Cap 11

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Trauma Relembrado

Fico olhando para Kyle, buscando traços de mentira em seu rosto. Ele endoidou?

— Sangue do Silêncio? Que porra é essa, Kyle? Você está brincando com a minha cara?

— Não, não mesmo. — Ele segue para um canto do quarto e pega um livro que parece muito antigo e começa a folhá-lo.

Meus olhos não desviam nem por um segundo sequer do livro, acompanhando os movimentos de Kyle.
Ele para em uma página específica e vira o livro em minha direção. Ergo as sobrancelhas, tentando saber o que isso significa.

— A oitocentos anos atrás, houve uma revolta que matou milhares de pessoas por todo o país. Uma guerra. — Ele começa a ler, e eu escuto com atenção. — No meio da guerra, perceberam que as pessoas estavam morrendo de um modo totalmente diferente. Eletrics estavam secando até a morte e, quando os checavam, eles não tinham nem sequer um pingo do seu poder. Eles morriam de dentro para fora. Apagados do mundo.

Começo a ficar inquieta na cama.

— Na época, perceberam que oitenta por cento das mortes era deste modo. As pessoas morrendo estranhamente. Órgãos parando de funcionar, poderes sumindo e por aí vai.— Ele me lança um olhar hesitante, para depois voltar ao livro. — E foi por conta disso que perceberam que o assassino tinha um poder totalmente novo. Um poder que seria o principal responsável pelas mortes constantes da guerra. Um poder mortal e silenciador. Um poder vindo do sangue, nascido com ele. E logo, foi apelidado de Sangue do Silêncio.

Arregalo os olhos. Eu tenho esse... Sangue?
Isso realmente está escrito no livro? Como eu nunca ouvi falar sobre essa história?

— Todos temiam o homem que carregava este sangue consigo. Ninguém ousava o derrubar. Ele era praticamente "invencível". Os poderes dos Eletrics não eram fortes o suficiente para matá-lo. Sete anos depois, por descuido dele, ele morreu queimado em seu próprio refúgio. Um ano depois, surgiu a hipótese junto de relatos de que ele não era o único com esse sangue. Ele tinha cúmplices. Anos e anos se passaram e a história se tornou lenda. Dizem que trezentos anos depois, surgiram outras pessoas com esse sangue, uma nova geração se formando, mas ninguém sabe ao certo se foi verdade. Existem poucos registros sobre esse sangue e ninguém nunca mais ouviu falar sobre isso. — Kyle me olha nos olhos, o seu olhar vivo e intenso sobre mim. — Até hoje.

Minha cabeça lateja mais ainda. Sinto minha pernas tremerem junto de uma sensação horrível na barriga. Kyle fecha o livro e volta a olhar para mim.

Como isso é possível...?

— Quem tem esse sangue é... Mais forte que um Escolhido? — Me forço a perguntar.

— Sim. — Kyle responde, hesitando.

Engulo em seco, me sentindo meio zonza derrepente, como se eu fosse desmaiar a qualquer momento.

— Por que logo eu? — Custo conseguir falar de novo.

— Eu não sei. Pretendo começar a estudar mais sobre isso. Procurar respostas.

Minha cabeça dói muito mais. Eu já machuquei alguém pelo meu poder e nem percebi? Eu já machuquei os meus pais? A minha irmã mais nova...?
A ideia me atormenta.

Respiro fundo, tentando estabilizar minhas emoções, como aprendi ao longo dos anos. Mas é quase impossível, já que acabei de descobri que matei um cara sem nem usar as mãos. Como posso ficar relaxada sabendo disso?
Eu sou um monstro.

— Não. Eu não posso ter esse sangue. — Minha respiração se agita. — Eu não matei ele assim, Kyle. Ele morreu de outro jeito. Isso não existe mais. É uma lenda.

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