31 - Eu quase matei ele

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XXXI


Sirius moveu a varinha e o relógio emitiu um clique, a porta abrindo-se em um rangido. Ele olhou para os lados e entrou, deparando-se com uma escadaria escura. Apoiou-se na parede e usou Lumos para enxergar, descendo com cuidado.

Segurou no portão vazado do lugar, empurrando-o para frente e para os lados, até perceber que tinha que impulsioná-lo para cima como os portões dos castelos. Sirius bateu em um estrondo e os castiçais se acenderam assim que ele pisou dentro daquela estranha galeria, onde Scarlett tinha transformado em um espaço tão pessoal.

Apertou as mãos, sentindo-se um invasor, mas a curiosidade era muito maior do que isso. O walkman na cama chamou sua atenção e ele sorriu ao erguer uma sobrancelha, perguntando-se se estava funcionando.

Pegou-o com cuidado e colocou os fones de ouvido, apertando play na fita do Rainbow. E sim, funcionava, a voz de Dio o deixando imerso na música animada por alguns segundos, antes dele voltar a explorar.

Perscrutou a estante repleta de livros, artefatos e uma série de fotografias. Uma em particular chamou sua atenção: Morfeu em pé, com a mão nos ombros de Nyx que segurava duas garotinhas. Scarlett era a de cabelos escuros, com o dedo na boca. Ao lado dela, uma menininha de cachos loiros sorria largamente para a foto e, embaixo, havia uma nota indicando: Aniversário de três anos de Scarlett e Violett, 21 de Dezembro de 1962.

Sirius encarou a imagem por um bom tempo, perdido nos acordes de Blackmore. Remus estava certo, ela tinha uma irmã. Uma irmã gêmea. Sentiu-se tropeçando numa pedra do passado de Scarlett, passado esse que ela nunca tinha compartilhado com ele.

Ele removeu os fones de ouvido e devolveu o walkman exatamente onde encontrara, o coração pesando em algo que ele não conseguia identificar. Talvez fosse a revelação de que ainda havia camadas de Scarlett que ele não conhecia. Colocou as mãos nos bolsos, evitando tocar nas coisas, sem antes perceber alguns fiapos de lã debaixo do cobertor. Obrigou-se a puxar devagarinho aqueles fios, até perceber seu cachecol da Grifinória ali.

Sirius piscou algumas vezes, lembrando-se de tê-lo deixado cair na discussão acalorada entre ele, Scar e Regulus. Empurrou-o de volta, percorrendo uma mesa cheia de livros e pergaminhos abertos, um armário com poções e, mais atrás, uma penseira e um tríptico.

Estava decidido a não olhar a penseira, hesitando bastante quando encarou o líquido prateado. Mas era mais forte que ele. Mergulhou o rosto ali de uma vez.

A cena que se desenrolou diante dele foi um como um sonho bastante esquisito. Assistiu, fascinado e confuso, um casal na fresta da porta do quarto deles. A mulher era loira e tinha um olho de cada cor: um vermelho e um cinza. O homem era alto, sardento e forte.

Sirius não fazia ideia de quem eles eram.

— Eles são muito novos. — A mulher disse, de braços cruzados e trajando o tipo de roupa que sua mãe usava. — Eles não podem...

— Eles precisam saber, Melanie. — O homem a cortou, segurando os cotovelos dela. — Quanto mais cedo souberem...

— Sebastian, não. — Melanie murmurou num tom incisivo. Sirius notou que ela tinha uma marca na mão, parecida com a de Scarlett.

— Eles têm o direito de saber! E se eles acabarem usando a Maldição da Morte? Não vão saber lidar com o Sinete! — Sebastian abaixou o tom de voz, passando a mão nos cabelos bagunçados. — E Hogwarts...

— Eles vão usar a luva de metal de duende sempre. — Melanie suspirou. — E não é como se eles soubessem as Imperdoáveis... a não ser... — Ela ficou de costas para a porta, levantando o rosto. — A não ser que você os tenha ensinado.

Scarius | Sirius Black (Ato I)Onde histórias criam vida. Descubra agora