22 - Ele só vai te machucar

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XXII


Sirius fez menção de se aproximar, no entanto, Scarlett levantou a cabeça do piano ao pressentir sua presença.

Não... não foi a presença dele.

Do outro lado da sala, Regulus emergiu da escuridão como se fosse um espectro. A luz do lustre de velas incendiou os olhos cinzentos, mirados em Scarlett. Sirius se manteve imóvel, cada músculo de seu corpo se retesando.

— Por que você não esteve no seu dormitório essa noite? — Regulus questionou, seco.

Scarlett parou de tocar, repousando os braços nas pernas.

— Porque colocaram uma cobra na minha cama... com um bilhetinho me chamando de mestiça. — Havia ira em sua voz. Um tipo de ira que Sirius compartilhava, porém não pelo mesmo motivo. — Eu fui picada pela cobra.

— Me falaram que você mandou a cobra atacar as garotas...

— Eu falei para ela que não fui eu quem a tirou da floresta e... — Scarlett o interrompeu, apenas para ser cortada por ele.

— Então é verdade? Você fala com as cobras?

A luz brilhava no rosto pálido de Scarlett e Sirius viu a sombra dos músculos do rosto dela ficando tensos.

— Eu fiz o antídoto à noite e acabei dormindo... levei a cobra de volta à floresta quando amanheceu. — Ela desconsiderou a pergunta.

— Você fez o antídoto sob os efeitos da picada? — Regulus não escondeu o quanto ficou impressionado em sua entonação. — Como você ainda está viva?

— Eu posso trocar de quarto?

— Se alguém quiser trocar com você... o que é muito improvável... sim. — Regulus se apoiou no corpo do piano. — Como você não estava lá de manhã, eu não tive oportunidade de te explicar as regras do castelo. Não é permitido que você perambule por aí depois do toque de recolher, ações que vão contra as regras de Hogwarts são passíveis de punição, como perder pontos da Casa e detenção. À noite os monitores fazem rondas na escola e se você for pega... eu não quero que a Sonserina perca pontos por sua má conduta.

Scarlett expirou com força.

— Já entendi. Mais alguma coisa, Reggie? — Ela não economizou na ironia ao mencionar o apelido dele.

— Não me chame de Reggie. — Ele cuspiu as palavras.

— Do que eu te chamo, então? — Scarlett não quebrou o contato visual, encarando seu irmão com frieza.

— Black. — Ele rebateu com estupidez.

— Black é o seu irmão. — Scarlett sorriu, impetuosa. Sirius também sorriu. — Vou te chamar de Red, então. Preto e vermelho. — Ela voltou a dedilhar as notas agudas do piano. — Mais alguma coisa, Red?

Sirius não se recordava de ver Regulus demonstrando muitos sentimentos. No entanto, naquele momento, tantos se passaram por sua expressão que ele ficou um pouco aturdido. Viu surpresa, orgulho ferido, soberba. Um pouco de raiva também. Reggie se aprumou quando estreitou o olhar. Então, aos poucos, ele foi suavizando a linguagem corporal, soltando o ar dos pulmões. O ferro de seus olhos derreteu, derreteu e esfriou, esfriou e vaporizou.

Regulus não era mais uma decoração como ele sempre agia ser, agora ele era o garoto alegre e afetuoso que Sirius amou; o garoto que parecia ter morrido anos atrás. Não. Ainda estava ali, mesmo que enterrado e sufocado... mas ainda estava ali. Sirius pisou em falso, fazendo barulho e atraindo a atenção deles.

Scarius | Sirius Black (Ato I)Onde histórias criam vida. Descubra agora