Capítulo 8

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Seu pai a tomou nos braços e a envolveu em um abraço apertado e acolhedor, era a primeira vez que eles se abraçavam daquela forma, uma das primeiras vezes em que trocavam toques como afeto, embora Morgan não gostasse da sensação de outra pele tocando a sua. Ela sorriu para seu pai o qual a olhava com carinho.

- “ Está cada vez mais parecida com a sua mãe... Ela estaria orgulhosa de você. “ – ela disse, Morgan pegou suas mãos

- “ Ela estaria orgulhosa de nós... “ – ela respondeu. Seu pai sorriu mais uma vez antes de se virar para os convidados e deixar sua filha.
O príncipe Zion foi até a princesa com o seu sorriso mais encantador. De fato, um rapaz muito experiente em cortejar moças.

- “ Vossa Alteza, a senhorita me parece deslumbrante essa noite. “ – ele disse se curvando. Morgan também o fez

- “ Igualmente, Alteza... “ – ela respondeu. Zion de repente estendeu a mão para ela em um convite tentador – “ Me concede esta dança?” – ele perguntou

- “ Seria uma honra” – ela respondeu sorrindo.
Os dois romperam no salão enquanto a música tocava, os pés de Morgan pareciam não ter peso algum ela flutuava enquanto estava nos braços de Zion. O rapaz parecia ter uma grande experiência em danças de salão com damas, ele sorriu para ela.

- “ Você me intriga, Alteza... “ – ele disse de repente encarando os olhos de Morgan, a qual desviou o olhar para seus próprios pés.

- “ Sou uma mulher misteriosa para você?” – ela perguntou sorrindo

- “ Sua vida é um mistério para mim. Como posso saber se você está sendo verdadeira agora? “ – ele perguntou

- “ Como posso saber se está sendo verdadeiro comigo?” – ele arregalou os olhos com a pergunta da princesa – “ Se me cobra veracidade, significa que também está sendo verdadeiro, estou certa?” – ela continuou

- “ Minha vida é um livro aberto, Alteza... Todos conhecem cada passo meu. “ – ele respondeu

- “ É isso que lhe faz um homem indefeso, Príncipe Zion. Permita que as pessoas saibam o seu próximo passo e tenha sua cabeça decepada pelo fio de uma espada de ferro puro. “ – ela brincou fazendo um movimento de corte com uma de suas mãos e riu.. Ele riu

- “ É de fato uma mulher interessante. “ – ele disse enfim. Eles dançavam em completa harmonia, embora o foco de ambos estivesse na conversa que compartilhavam.
Klaus os observava encostado em uma das colunas do palácio, condenado a depositar toda a sua força na proteção da princesa, embora eles não se gostassem. Vê-la com Zion o colocou em posição de insegurança, não era uma sensação confortável ver um príncipe qualquer tocar a princesa daquela forma, a mão dele estava sobre sua cintura e ele a acariciava como se se conhecessem a anos . Zion não era confiável na visão dele.
Após a dança, o baile foi encerrado para os convidados e foi reduzido apenas a família real que estava presente. Zion se despediu de Morgan com um beijo em sua bochecha e um sorriso aconchegante para ela, que retribuiu com carinho. Os convidados se foram e a atmosfera do palácio se fechou, todos os tios, tias e primos de Morgan estavam no palácio, todos vestidos com as roupas da mais alta costura, tendo como líder Liana Valente, sua avó que a olhava com desprezo.  A família foi conduzida até o salão de jantar, se sentaram a mesa que atravessava o salão, várias cadeiras espalhadas. Morgan automaticamente foi até seu pai e se sentou ao lado, ficando de frente para sua avó. Silêncio. O jantar foi servido, e os olhares de desdém de suas primas estavam sobre a princesa e sobre seu pai. Os serventes estavam tensos quando se puseram a servir a avó da família, ela olhava com desprezo para qualquer ser vivo e humano, mas não abaixava a cabeça para Morgan em nenhum momento. Morgan igualmente não desviava o olhar e não se colocava a baixo de sua avó. O silêncio ainda reinava no salão. O barulho dos talheres em atrito com os pratos de vidro, Jhonatan estava em silêncio absoluto, não era possível escutar se quer a sua respiração. Morgan tomou uma taça em suas mãos que possuía suco de uva das próprias plantações do reino.

- “ Quando irá se casar?” – a avó de repente quebrou o silêncio fazendo Morgan tossir ao se engasgar com líquido. Ela olhou para seu pai suplicante.

- “ Não sabemos. Ela ainda não possui um noivo. “ – Morgan voltou seu olhar para o prato

- “ Sabe que não pode demorar a encontrar um pretendente para que ela seja cortejada. Essa menina será a perdição desta família... “ – Liana agora encarava Morgan com mais desdém do que nunca. A princesa levantou o nariz.

