65 - O amor vem para todo mundo, até para quem não o merece

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LXV


O vento rugiu e Regulus fechou os olhos como se pudesse sentir a brisa primaveril em suas bochechas. Tentando recordar-se do cheiro das flores ou do calor do sol. Mas era difícil. Conseguia lembrar com facilidade das memórias que povoavam sua mente, no entanto... as sensações físicas lhe eram... distantes.

Não sabia o que era um toque, um afago, um arranhão. E isso o incomodava profundamente.

Regulus virou o rosto para Lily, sentada na pedra mais alta ao seu lado, folheando seu caderno e olhando para a porção mais próxima de terra de Azkaban.

— Você acha que ela já consegue fugir? — Lily cortou o silêncio, passando a mão nos cabelos ruivos e translúcidos. Elevando o olhar até ele.

Lily Evans... quer dizer, Lily Potter tinha os olhos de um verde intenso e vívido, sem qualquer toque de castanho e o lembrava de esmeraldas. Sua mãe, Walburga, possuía um colar que ele sempre achara medonho e sem graça, mesmo possuindo uma quantidade exagerada de pedras verdes.

Os olhos de Lily eram tão marcantes que sobressaiam até mesmo daquelas pedrarias que deviam custar uma fortuna. Não só pela cor, mas pela estranha sensação que ela lhe causava, algo que o fazia se sentir um monstro. Era como se acordasse todas as suas qualidades e adormecesse seus defeitos — forçando seu lado bom a florescer mesmo quando ele não queria.

Ah, Regulus odiava a presença sóbria de Lily. Lembrava-o de seus crimes, de seus erros e de suas renúncias. E eram muitas, grudadas em sua alma, pesando seu âmago. Por algum motivo, sentia vontade de contar a ela sobre tudo o que verdadeiramente aconteceu.

Porém, para que fizesse isso, ele teria que revelar o que fez. E Regulus já havia se humilhado o suficiente para que Scarlett o libertasse, não queria sofrer outro colapso como aquele.

— Cinco quilômetros. — Lily disse, apoiando os braços em cima de seu caderno. — É a distância de Azkaban para a faixa de terra mais próxima. Isso equivale a muito tempo a nado.

— Ela está machucada demais... para conseguir... — Regulus sussurrou, desviando o olhar para o horizonte. Ser observado por Lily o deixava desconcertado.

— Eu sei, por isso que precisamos convencê-la de fazer isso com o Sirius. — Suspirou Lily, jogando os cabelos para trás do ombro. — Acho que eles conseguem na forma de animago.

— Ela não consegue se transformar. — Regulus mordeu o lábio inferior. — Como...

— Você vai ajudá-la nisso. — Lily o interrompeu, com uma confiança que o irritou.

— Não concordei em ajudá-la. — Ele exibiu uma postura defensiva. — E mesmo se ela se transformar... vai ser um gato, não vai conseguir nadar tudo isso...

— É isso ou morrer. — Lily comentou aquilo com uma calma exasperante. Regulus arqueou uma sobrancelha.

— É idiotice, Evans. Ela vai morrer. — Regulus sibilou. — E antes que você diga algo, eu morri afogado, sei como é. Não quero que a Scarlett passe pelo mesmo.

Lily piscou, lambendo os lábios ao escolher o que diria a seguir. Não esperava aquela resposta de Regulus. Ele não gostava de falar da forma em que morreu.

— Ela é naturalmente mais resistente por causa do Sinete. Ela consegue. — Lily voltou sua atenção para o céu. O sol brilhava com força, refletindo-se no Mar do Norte com intensidade. — Eles seguem ao sul e...

Supondo que eles consigam fugir... — Regulus passou a mão nos cabelos. — ... e depois? Eles vão viver fugindo?!

— Sirius prova a inocência dele. — Lily replicou, como se fosse óbvio. — E a Scarlett... que foi por causa do Orfy.

Scarius | Sirius Black (Ato I)Onde histórias criam vida. Descubra agora