Cap 12

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Uma Sanguinária de verdade

Meu dia se resume em treino, treino e treino.

Mas eu faço porque eu quero, e não porque Kyle quer.
Exigi que eu fosse treinada por um mulher e não por um homem. Felizmente, Kyle concordou. Sam, uma mulher que acredito ter entre quarenta e cinquenta anos, passa o dia tentando ativar meu poder. O que não acontece.

A noite, mesmo morrendo de sono, não consigo dormir. Tudo aqui é muito estranho e não consigo nem pensar na ideia de que essa é a minha nova casa. Mesmo o meu novo quarto sendo bem mais aconchegante e tendo uma cama bem confortável comparada com a minha antiga, isso não basta. Algo continua me aterrorizando.
Então, decido perambular pelo esconderijo para comer alguma coisa, talvez.

Está tudo escuro e quase não vejo nada. Mas estou acostumada com isso. Muitas vezes eu ficava sem energia onde eu morava, pois Trent atrasava o pagamento quase sempre. Isso sem contar as vezes em que eu precisava sair a noite para caçar para que, no dia seguinte, tivesse o que comer.
Procuro meu isqueiro no bolso mas, infelizmente, não o acho. Devo ter o perdido na floresta.
Continuo andando, tentando achar um lugar que tenha comida.

— Ai!

Esbarro numa garota sem querer e ela se assusta comigo.

— Shh! Você vai acabar acordando alguém. — Sussurro.

— Você me assustou, cara! — A garota exclama, cruzando os braços. Mesmo no escuro, acompanho todos os seus movimentos. — Você é a novata, não é? O que faz perambulando por aqui a essa hora?

— Estou sem sono. — Não falo muito. Afinal, não conheço ela.

Nós duas ficamos em silêncio.
Seguro a vontade de respirar fundo na sua frente. Tudo isso é muito estranho para mim. Ela provavelmente é uma Eletric, como quase todos daqui. E a dias atrás, eu nunca conversaria com um Eletric. E olha só onde estou agora.

— Está procurando algo?

— Eu queria comer alguma coisa. - Respondo, falando baixo.

— Eu posso te ajudar com isso. — Ela se vira para o corredor. — Também estou com fome.

E, mesmo desconfiada, sigo ela.

Seus passos são silenciosos e calmos, como se ela fizesse isso todos os dias. Fico atenta o tempo todo, caso ela tente me pegar de surpresa. Nunca se sabe, né.

Chegamos a uma salinha pequena e ela acende a luz, para depois fechar a porta atrás de si.

— Pode comer o que quiser daqui. — Ela fala, e pela primeira vez vejo sua aparência nitidamente.

Ela tem quase a minha altura e veste o uniforme de treino da gangue. Seu cabelo é liso, com mais da metade dele pintado de vermelho. Sua pele bronzeada é bem cuidada e seus olhos brilham num tom claro de azul. Também percebo alguns arranhões no rosto e no braço, além de algumas marcas antigas em algumas regiões do seu corpo. Ela tem cicatrizes.

Assim como eu.

— Valeu. — Falo.

Ela pega um pote de biscoitos e se senta no chão.
Faço o mesmo, pegando uma fruta. Estou mais acostumada a comer fruta, já que era um alimento muito mais fácil para se furtar na vila.

— O que achou da nossa casa? — A garota me pergunta, comendo os biscoitos. — Aliás, sou Maidy.

— Sou Li... — Por costume, quase falo meu nome falso. Não adianta mentir meu nome por aqui. Beatrice. — Mordo um pedaço da maçã. — Meu sonho com certeza não era ser da maior gangue do país. Mas pelos menos não vivo mais na miséria.

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