A
o sair do quarto, Julia sentia-se nervosa. Gabriel havia providenciado tudo
para que ela fizesse compras em sua conta na loja Prada mais próxima. O
vestido que escolhera era de tafetá de seda azul Santorini, com gola V e
sem mangas. O modelo em A tinha saia plissada e lembrava o tipo de
vestido que Grace Kelly usava na década de 1950. Ficava perfeito em Julia.
A gerente da loja havia sugerido alguns acessórios para modernizar o
visual e Julia escolheu uma elegante clutch de couro e um par de sapatos
de verniz de salto agulha e cor de tangerina que achou perigosamente altos.
Uma pashmina preta completava o conjunto.
Hesitante, ela parou na sala de estar; seu cabelo cacheado estava solto;
os olhos, cintilantes, reluzentes. Ela usava os brincos de diamantes e o
colar de pérolas que tinham sido de Grace.
Gabriel estava sentado no sofá, fazendo mudanças de última hora em
suas anotações para a palestra. Quando a viu, tirou os óculos e se levantou.
– Você está deslumbrante. – Ele beijou seu rosto e a girou para admirá-
la. – Gostou do vestido?
– Adorei. Obrigada, Gabriel. Sei que custou uma fortuna.
Ele baixou os olhos para os sapatos de Julia.
– Algum problema? – perguntou ela.
Gabriel pigarreou, mantendo o olhar fixo nos pés dela.
– Hum... seus sapatos... eles são, ah...
– Bonitos. Não são? – Ela deu uma risadinha.
– São muito mais que bonitos. – A voz dele ficou embargada.
– Bem, professor Emerson, se eu gostar da sua palestra, talvez continue
a usá-los mais tarde...
Gabriel ajeitou a gravata e abriu um sorriso convencido.
– Ah, vou garantir que você goste, Srta. Mitchell. Mesmo que precise
repeti-la para você a sós, sob as cobertas.
Ela ficou vermelha e Gabriel a tomou nos braços.
– Temos que ir – falou, dando um beijo em seus cabelos.
– Espere. Tenho um presente para você. – Ela foi ao quarto e voltou com
uma pequena caixa com a marca Prada estampada.
Ele pareceu surpreso.
– Não precisava.
– Mas eu quis.
Gabriel sorriu e abriu a tampa com cuidado. Ao afastar o papel de
embrulho, encontrou uma gravata de seda azul Santorini com uma estampa
discreta.
– Adorei. Obrigado. – Ele deu um beijo no rosto de Julia.
– Combina com o meu vestido.
– Agora todos saberão que pertencemos um ao outro.
Na mesma hora ele tirou a gravata verde, jogou-a na mesinha de centro
e começou a amarrar o presente de Julia em volta do pescoço.
O terno era novo, feito sob encomenda pelo seu alfaiate preferido na
Itália. Era preto, com uma única fileira de botões e fendas laterais. Julia
ficou muito admirada com o terno, porém mais ainda com a figura atraente
que o vestia.
Não há nada mais sexy do que ver um homem colocar uma gravata,
pensou.
– Posso? – ofereceu-se, ao notar que Gabriel se atrapalhava por não
estar diante de um espelho.
Ele assentiu e se inclinou para a frente, colocando as mãos em volta da
sua cintura. Julia endireitou a gravata e ajeitou o colarinho da camisa,
correndo as mãos pela manga do paletó até pousá-las sobre as abotoaduras
em seus punhos.
Ele a encarou com um olhar curioso.
– Você ajeitou minha gravata no carro quando a levei para jantar no
Antonio’s.
– Eu me lembro.
– Não há nada mais sexy do que ver a mulher que você ama ajeitando
sua gravata. – Ele pegou as mãos dela. – Nós passamos por muitas coisas
desde aquela primeira noite.
Ela ficou na ponta dos pés para beijá-lo, tomando o cuidado de não
borrá-lo com o batom.
Gabriel levou os lábios à orelha dela.
– Não sei como vou manter os homens longe de você esta noite. Fique
perto de mim o tempo todo. Julia deu um gritinho quando ele a envolveu com os braços, erguendo-a
para lhe dar um beijo de verdade. Isso a obrigou a retocar o batom e, antes
de sair, os dois tiveram que conferir a aparência no espelho.
Gabriel segurou a mão de Julia durante a breve caminhada até a Galleria
degli Uffizi e enquanto eram conduzidos ao segundo piso por um senhor um
tanto atarracado, que usava uma gravata-borboleta de lã escocesa. Ele se
apresentou como Lorenzo, assistente pessoal do dottore Vitali.
– Professore, sinto muito, mas preciso que o senhor me acompanhe. –
Lorenzo correu os olhos de Gabriel para Julia, detendo-se em suas mãos
entrelaçadas.