- “ Se eu acabar me casando com um homem que não seja capaz de governar tão maravilhosamente quanto eu, não valerá de nada que eu o escolha como cônjuge. Sobre ser a perdição da família, acredito que no fundo de sua alma, sua repulsa em relação a mim é por ter se decepcionado com todas as suas filhas que não souberam cumprir com os planos que a senhora mesma traçou para elas. Não imponha sobre mim suas vontades, não sou como suas filhas. “ – ela respondeu voltando novamente o olhar para seu prato. Seu pai colocou a mão em sua perna como uma forma de fazê-la parar.

- “ Morgan....” – ele sussurrou, sem desviar o olhar para ela.

- “ Imaginei que fosse tão insolente quanto seu pai.” – ela respondeu

- “ É de fato uma mulher amargurada, não? “ – todos suspiraram – “ Não tenho nada que diga respeito ao meu pai em minha personalidade, o que lhe irrita não é o fato da insolência de meu pai, mas o fato de sua filha ter me dado a luz em um casamento que não foi abençoado por suas mãos, e ainda assim foi um casamento tão bem sucedido quanto se você o tivesse aprovado. “ – ela continuou, os suspiros aumentaram.

- “ Como ousa?! “ – Liana bateu os punhos na mesa fazendo os talheres e os pratos balançarem

- “ Já chega, Morgan! “ – o pai disse, ele não parecia enraivecido com Morgan, mas parecia querer evitar as discussões e ofensas.
Todos se silenciaram novamente e passaram a comer mais uma vez.
Liana agora possuía um ar ainda mais superior do que quando ela havia adentrado no salão de jantar, ela agora comia sem retirar seus olhos de Morgan. Era uma das governantes mais antigas, que apesar da idade ser um fator que pesava em seus ombros, não abria mão de seu trono tampouco de sua coroa. Apesar de avançada em idade, mantinha-se sempre muito bem maquiada, sendo isso insuficiente para esconder as marcas de expressão que ela adquiriu durante o tempo, os cabelos grisalhos e ondulados como os de sua mãe sempre presos em um grande coque despojado com alguns fios caídos, mantendo sua coroa de jóias das mais diversas sobre a cabeça que pendia sempre que se esquecia de manter o pescoço erguido. Apesar de todos os filhos presentes, a maioria casada e com idade o suficiente para governar, ela não abria mão de seu trono, não abria mão de seu governo. Os tios e tias de Morgan, irmãos de Katherine, pareciam pessoas completamente infelizes. Todos eles, alguns com filhos que estavam presentes, portavam olheiras profundas abaixo dos olhos, marcas de expressão que mostravam o quão estressados andavam, e feições que não se alteravam. A família em geral parecia acostumada com os gritos e insultos, em viver em um ambiente pesado e desconfortável, conviver com Liana era quase uma sentença de morte por guilhotina. Um dos tios de Morgan era um dos que ela mais simpatizava, príncipe Alexandre Valente, sua filha era um exemplar de princesa, educada, delicada, pré destinada para um noivo e muito bonita, parecia ter herdado da aparência da mãe, com cabelos louros que iam até os ombros, ondulados e elegantes, o rosto era fino e os olhos eram quase brancos de tão claros, era uma verdadeira beldade. Seu nome era Eleanor Valente. A mesma estava sentada algumas cadeiras depois de Morgan, as duas trocaram olhares enquanto comiam e lançaram sorrisos uma para a outra, sempre simpatizaram uma com a outra, desde a infância embora o ambiente familiar que compartilhavam não fosse o mais saudável. Após terminar de comer, Morgan se levantou.

- “ Se me deêm licença, irei me retirar. “ – Morgan disse

- “ Mais correto seria se saísse após a mim. “ – Liana respondeu. A princesa se virou para ela

- “ No reino de Goldenwood não possuímos tradições que nos ditem a ordem em que as pessoas devem sair da mesa de jantar, Majestade. Se estiveres saciado, dessa forma, levante-se e saia. “ – o rosto da avó ficou vermelho como uma rosa dos campos, mas ela não respondeu. – “ Eleanor, querida, gostaria de me acompanhar? Adoraria poder conversar com você após todos esses anos. “ – ela disse se virando para sua prima, a qual sorriu alegremente e assentiu.
Eleanor entrelaçou um dos braços no de Morgan e as duas partiram para o jardim do palácio, onde se sentaram em um pequeno banco de madeira. As primas se abraçaram e sorriram.

- “ Senti tanto sua falta, Morgan! Mal podia esperar para poder vê-la ser coroada esta noite. Aliás, feliz aniversário! “ – Eleanor disse passando as mãos pelos cabelos de Morgan.

- “ Eu também senti muito a sua falta! Diga-me, como passou durante todos esses anos? “ – a princesa perguntou 

- “ Ah... de fato não muito diferente do que os outros anos. Você compreende, vovó está sempre mal humorada, ela transforma aquele palácio em uma prisão insuportável. Além do mais, ela se recusa a abdicar o trono mesmo não estando mais apta para governar MoonVille, nossos tios andam discutindo uma forma de retirá-la do trono, ou convencê-la a descer” – Morgan respirou fundo. Não poderia imaginar tudo o que sua prima deveria passar nas mãos de Liana.

