quando aquele piloto da Red Bull venceu mais uma vez e o hino da Holanda começou a tocar, aquele som me dava calafrios.

No caminho para ir embora, desisti de tentar falar com Charles e me apressei para sair do circuito antes que alguém pudesse me ver e vir falar comigo, mas infelizmente já era tarde demais, principalmente depois que todos me viram no telão.

— Scarlett! Oi! — eu já tinha mencionado o quanto eu odiava ouvir meu nome sendo chamado por aquela voz rouca?

Parei onde estava e girei meus calcanhares para observar o que eu já sabia. Max estava de pé no meio da pit lane respirando como se tivesse corrido para me alcançar. Seus cabelos estavam bagunçados e ele segurava uma lata de energético na mão direita.

— Podemos conversar? — ele perguntou, arrancando de mim uma expressão de surpresa. Não tinha nada para falar com ele e pensava que tinha deixado isso claro há dois dias atrás.

— O que você quer conversar? — cruzei os meus braços. Ele deu alguns passos para a frente, mas estiquei minha mão para impedi-lo de continuar andando. Só de lembrar que a última vez que estivemos tão perto foi no dia da morte de Alex, meu coração se acelerava.

— Não aqui, em particular.

Eu estava pronta para dizer não, virar as costas para ele e ir embora quando as palavras de meu irmão no meu sonho surgiram na minha frente como um grande letreiro.

Deixei meus braços caírem ao lado do meu corpo e suspirei, então balancei a cabeça.

— Você tem dez minutos — falei por fim. — Te espero no seu trailer.

Ele assentiu sem esboçar nenhuma outra reação e eu me afastei para dar um tempo dele se despedir de todos e das câmeras para não gerar nenhuma polêmica na internet.

Ao invés de sair pela catraca e seguir para casa sozinha, peguei o caminho da direita e avancei em direção dos trailers. Cada lugar dali era como uma lembrança fresca na minha mente.

Li o nome das equipes em cada trailer até achar o da Red Bull e me encostei nele quando o encontrei. Peguei meu celular e enviei uma mensagem para meus pais dizendo que estava tudo bem e que demoraria mais um pouco porque iria comer algo na rua. Não queria que eles soubessem que eu estava a ponto de ficar cara a cara com Max novamente.

Cerca de oito minutos mais tarde, observei uma silhueta se aproximar e só pela forma de andar eu sabia que era quem eu estava aguardando. Agora ele usava o seu macacão na cintura e a camisa azul marinho da sua equipe por baixo, também estava com um boné na cabeça tampando seus cabelos loiros.

— Demorei? — ele perguntou, abrindo a porta do trailer.

Balancei a cabeça negando e me desencostei, aproximando-me dele que deixou que eu adentrasse o trailer primeiro.

Eu tinha me esquecido como ali tudo era gigante, como uma própria casa. Mesmo que a corrida já tivesse terminado e todas as premiações também, ainda haviam algumas pessoas ali que eu não estava esperando encontrar.

Andamos rapidamente até o lugar mais silencioso do motorhome, mesmo que Max tenha sido parado no mínimo dez vezes antes de conseguir chegar até lá comigo.

O silêncio tomou conta da pequena área de descanso que estávamos e eu me sentei no sofá enquanto ele permaneceu de pé, ainda com uma certa distância de mim, como se tivesse medo de se aproximar e eu acabasse brigando com ele.

— O que você quer falar comigo?

— Eu não acredito em nada disso, mas achei que deveria te contar. Na noite do dia vinte e seis para ontem eu sonhei com o seu irmão. Até então eu nunca tinha sonhado com ele antes.

Ergui minhas sobrancelhas, surpresa com aquilo. Como assim ele também tinha sonhado com meu irmão no mesmo dia que eu? O que Alex estava querendo nos dizer?

— Ele disse que eu deveria parar de me culpar em silêncio e conversar com você. No sonho ele estava tão bem e parecia ser tão verdade, que só percebi que não era quando ele desapareceu na minha frente e então acordei assustado.

Ele também parecia bem para mim no meu sonho.

— Eu também sonhei com ele na mesma noite que você — admiti. — Só não entendo o motivo disso acontecer agora, porque exatos cinco anos depois?

Ele encolheu os ombros.

— Eu não quero que você me perdoe imediatamente pelo o que aconteceu. Só espero que isso seja um sinal para que a gente possa voltar aos poucos a nos aproximar.

— Mesmo que isso seja algo que Alex queira nos dizer, eu não vejo motivos para voltar a me aproximar de você. Cinco anos se passaram e tudo que tínhamos acabou naquele dia aqui nesse circuito.

Me levantei e tomei coragem para passar ao seu lado para sair da sala. Girei a maçaneta da porta, mas senti sua mão segurar meu pulso. Seus dedos entraram em contato com minha pele e engoli à seco sem que ele percebesse. Era muito contato físico para mim.

— Por favor, Scarlett. Eu não sou uma pessoa que pede perdão, então veja isso como algo bom.

— Guarde seu estoque mínimo de perdão para outra pessoa, Max. Eu não ligo.

— Até quando você vai me ignorar? Até quando vai fingir que não aconteceu nada entre a gente naquela época? Até quando vai esconder isso de todo mundo, inclusive do seu melhor amigo que acha que você só me odeia por causa do seu irmão?

Fechei os olhos para me recompor e não dar um soco em sua cara, embora meu punho já estivesse cerrado.

— Eu não te odeio por você ter me deixado sozinha quando mais precisei. Eu tenho pena, porque ninguém gosta realmente de você, tudo que você faz é tentar ser bom para provar para o seu pai que é competente.

Senti sua mão soltar meu pulso e terminei de abrir a porta, saindo imediatamente dali.

Do lado de fora do circuito me permiti perceber como fui rude com ele, que só estava tentando se desculpar, mas daquela forma eu não seria mais perturbada por ele.

Haviam muitas coisas sobre Max Verstappen que poucas pessoas sabiam e eu afirmava com convicção que ele não era o mocinho da história.



Me and the Devil | Max VerstappenOnde histórias criam vida. Descubra agora