Conhecendo o Daddy

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"Você tem aquele remédio que eu preciso
Fama, licor, amor
Me dê isto devagar
Envolva suas mãos na minha cintura
Envolva suavemente" -Lana Del Rey

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Observadora. Se estiver com vontade, pode usar essa palavra para me classificar. Como amante das palavras, sempre gostei de lançar olhares analíticos para pessoas ao meu lado. Durante o combinado reinado do vazio e da ansiedade em meu corpo, observando-as, acreditei que as únicas pessoas boas, que realmente se importavam comigo era a minha família. Mesmo eu sendo uma escrota, trocando menos de duas mensagens semanais com a minha mãe, Rose, todo fim de semana sempre que tinha uma folga ela me telefonava.

“Oi amor”. Iniciava amorosamente, sempre que eu a atendia.

“Como você está?”.

Não tenho vergonha de admitir, venho de uma família em que dinheiro não era um privilégio. Ed, para todos os efeitos, assim chamaremos meu pai. Detentor da responsabilidade de cuidar da família usava o seu ganho semanal, se somado ao fim do mês não chegava o valor de um salário mínimo, para nos sustentar.  Minha mãe, eu e meus três irmãos, André, Andreza e Andressa. Parou de rir? Em defesa da minha mãe ela não tinha muita criatividade, quando o assunto era escolher nome.

“Mãe estou me sentindo oca, sinto um vazio enorme no peito” Era o que eu deveria dizer? Em minha infância ela acordava diariamente ás 5 da manhã, para ajudar meu pai na atividade de avicultor, para que eu e meus irmãos tivéssemos um futuro diferente deles.

Que ideia de suicídio me ocorria constantemente era o que eu deveria dizer? Não queria preocupa-la, ela já passara muito por minha causa.

“Bem”. Foi o que disse em resposta.

Sentada na beirada da cama, usando uma blusa de cetim, alças finas, na cor turquesa e calcinha, minhas coxas estavam expostas, algumas cicatrizes rosadas, em suas laterais, logo abaixo as que eu acabara de fazer. O sangue originário delas manchava o cobertor branco.

Apertei meus lábios, meus olhos queimando em reação as lágrimas que formara-se.

“Mãe me ligou hoje”. Ela informou no outro lado da linha. “Disse cadê Alissa, aquela danada? Nunca mais veio aqui”. Recitou repetindo a frase da minha avó.

Deixei escapar uma risada fraca em reação, eu amava Josefa. Não tem graça okay?!

“Mês que vem Deus quiser eu vou aí”. Era o que eu sempre repetia.

Mas nunca ia, porquê meu dinheiro estava sendo sabiamente investido num apartamento, em comida e no melhor que eu podia dá aquele escroto. Não sobrava dinheiro para ver as únicas pessoas que se importavam comigo. Sabe estar na companhia de pessoas, que adorava fingir que gostavam de mim era mais excitante.

Babá! Que desonra, eu não era boa o suficiente para o filho, o neto deles. Em sua mais alta posição de atendente de caixa. Mas, eu ganhava bem, e o meu salário era.

Analisando as pessoas a minha volta, decretei que definitivamente as únicas pessoas boas que tive a oportunidade de conhecer era minha família. Talvez porquê o torpor enturva-se minha visão para enxergar além das aparências, não a família dele, elas eram repugnantes comigo, mas refiro-me as pessoas que sentava ao meu lado no ônibus, que me abordavam na livraria.

No hospital, ao abrir meus olhos, um pouco decepcionada por não ter cumprido meu objetivo inicialmente, não deixei-me de perguntar se minha vida teria sido diferente, se eu tivesse aprofundado um pouco mais minha conversa com elas.

My Sweet Sugar Daddy | Imagine Robert Downey Jr Onde histórias criam vida. Descubra agora