- “ Acredito que ela não abra mão do trono somente pela sensação desconfortável que é perder o poder. Nossa avó não é uma das melhores pessoas que já existiram, para ela, riquezas e o bem estar pessoal é a única coisa que importa. “ – de repente o rosto de Eleanor escureceu

- “ Preciso lhe contar algo... “ – ela disse

- “ Conte-me. “ – Morgan  respondeu olhando preocupada para sua prima

- “ Tenho me encontrado com um camponês do Reino. “ – Morgan arregalou os olhos e pegou as mãos de sua prima olhando ao redor

- “ Você enlouqueceu? Não está prometida a um príncipe?! “ – Morgan sussurrou

- “ Estou, mas ele é simplesmente repulsivo e rude. É um rapaz soberbo que só sabe falar de si mesmo! Entendo que não há amor para os membros da corte, mas eu queria me apaixonar Morgan. Me apaixonar como seus pais... “ – ela disse. Eleanor parecia tão sincera em suas palavras que o coração de Morgan doeu ao pensar no quanto ela estava sofrendo

- “ Como se chama o rapaz?” – Morgan perguntou

- “ Klaus... Klaus Lancaster. “ – o coração de Morgan tombou.
Sua prima estava se encontrando as escondidas com um servente da coroa de seu pai, Klaus estava se relacionando com Eleanor pelas costas de uma das rainhas mais cruéis que toda a região já havia visto. O olhar de Morgan perdeu o foco enquanto ela processava as palavras de sua prima. Ela pareceu perceber a confusão no olhar de Morgan, pois logo a princesa sentiu um aperto em suas mãos o que a fez olhar para o rosto de sua prima novamente.

- “ Certo... Está tudo bem, nós podemos resolver isso com o tempo! Só cuide para que Liana não descubra isso. Você precisa ser cautelosa em suas ações, sabe que ela nunca aprovaria um casamento entre uma nobre e um camponês. “- Morgan disse, ainda sem saber exatamente se havia ouvido corretamente.

- “ Eu sei disso, prima! Se eu não soubesse não estaria lhe contando e suplicando que me ajudasse! Da última vez que uma de nossas primas se relacionou fora do comprometimento com seu prometido, o camponês foi sacrificado, condenado a morte por guilhotina... “ – Eleanor baixou o olhar. E Morgan apertou ainda mais as mãos de sua prima.
Ela tinha consciência da maldade do coração de sua avó, mas não achou que ela fosse tão miserável, a ponto de tirar a vida de uma pessoa pelos erros de outra. Aquela família estava cada vez mais decadente...

- “ Escute, Eleanor... Não permita nunca que vocês sejam vistos juntos! Aguarde antes que assuma para Deus e o mundo que vocês estão em um relacionamento, espere até que... até que arrumemos uma solução para isto. Alguém mais sabe de vocês dois?” – ela perguntou

- “ Nossa prima Amélia... Ela sabe . “ – Amélia?
Amélia era a prima mais velha entre as primas da família Valente. Uma mulher de 25 anos de idade, casada e extremamente inconsequente. Amélia era a cópia exata de Liana, cruel, rude e fria. Não era nem um pouco viável que um segredo como o que Eleanor escondia fosse compartilhado com a segunda pessoa mais terrível da família.

- “ Amélia... “ – Morgan disse fazendo uma careta

- “ Eu sei... Eu também não queria que ela soubesse, mas ela foi uma das pessoas que me descobriu com o Klaus no estábulo do palácio. Ela ameaçou contar a nossa avó, eu prometi a ela que faria o que ela quisesse então... “ – Eleanor fez uma pausa. Morgan arqueou as sobrancelhas para ela. – “ Ela me pediu que eu a deixasse usar meus vestidos de alta costura. “- Morgan revirou os olhos com tanta força que eles pareciam querer sair de sua cabeça. Amélia, tão superficial...

- “ De qualquer forma, tente não irritar a Amélia e por favor, não permita que ninguém saiba disto!” – Morgan respondeu

- “ Não irei, lhe prometo! “ – Eleanor respondeu. Morgan abandonou a feição madura e séria e sorriu para sua prima a envolvendo em um abraço novamente.

- “ Não me lembro de um dia ter sido tão carinhosa, Morgan... “ – Eleanor riu. Morgan retribuiu

- “ A vida é um grande aprendizado, correto? Podemos aprender a amar.” – ela passou a mão pelo rosto delicado de Eleanor.
Ellie era como uma irmã mais nova para ela, queria poder protegê-la a todo custo e daquela vez não era diferente. Embora não culpasse Eleanor pela escolha que fez, não confiava em Klaus o suficiente para acreditar que ele a amava de verdade, muito menos que seria discreto como ela gostaria que fosse. Ela falaria com ele, ou o ameaçaria se fosse necessário.

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