Gabriel a apertou mais.
– É por causa do, como se diz?... na tela? PowerPoint? – explicou
Lorenzo, gesticulando para o salão atrás deles, onde os convidados já se
reuniam.
– A Srta. Mitchell tem um lugar reservado – disse Gabriel em tom
incisivo, irritado por Lorenzo a estar ignorando.
– Sim, professore. Eu acompanharei a sua fidanzata pessoalmente. –
Lorenzo fez um gesto respeitoso com a cabeça na direção de Julia.
Ela abriu a boca para corrigir Lorenzo quanto àquele título, mas Gabriel
beijou sua mão e em seguida murmurou uma promessa, roçando os lábios
em sua pele. Então ele foi embora e Julia foi conduzida até o seu lugar de
honra na primeira fila.
Ela olhou ao redor e notou a presença do que pareciam ser membros dos
glitterati de Florença, a elite da cidade, socializando com acadêmicos e
dignitários locais. Julia correu as mãos pela saia do vestido, deliciando-se
com o farfalhar do tecido sob seus dedos. Considerando a aparência dos
demais convidados e a presença de um bando de fotógrafos, ficou feliz por
estar bem-vestida. Não queria constranger Gabriel numa ocasião tão
importante.
A palestra seria dada no Salão Botticelli, que era dedicado às obras mais
ilustres do artista. O púlpito havia sido colocado entre O nascimento de
Vênus e a Madona da romã, enquanto o quadro A primavera podia ser visto
à direita da plateia. As obras na parede esquerda tinham sido retiradas para
dar lugar a uma tela grande, na qual a apresentação de Gabriel seria
projetada.
Ela sabia quanto era incomum que houvesse uma palestra em um lugar
tão especial e, em silêncio, fez uma prece de agradecimento por aquela incrível bênção. Ela havia cursado o último ano de faculdade em Florença e
costumava ir ao Salão Botticelli pelo menos uma vez por semana, às vezes
mais. Achava sua obra ao mesmo tempo reconfortante e inspiradora. Como
uma universitária americana tímida, jamais teria imaginado que, dois anos
depois, voltaria àquele salão como acompanhante de um especialista em
Dante mundialmente renomado. Sentia-se como se tivesse ganhado mil
vezes na loteria.
Mais de cem pessoas lotavam o recinto e algumas tiveram que ficar de
pé no fundo do salão. Julia observou Gabriel ser apresentado a vários
convidados que aparentavam ser importantes. Ele era um homem muito
atraente, alto, de uma beleza rústica. Ela admirava especialmente os seus
óculos e a maneira como seu terno escuro e elegante lhe caía com
perfeição.
Quando algumas pessoas se puseram entre os dois, bloqueando o campo
de visão de Julia, ela se concentrou na voz de Gabriel. Ele conversava com
cordialidade, alternando sem hesitação italiano, francês e alemão.
(Ele era sexy até falando alemão.)
Ela ficou excitada ao se lembrar de como Gabriel era por baixo do terno,
seu corpo nu sobre o dela. Julia se perguntou se ele também teria esse tipo
de pensamento quando a olhava. Ainda perdida em suas reflexões, seus
olhares se cruzaram e Gabriel piscou para ela. Essa breve demonstração de
bom humor fez a mente de Julia retornar àquela manhã, quando os dois
estavam no terraço, e um tremor de prazer percorreu sua espinha de alto a
baixo.
Gabriel permaneceu sentado enquanto o dottore Vitali o apresentava,
relatando de forma minuciosa, ao longo de nada menos do que quinze
minutos, as façanhas do professor. Para o observador casual, Gabriel
parecia relaxado, quase entediado. A única coisa que entregava seu
nervosismo era o fato de ele ficar remexendo, sem perceber, as anotações
que fizera para a palestra – e que não passavam de um roteiro para as
observações que ele já sabia de cor. Gabriel tinha feito mudanças de última
hora em seu texto. Não poderia falar de musas, amor e beleza sem fazer
menção ao anjo de olhos castanhos que havia se entregado bravamente a
ele na noite anterior. Desde que ela tinha apenas 17 anos vinha sendo sua
inspiração. Sua beleza discreta e generosidade haviam tocado o coração
dele. Gabriel guardara sua imagem como um talismã contra os demônios
sombrios do vício. Ela era tudo para Gabriel e Deus era testemunha de que
ele estava prestes a declarar isso em público.
Depois de muitos louvores e aplausos, ele assumiu sua posição atrás do púlpito e se dirigiu à plateia em italiano fluente:
– Minha palestra esta noite será um tanto incomum. Embora eu não seja
historiador da arte, falarei sobre a musa de Sandro Botticelli, La Bella
Simonetta. – Neste instante, os olhos dele buscaram os de Julia.
