53 - Eu sou seu e você é minha

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LIII


Sirius não voltou naquela noite. Quando Scarlett acordou no dia seguinte, os olhos ardendo e o nariz entupido, tudo o que encontrou foi uma pequena nota rabiscada, alegando que ele foi ajudar Remus com alguns problemas e retornaria na véspera de natal.

Foi difícil ignorar os olhares curiosos de seus pais quando Sirius não apareceu, mais complicado ainda se forçar a agir normal ao explicar onde ele estava.

Então, Scarlett aproveitou o tempo sozinha para tocar piano. Tentando ignorar a discussão que tiveram, as mágoas despertadas e o incômodo que retumbava em seu peito. Não sabia o que fazer, tampouco o que dizer. Deveria enviar uma carta a ele? Um pedido de desculpas? Dizer que sentia falta dele?

Ela mal passou um dia longe e já sentia saudades. Sirius era uma droga — ficar tempo demais longe tinha o mesmo efeito de cavar um buraco em seu peito. Ele era como o sol: exultante, cálido e espalhafatoso. Iluminava qualquer ocasião e lugar, fazia-a sorrir e sentir-se uma tola. A irritava e a beijava, apertava e provocava.

Era estranho não tê-lo ali. Como se Scarlett estivesse esquecendo algo muito importante. Sem ele, Scarlett precisava suportar a própria companhia silenciosa. Os próprios pensamentos desordenados, a estranha sensação de solidão enveredando-a num caminho que ela não gostava de seguir.

Suas mãos moviam-se como se tivessem vida própria, pressionando as teclas em uma destreza compelida de delicadeza. Vagou entre as introduções de Pink Floyd e os solos de Queen; as sonatas harmônicas de Vivaldi aos arpejos de David Bowie.

— Scarlett! — James a chamou, da porta de sua casa. Scar esticou o pescoço, olhando-o com uma sobrancelha levantada, sem parar de tocar. — Loja de música. Agora. Vamo! — Ele gesticulou para que ela se levantasse.

Scarlett suspirou. Não é que ela não quisesse sair com James. Era mais porque estava tão concentrada no piano que a quebra dessa concentração a deixou um pouco estarrecida. Estendeu os dedos em cima das teclas, encarando-os como se esperasse que suas mãos começassem a tremer.

Não tremeram.

Ela deixou o piano, pegou seu sobretudo vermelho e exibiu um sorrisinho para James. Ele já usava roupas adequadas para o frio do lado de fora — um sobretudo acolchoado marrom, cachecol vinho e luvas escuras. Havia uma animação no olhar dele, uma que Scarlett forçou-se a compartilhar. Também havia uma pitada de preocupação, o que fez com que seu coração acelerar no peito.

— Loja de música? — Ela perguntou, enfiando o rosto no cachecol quando eles saíram da casa. James abaixou a cabeça, a neve caía preguiçosamente do céu.

— É, abriu uma nova na Piccadilly. — Ele colocou uma touca nos cabelos bagunçados. — Eu estava pensando... em comprar uma guitarra.

— Uma guitarra? Não sabia que você tocava. — Scar esfregou as mãos, semicerrando os olhos. O vento além de gelado, estava seco.

— Eu tenho um violão... tocava quando era mais novo. Meu pai fez aulas com um trouxa só para me ensinar! Quem sabe é o Remus... ele tem um baixo na casa dele.

— Ah, massa. — Scar contraiu os lábios. — Quer montar uma banda, então?

— Sim, eu até pensei no nome: SSJRP. — Ele gesticulou.

— Ou os Marotos e a incrível Scarlett Gaunt. — Scar gargalhou da própria ideia. — Scarlett Gaunt's RAINBOW.

— Pf, não. Horrível! — James parou na frente da lareira de pó de flu, enchendo a mão. — E é injusto o seu nome com Rainbow, você não chega nem perto do Blackmore!

Scarius | Sirius Black (Ato I)Onde histórias criam vida. Descubra agora