1 - Ei, Scar

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I

— A senhora é Scarlett Gaunt, do Largo Grimmauld número 12, Borough of Islington, Londres, Inglaterra?

A pergunta rebateu em sua mente uma centena de vezes.

O rosto do Chefe do Departamento de Leis e Execução da Magia estava borrado, assim como todos os bruxos usando vestes cor de ameixa na arquibancada em volta dele.

Scarlett Gaunt? Era esse o seu nome?

Os sons eram dissonantes, murmúrios e conversas paralelas que faziam seus tímpanos arderem. Suas bochechas estavam úmidas e o antebraço queimava. Sob as correntes, a Marca Negra brilhava em sua pele como ferro em brasa, fazendo-a trincar os dentes em agonia. Comprimiu os olhos, sibilando ao soltar o ar dos pulmões

— Sim. — Ouviu-se dizer, a voz desvanecendo-se nos sussurros que prosseguiram sua resposta.

— Você está sendo acusada pelo assassinato de Angus McKinnon, Elspeth McKinnon, Maurice McKinnon, Angelina McKinnon e Marlene McKinnon. — A voz feminina reverberava em sua mente de maneira irritante. Scarlett puxou o braço das correntes, a dor tornando-se cada vez mais insuportável. — Todos com uma Maldição da Morte. Admite que praticou esses crimes?

Scarlett comprimiu os olhos e balançou a cabeça.

Frio frio frio frio frio.

Estava frio. Muito frio.

Havia um peso em seu ombro. Não sabia dizer se era uma mão ou a tensão que endureceu seus músculos. Mergulhou na escuridão à sua frente, onde apenas uma luz fraca invadia a janela entreaberta, lançando sombras ominosas nas paredes. A atmosfera estava impregnada de medo, enquanto seu olhar escorregava pela penumbra e pousava na presença escondida no local.

Numa tentativa falha de se esconder no canto do quarto, a garota estava encolhida. Os olhos, arregalados. As mãos, trêmulas, dispostas na frente do corpo, como se isso fosse protegê-la de algo. Seu corpo estava levemente encurvado, tentando se tornar imperceptível.

Deu um passo hesitante na direção dela.

— Mate-a. — Uma voz sussurrou em seu ouvido.

— N-Não, por favor... você não é capaz de fazer isso. Você... você não é esse monstro... — A garota se inclinou o suficiente para que a luz da janela incidisse sobre seu rosto. Marlene McKinnon. Marlene. Marl. Ouviu as vozes de seus amigos, quando as duas foram apresentadas, anos atrás. — Como você pôde... é por isso que eles estão aqui, não é!? Foi você...

— Mate-a. — A voz voltou a soar. O corpo de Scarlett retesou.

Sua mão estremeceu ao apontar a varinha para Marlene.

— Scarlett... — Ela sussurrou, como se falar o seu nome fosse impedi-la do que estava prestes a fazer. — Não faça isso.

— Avada Kedavra. — Seus lábios a amaldiçoaram e a escuridão do quarto foi cortada pela luz iridescente, o clarão verde arrancou a vida de Marlene em um arroubo.

— Admite que praticou esses crimes? — A voz masculina a afastou daquele devaneio.

Não era apenas a Marca Negra incandescendo em seu antebraço, mas também os nomes daqueles que ela matou, infundindo-se em sua pele em uma mancha impermeável. Scarlett focou em respirar, tentando encarar o júri, mas sua visão estava turva. Ela estava exausta. Podia sentir o sangue se acumulando no assento da cadeira.

— S-Sim. — Confirmou, engolindo em seco.

As vozes de julgamento voltaram a ecoar e as correntes afrouxaram-lhe os braços, aurores forçaram-na a se levantar. Ela fez uma careta, contraindo os lábios e cerrando os punhos para se manter em pé. Era doloroso e cansativo demais. No primeiro passo que deu, virou o rosto de imediato para trás, como se um fio invisível a tivesse puxado violentamente, obrigando-a a olhar por cima do ombro.

Scarius | Sirius Black (Ato I)Onde histórias criam vida. Descubra agora