4 - Come on your painter, you piper, you prisioner, and shine!

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IV


Scarlett não queria acordar, sabendo do sermão interminável que ouviria de seus pais pela sua escapada noturna. Antes mesmo que conseguisse se levantar, a porta de seu quarto foi brutalmente aberta em um estrondo, fazendo-a saltar no susto.

Nyx Sallow usava roupas impecavelmente formais, uma longa saia escura e uma camiseta branca de gola alta, com um camafeu no pescoço. Era como se ela acabasse de sair do século passado. Ela era uma mulher bonita, muito bonita, de longos cabelos castanhos ondulados e olhos castanhos-avermelhados penetrantes. Ela parecia estar no início dos seus vinte anos, ao contrário dos quarenta que realmente tinha.

— O seu pai acabou de me contar da sua pequena... aventura. Quantas vezes... — Ela comprimiu os olhos, mordendo o lábio inferior, como se tentasse se conter. Não conseguiu. — Quantas vezes eu vou precisar falar para você parar com isso, Scarlett? Você não já causou danos o suficiente para essa família com a sua teimosia? Qual o seu problema? É tão difícil assim nos obedecer? — A cada palavra, ela aumentava o tom de voz.

Scar encarou o Sinete na mão esquerda, esfregando o Ouroboros com o polegar. A marca era tão escura como uma tatuagem, uma serpente mordendo o próprio rabo em um círculo.

— Você não tem respeito por todos os esforços que seus trisavós tiveram para proteger a nossa família? Você sabe muito bem que estão atrás dos nossos Sinetes... você não pode sair sozinha, e nem vai mais, porque está de castigo o resto do verão! Já não basta ter sido expulsa, agora você me apronta essa? Você tem sorte que Hogwarts te aceitou, quando todas as outras te negaram! Você tem dezesseis anos, Scarlett. Está na hora de crescer. Assuma as suas responsabilidades!

Scar esfregou os olhos, contraindo os músculos do maxilar com tanta força que seus dentes doeram. Cerrou os punhos, seu pescoço estava tão tenso que estava difícil de respirar. Segurou qualquer vontade de chorar que tinha, evitando olhar para a mãe. Porque sabia que, se a olhasse, ia queimar e explodir tão rápido quanto fogo em rastilho de pólvora. Fincou as unhas na palma da mão, engolindo em seco.

— Francamente, Scarlett! Foi sozinha buscar essa fita dessa banda trouxa idiota! Eu devia ter te proibido de ouvir música também, essas... bandas enchem sua cabeça de caraminholas trouxas! Agora, você só sai dessa casa acompanhada por alguém. Isso, se você sair. Está me ouvindo?

— Sim...

— O quê? Fala mais alto! — Nyx estava na sua frente da cama, ficando na frente da claridade que entrava pela janela, tornando-se apenas uma silhueta escura ofuscada pela luz.

— Sim, senhora. — Obedeceu, ainda sem encará-la.

— Ótimo. — Sua mãe estava ofegante. — Agora, se arruma e desce porque você vai ficar na casa dos Potter enquanto eu e o seu pai vamos até o Ministério.

E, finalmente, o sermão acabou. Ouviu, atordoada, os passos de sua mãe descendo as escadas. Se jogou na cama, encarando o teto branco do quarto, onde o ventilador estava parado. Virou o rosto para o travesseiro, encheu os pulmões de ar e gritou o mais alto e forte que pôde, sua fúria e ira sendo aparadas pelo enchimento fofo.

A vontade de chorar retornou e Scarlett afugentou-a tão rápido quanto levantou da cama, com a cabeça doendo. Não sabia se era por causa do sermão interminável da mãe ou pela queixada que Sirius lhe deu acidentalmente no Nôitibus Andante.

De qualquer forma, ela se enfiou no banho. Era verão, mas Scarlett estava acostumada a tomar banhos quentes, de modo que a temperatura deixou o banheiro inteiro embaçado. Ao sair, encarou o espelho turvo, refletindo apenas uma imagem confusa de si mesma.

Scarius | Sirius Black (Ato I)Onde histórias criam vida. Descubra agora