30 - Your lips move but I can't hear what you're saying

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— Se nós atrairmos os dementadores para longe, ela pode... ela pode ir até a praia e...

— E nadar até a costa?

— Exato!

— Essa é a ideia mais estúpida que eu já ouvi.

Houve um suspiro alto.

— Você não está ajudando!

— Eu não quero ajudar. Estou aqui há três anos com a Scarlett, acha que eu já não pensei nisso? Estamos no outono e logo chegará o inverno, se ela cair no mar vai morrer congelada. Isso só seria possível no verão e, mesmo assim, olha para ela, Potter.

— Eu... e-eu sei, mas ela não está sozinha. — James murmurou.

— Ela está sozinha. Nós já discutimos isso. Não piore as coisas.

— Será que dá para vocês dois calarem a boca? Eu realmente estou tentando dormir. — Scarlett respirou fundo, esfregando as mãos no rosto com raiva, antes de olhar para eles.

Regulus estava encostado na parede ao lado das grades e as pernas de James pendiam da beliche de cima. Eles emitiam a única iluminação daquela noite fria e umbrosa de outono, brilhando nas paredes de pedra escura de maneira fúnebre.

— Foi mal. — James murmurou, virando de cabeça para baixo. O óculos dele caiu no chão, sem produzir som com a queda.

Scarlett encarou o objeto cintilante, esticando a mão até ele, os dedos atravessando-o e o brilho pálido brincando na palma de sua mão. Ela sorriu, o coração aquecendo-se perigosamente naquela noite. James desceu do beliche em um pulo, pousando em sua frente e abaixando-se para pegar os óculos.

Ele olhou para seu antebraço. Scarlett também, puxando devagarzinho a manga do pijama listrado, revelando a pele alva coberta pela Marca Negra. Estava desbotada, enfraquecida. Scarlett percorreu o crânio e a serpente com a ponta dos dedos, sentindo a leve latejação da própria tez. Regulus fez o mesmo, puxando a manga da camisa e da casaca, unindo as sobrancelhas levemente.

— Está ficando mais apagada a cada dia. — Regulus murmurou, erguendo o olhar para ela. Scarlett sentiu o coração acelerar, porque por um segundo ele pareceu muito com Sirius.

E cacete, como isso doía.

— Ouvi Cecily Lee comentando esses dias que Você-Sabe-Quem tinha sido derrotado. — James murmurou, sentando-se na frente de Scarlett. — Eu não tinha juntado os pontos antes, mas... — Ele comprimiu os olhos e os lábios, como se tentasse segurar o choro. — Houve... houve uma profecia dizendo que uma criança nascida no final do mês de Julho venceria Você-Sabe-Quem. E então... — James abriu os olhos devagar, ajustando as mãos no peito como se segurasse um bebê no colo. — Dumbledore nos avisou e nós nos escondemos com um Fidelius. Rabicho nos traiu. — Ele engoliu em seco, passando os dedos debaixo das lentes para aparar as lágrimas. — Cecily disse que uma criança derrotou... Voldemort. — Ele hesitou em dizer aquele nome amaldiçoado. — Quando eu... quando eu morri, eu lembro de ter encontrado a Lily. Mas não o Harry. Você... será... — Ele afundou o rosto nas mãos.

Scarlett estendeu os dedos na direção dele, instintivamente. Queria tanto poder abraçar o amigo naquele momento e era tão doloroso saber que era impossível. Que seus dois melhores amigos estavam mortos e não havia nada que ela pudesse fazer além de apodrecer na presença deles.

— Ele não foi derrotado. — Regulus comentou, entediado ao virar o rosto para a cela. — Ainda mais por uma criança? Impossível.

Scarlett lhe lançou um olhar que o mandou calar a boca.

Scarius | Sirius Black (Ato I)Onde histórias criam vida. Descubra agora