6 ANOS DEPOIS
Hoje se inicia mais um dia normal para mim.
— Ahh Lina, por favor, fique.
— Não posso. Tenho coisas a resolver. — digo, puxando o zíper da minha calça.
— Teremos outra noite dessa, não é?
— É claro.
Levo um tapa na bunda inesperado.
— Ei! — seguro seu pulso com força. — Se fizer isso de novo, arranco sua mão fora!
— E depois como vai sobreviver, lindinha? Você precisa de mim e sabe disso.
Isso dói mais do que deveria.
Saio daquele quarto imundo de Trent.
— Que porra você está querendo fazer, Beatrice? Você não pode chorar, sua idiota! — falo comigo mesma. — Você precisa disso.
Transar com Trent é uma escolha que tomei para sobreviver. Trent me deu um lugar para morar, alguns brinquedinhos úteis e uma mínima segurança quando preciso nessa vila. Mesmo que em todas as vezes que ele me defendeu de algo, após isso eu tinha que transar com ele como uma forma de agradecimento. Isso é nojento, eu sei. Trent é um tarado de não sei quantos anos. A única coisa que sei é que ele tem menos de quarenta anos, isso é certo. Mas o que eu posso fazer? Tive que tomar decisões terríveis ao longos dos anos para não morrer e não me arrependo de nenhuma.
— Olá Lina, como vai? — o dono do meu mercadinho favorito se acostumou tanto comigo vindo aqui que até já decorou meu nome falso.
Todos aqui acham que meu nome é Lina Tawen. Mas apenas é um nome falso que uso em todos os lugares para sobreviver.
— Melhor possível, acredito. Você tem algo que possa me encher por agora? Estou com fome.
— Eu tenho isso aqui. — ele diz, apontando.
— Vai ter que servir.
Jogo as únicas moedinhas que tenho no balcão.
— Merda. Eu só tenho isso. — tento procurar mais alguma perdida, mas não acho mais nada.
— Hummm. Não tem problema, pode ficar com isso. Essas moedas servem.
— Valeu, Dom. — pego o que seria meu almoço de hoje e já começo a comer.
Perambulo pela vila e, quando vejo, já comi tudo. E ainda estou com fome.
— Droga.
Olho ao meu redor. Preciso roubar algo.
Avisto uma senhora tendo dificuldades em atravessar a rua com tantas sacolas, inclusive com sua bolsa. Calma, uma bolsa? Ótimo.
Vou até ela.
— Ops! Olá senhora, precisa de ajuda?
— Eu adoraria, minha querida. — ela sorri.
Sinto um pouco de culpa. Roubar uma senhora é passar dos limites? Acho que não. Eu não tenho limites.
Ligeiramente, pego sua carteira dentro de sua bolsa e termino de ajudá-la com as sacolas.
— Aqui já está bom. Muito obrigada, querida. Espero que no mundo exista mais pessoas como você.
Pois eu espero que não.
Sorrio para a senhora e volto meu caminho.
— Quanto temos aqui...? Uau! Isso tudo? Caralho. — começo a contar as notas.
Nunca roubei tanto dinheiro assim. Isso com certeza não vai me deixar passar fome por uns bons dias.
— Beatrice Bevan, sua doida!
Tomo tanto susto que quase soco sua cara.
— Blake! Não me mata de susto, porra!
—Foi mal, Bea. — ele pega a carteira da minha mão e começa a olhar a quantia que tem ali. — Você ficou maluca? Roubar uma senhora indefesa? Eu vi tudo, viu!
— Você acha que eu queria fazer isso? Claro que não. Mas eu precisei.
— Vou devolver a carteira dela. — antes de eu sequer discutir com ele, ele fala: — Eu te levo para comer algo.
Respiro fundo e observo ele devolvendo a carteira que eu roubei da senhora indefesa.
Ele fala algo com ela como "eu vi sua carteira caindo no chão".
Cruzo os braços enquanto Blake volta.
— Você tem razão. Eu passei um pouco dos limites.
— Você não precisa ser desse jeito para sobreviver, Bea.
— Não preciso? Você não sabe de nada, Blake. — discuto — Eles tiraram tudo de mim. Eles ferraram com a minha vida!
— Não põe a culpa de todas as suas atitudes neles. Você poderia muito bem ter roubado outra pessoa. Uma pessoa que talvez fosse tão ruim que merecesse isso. — ele cruza os braços.
— Eu dispenso a sua companhia pelos próximos minutos. Não quero que você me pague nada para comer. — digo, saindo de perto de Blake.
— Bea...
Eu continuo andando.
Ninguém sabe o que eu passei e ainda passo todos os dias. E ninguém nunca vai entender. É melhor ser sozinha, mesmo. Amigos nem sempre me proporcionam resultados positivos.[...]
Depois de um longo dia tentando arranjar um emprego para me sustentar, volto para o lugar onde durmo, e que chamo de casa.
— Amanhã você tenta de novo, Beatrice. — murmuro.
Ouço minha própria barriga roncar. Estou morrendo de fome e não tenho nada para comer.
Resolvo limpar minhas facas. Se não posso comer, pelo menos vou me distrair com alguma coisa.
Enquanto limpo minha faca favorita, ouço batidas na porta. Que estranho.
Levo minha faca comigo, por segurança. Não é muito normal eu receber visitas por aqui.
Abro a porta e não vejo ninguém.
A única coisa que vejo é uma caixa no chão próxima a minha porta. O que é isso?
Hesito, mas pego a caixa e fecho a porta.
Quando eu a abro, eu não acredito no que vejo.
Dentro da caixa há duas maçãs e três bananas.
E junto das frutas, vejo um papel com algo escrito.Isso foi tudo que consegui pra você, Bea.
- Blake. .
Não hesito, apenas como as frutas. Obrigada por isso Blake.
Pelos menos hoje eu vou dormir sem passar fome.
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O Sangue do Silêncio
FantasyEssa é a história de uma garota que, ao completar 11 anos, é obrigada a deixar sua casa e sua família para trás, após um ataque surpresa de Eletrics, causando a morte de seu pai bem na sua frente. Sua mãe, antes de ser levada por um deles, pede que...