Pérola da Farmácia

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Comprei uma erva na feira, por só dez centavos 

Fumei ela inteira, com mais dois minos bravos

Tinha um gosto estranho, não tão ruim assim

De fezes de cavalo, de ranho, de alho e aipim

Duendes saltando pra nós, carregando arco-íris e luzes

Voando e balançando em cipós, ou montando avestruzes

Que brisa aquela, os minos riam, igual motocicletas

Paisagem aquarela, favela e falésias, angulosas e retas

Comprei um girassol, na venda do senhor algodão

Tinha o tamanho do sol, que ilumina o verão

Me lançaram um anzol, porque sou mexilhão

Não, eu sou aquela sereia, que roubou teu coração

Afoguei os minos na areia, desenterro o irmão

Beijo ele na boca, lambo as suas orelhas

Eu me faço de louca, arqueio as sobrancelhas

Gemo com minha voz roca, suas bochechas vermelhas

Abrem a porta os pais, com suas caras feias

Enterram de volta o irmão, fico só com suas meias

Me dão um tapa na mão, de estourar minhas veias

Deslizo pelo corrimão, desembaraço minhas teias

Sou aranha-pavão, a nadar com as baleias

Ascende meu coração, acendo o fogo de ideias

Acento agudo no céu, assento que cai nas minhas telhas

O resto cai como azazel, avião que explode em centelhas

Cuidado, disse o mino a cavalo, diante uma estátua

Confundiu-me com pássaro, quando sou a mãe-dágua

Rezo o pai nosso, para que me dê um filho nesse instante

Que desça do céu, me foda, e me deixe gestante

Ou apenas me foda, e me deixe na estante

Estocadas constantes, penetrada excitante

Faz-me de objeto, me preencha bastante

Agora olhe só pro seu teto, olhou? Não tem, meu amante

Enganei um bobo, não há teto no paraíso onde és habitante

Furacões delicados, tempestades amistosas

Diversões frustantes, alegrias venenosas

A lombra acaba na clínica, onde eu passo bem mal

Eu na maca, de boca aberta, com o traficante mental


Absurdo!Onde histórias criam vida. Descubra agora