Three

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Toronto, Cidade do Canadá.

08/02/2020.

17:22 PM.

— Você irá gastar pelo menos vinte mil para consertar seu carro, se o seguro estiver em dia... terá uma chance de pagar bem menos.

— Ela não paga a própria conta de luz, vai pagar seguro? — Gustavo analisava a BMW amassada e sentia um aperto no peito.

— Eu sou responsável... — Soraya olhou o carro com o retrovisor despedaçado. — Sou um pouco responsável, né?

— Acho que sim. — Gustavo suspirou.

— E eu aprendi a pagar minhas próprias contas, não tenho mais vinte anos.

— Olha esse estrago, não sei como você se formou em pedagogia. — Seu irmão estava visivelmente irritado.

— Você que me ligou...

— Bom, eu tenho que atender outros clientes, se precisar podem me chamar. — O homem que estava atendendo os dois se retirou do lugar e os deixou sozinho.

— Acho bom você arrumar um emprego logo.

— Vou fazer isso semana que vem, não sou dependente da nossa mãe, não mais.

— Está insinuando algo?

— Não, mas eu não precisei da ajuda dela para pagar minha faculdade e minha casa em Vancouver.

— Podemos só conversar sobre o estrago que fizeram com o seu carro e deixar nossos problemas familiares de lado?

— Podemos sim.

Soraya e Gustavo passaram a tarde toda resolvendo os problemas, e parecia que esse processo não acabaria tão cedo.

Já era noite quando Gustavo deixou Soraya em sua casa, ela estava cansada e só queria descansar, ou fazer algo para distrair a mente, enfrentar seus problemas nunca foi o seu forte.

— Estou ferrada, terei que pagar táxi pelos próximos meses... a não ser que eu comece a dirigir meu Opala preto, mas isso enlouqueceria dona Raquel. — Falou a Duque.

— Já que não tenho muita coisa para fazer, o jeito é arrumar uma vaga de emprego. — Deixou o copo que estava tomando sorvete de lado e se sentou em sua cadeira. — Vamos ver o que Toronto tem para me oferecer.

Empurrou a cadeira para dentro da escrivaninha e ligou seu computador, ao colocar a senha no mesmo, esperou ele abrir o navegador para fazer a pesquisa.

— Escola Giz de cera... essa aqui parece ser chata. — Descartou a primeira opção. — Aconchego? Que escola se chama Aconchego? — Riu e descartou a segunda opção.

— Já vi que vou passar a madrugada toda aqui.

Soraya esticou o corpo, levantou e preparou um café expresso para a manter disposta o resto da noite, ao voltar para sua pesquisa, descartou pelo menos oito escolas, e suas opções já estavam acabando.

— Fiquei dividida entre duas, você vai escolher para mim, Duque.

Se levantou e saiu pela casa à procura de algum papel e alguma caneta, ao achar, escreveu os nomes de suas opções e foi atrás do seu labrador.

— Escolha a que você achar melhor. — Soraya fechou as mãos e esperou Duque ter alguma reação, o cachorro estendeu a pata e tocou em sua mão direita.

— Floresta Encantada, Mundo Infantil da Educação. — Abriu o papel e leu em voz alta, seu cachorro voltou a se deitar. — Boa escolha!

Soraya foi pesquisar se a creche ficava muito longe de sua casa, pesquisou também se teria como enviar seu currículo por e-mail, ou marcar alguma entrevista para essa semana.

Ficou a madrugada toda pesquisando e por sorte conseguiu enviar seu currículo, agora era só esperar a escola a chamar para uma entrevista.

— Vamos deitar-nos, Duque.

Chamou seu cachorro para deitar-se na cama, ele pulou sobre ela e se aconchegou em suas pernas, Soraya ao sentir o peso do labrador sobre si, dormiu tranquilamente.

(...)

11/02/2020

14:43 PM.

— Sei, Tânia.

— Eu me sinto tão bem solteira, sem precisar dar explicações para ninguém... me sinto livre.

Simone havia passado os últimos dias trabalhando para tentar ignorar o fato que sua esposa se recusava a ir à audiência e assinar os papéis do divórcio, Clarisse sempre foi teimosa e mimada, obviamente não jogaria tudo pro ar tão rápido assim, Simone entendia isso, só não tinha a devida paciência.

— Mafe está melhor, já está voltando a andar sem chorar de dor. — Simone sorriu ao lembrar da filha.

— E a guarda?

— Vou lutar por ela, não posso ficar longe de Maria Fernanda, ela é uma metade de mim, se eu luto por algo... é por causa dela.

— Você a ama tanto...

— Sim, ela que me salvou de um abismo, você sabe disso.

— Claro que eu sei, Mafe é seu anjinho.

— E seu amigo?

— Ele está melhor.

— Que bom, espero que ele aprenda a lição e não volte a correr ilegalmente. — Simone deixou o recipiente de vidro na mesa de centro.

— Não sabia que ele fazia essas coisas... foi por necessidade.

— Tem empregos por aí, vagas a serem preenchidas.

— Não é todo mundo que faz um ano de engenharia, e antes de se formar, decidi mudar o curso para medicina, só para desafiar os pais.

— E? — Simone pegou o balde de salgadinho e colocou em seu colo.

— Tem pessoas que não têm as mesmas condições que as suas, não podem simplesmente sair pagando qualquer faculdade para cursar por serem rebeldes.

— Eu cursar medicina não foi um ato de rebeldia. — Tânia parou de beber e arqueou as sobrancelhas na direção da outra. — Talvez seja um pouco, mas sabe que eu sempre sonhei em ser médica.

— Sei sim, você deveria seguir meus passos.

— Que "passos"? — Simone fez aspas com os dedos.

— De não se envolver com ninguém, arrumar um emprego que dê para você viajar três vezes ou mais ao ano.

— Você é bióloga marinha.

— E me orgulho disso, só esse ano... eu visitei o oceano atlântico e cuidei de uma espécie rara de peixe.

— Prefiro meu hospital e traumas. — Tânia riu.

— Você tem vinte e nove anos, passou a parte da vida se dedicando à medicina e a um casamento que agora está fracassado, deveria viver mais.

— Eu já estou vivendo, não sei qual é o problema de trabalhar cem horas por semana...

— O problema é que você não sai para passear, não sai para comer alguma coisa. — Tânia pegou a mão da outra. — Olha isso, parece que você não toma sol a vinte anos.

*

Oi gente, qualquer erro sinalize pra mim. Lembrando que é uma adaptação <3

Moments - AdaptaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora