7 - Ele armou para mim, Moody!

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VII


Scarlett Gaunt foi uma das primeiras Comensais da Morte capturada pelos aurores na Primeira Guerra Bruxa. Seu rosto saiu na capa do "Profeta Diário", com Frank e Alice Longbottom ao fundo. Ela tinha a mesma expressão ao ser acorrentada pela cadeira do Décimo Tribunal. Na arquibancada à sua frente, uma centena de bruxos usando vestes cor de ameixa ofuscavam sua visão.

Os sons eram dissonantes, murmúrios e conversas paralelas que faziam seus tímpanos arderem. Suas bochechas estavam úmidas e o antebraço queimava. Sob as correntes, a Marca Negra brilhava em sua pele como ferro em brasa, fazendo-a trincar os dentes em agonia. Comprimiu os olhos, sibilando ao soltar o ar dos pulmões. Nomes apareciam logo acima da caveira com a serpente, nomes que Scarlett não ousava ler. Não era como se precisasse.

— A senhora é Scarlett Gaunt, do Largo Grimmauld número 12, Borough of Islington, Londres, Inglaterra?

— Sim. — Ouviu-se dizer, a voz desvanecendo-se nos sussurros que prosseguiram sua resposta.

— Você está sendo acusada pelo assassinato de Angus McKinnon, Elspeth McKinnon, Maurice McKinnon, Angelina McKinnon e Marlene McKinnon. — A voz feminina reverberava em sua mente de maneira irritante. Scarlett puxou o braço das correntes, a dor cada vez tornando-se mais insuportável. — Todos com uma Maldição da Morte. Admite que praticou esses crimes?

Não era apenas a Marca Negra incandescendo em seu antebraço, mas também os nomes daqueles que ela matou, infundindo-se em sua pele em uma mancha impermeável. Scarlett focou em respirar, tentando encarar o júri, mas sua visão estava turva. Ela estava exausta. Podia sentir o sangue se acumulando no assento da cadeira.

— S-Sim. — Confirmou, engolindo em seco.

As vozes tornaram-se a ecoar e Scarlett sentiu as correntes afrouxando-lhe o braço, aurores forçando-a a se levantar. Ela fez uma careta, contraindo os lábios e cerrando os punhos para se manter em pé. Era doloroso e cansativo demais. No primeiro passo que deu, virou o rosto imediatamente para trás, como se um fio invisível a tivesse puxado violentamente, obrigando-a a olhar por cima do ombro.

Um chamado inevitável. Uma força incontrolável.

No meio das centenas de pessoas atrás dela, Scarlett viu aquele par de olhos cinzentos que tanto lhe lembrava as estrelas. Ela puxou o ar profundamente, abrindo a boca para gritar a ele a verdade, que não havia conseguido. Para dizer a ele sobre Regulus. Mas havia ódio permeando aquele olhar. Ódio, desprezo e nojo. Uma pitada de incredulidade também. As palavras engasgaram em sua garganta.

Foi a última vez que Scarlett Gaunt viu Sirius Black.

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Scarlett não conseguiu dormir. Havia uma excitação vibrando no seu interior, uma que ela não sentia há muito tempo. Desde que havia saído da Suíça. Desde que...

Bem, desde que ela foi expulsa de Durmstrang.

Quando as primeiras luzes da manhã invadiram seu quarto e ela desistiu de dormir, tomou um longo banho e caminhou na ponta dos pés para as escadas. Não queria arriscar acordar seus pais ou seu irmão, só queria comer alguma coisa. No entanto, parou de andar assim que ouviu sussurros da porta do quarto de seus progenitores, congelando.

Sabia que era errado bisbilhotar, mas quando percebeu, já estava com o ouvido na porta.

— Não é seguro, meu amor. — Era a voz de seu pai, carregada de preocupação. — Usar o seu Sinete na guerra...

Scarius | Sirius Black (Ato I)Onde histórias criam vida. Descubra agora