Ela sorriu, tentando conter o rubor que ameaçava se espalhar pelas suas
faces. Conhecia a história de Botticelli e Simonetta Vespucci. Simonetta era
chamada de A Rainha da Beleza na corte de Florença, antes de morrer à
tenra idade de 22 anos. O fato de Gabriel compará-la a Simonetta era um
elogio e tanto.
– Abordarei esse tópico polêmico como professor de literatura,
analisando a obra de Botticelli como uma representação de vários
arquétipos femininos. Historicamente falando, há muitas controvérsias
quanto ao grau de intimidade entre Simonetta e Botticelli e até que ponto
ela de fato inspirou sua obra. Espero conseguir contornar algumas dessas
divergências para que vocês possam se concentrar numa comparação visual
direta de algumas imagens. Começarei com três slides nos quais vocês
reconhecerão ilustrações a bico de pena de Dante e Beatriz no Paraíso.
Gabriel não pôde deixar de admirar ele próprio as imagens, pois se viu
transportado de volta ao dia em que recebera Julianne em sua casa pela
primeira vez. Foi naquela noite que percebeu quanto queria lhe dar prazer e
como ela ficava bonita quando estava feliz.
Enquanto observava a serenidade da expressão de Beatriz, comparava o
semblante dela ao de Julia – seu lindo perfil compenetrado admirando o
desenho de Botticelli. Gabriel queria fazê-la olhar para ele.
– Notem o rosto de Beatriz. – Sua voz ficou mais suave quando seus
olhos encontraram os de sua amada. – Um rosto de extraordinária beleza...
Comecemos com a musa de Dante e com a figura de Beatriz. Embora ela
dispense apresentações, permitam-me observar que Beatriz representa o
amor cortês, a inspiração poética, a fé, a esperança e a caridade. Ela é o
ideal de perfeição feminina: ao mesmo tempo inteligente e compassiva,
repleta do tipo de amor altruísta que só pode vir de Deus. Ela inspira Dante
a ser um homem melhor.
Gabriel se interrompeu por alguns instantes e remexeu na gravata. Ela
não precisava ser ajeitada, mas ainda assim os dedos dele se demoraram
sobre a seda azul. Diante daquele gesto, Julia deu uma piscadela e Gabriel
soube que ela havia entendido.
– Agora observem o rosto da deusa Vênus.
Todos os olhos no salão, exceto os de Gabriel, se voltaram para O nascimento de Vênus. Ele consultou avidamente suas anotações enquanto a
plateia admirava uma das mais ilustres obras de Botticelli.
– Vênus parece ter o rosto de Beatriz. Mais uma vez, não estou
interessado em uma análise histórica das modelos dos quadros. Peço
apenas que notem as semelhanças entre as duas figuras. Elas representam
duas musas, dois tipos ideais, um teológico e outro secular. Beatriz é a
amante da alma; Vênus é a amante do corpo. La Bella de Botticelli possui
ambos os rostos: o do amor sacrifical, ou ágape, e o do amor sensual, ou
eros.
A voz dele ficou mais grave e, ao ouvi-la, Julia sentiu sua pele se
aquecer.
– Na representação de Vênus, a ênfase está em sua beleza física.
Embora represente o amor sexual, ela se mantém recatada, cobrindo-se
com os cabelos. Percebam a expressão tímida e a mão posicionada sobre o
peito. Sua timidez aumenta o erotismo do retrato, em vez de diminuí-lo. –
Ele tirou os óculos para acrescentar um efeito dramático às suas palavras
e fixou o olhar em Julia. – Muitos não conseguem ver quanto o recato e a
delicadeza podem intensificar o apelo erótico.
Julia brincou com o zíper da bolsa, resistindo ao impulso de se remexer
na cadeira. Gabriel tornou a pôr os óculos.
– Eros não é sinônimo de luxúria. A luxúria é um dos sete pecados
capitais. O amor erótico pode incluir sexo, mas não se limita a ele. Eros é
o fogo voraz da paixão e do afeto que se expressa na emoção de estar-se
apaixonado. E posso garantir que ele supera todos os rivais.
Julia não pôde deixar de notar a maneira desdenhosa como ele
pronunciou a palavra rivais, fazendo um gesto com a mão para dar ênfase.
Era como se estivesse descartando todas as suas amantes anteriores com
um só movimento, enquanto mantinha os olhos azuis fixos nela.
– Qualquer um que já tenha se apaixonado sabe a diferença entre eros e
luxúria. Não há comparação. Esta é a sombra vazia e insatisfatória daquele.
É claro que se pode contra-argumentar que nenhuma pessoa, nenhuma
mulher, seria capaz de representar tanto o ideal do ágape quanto o do eros.
Perdoem-me, mas acho que esse ceticismo é uma forma de misoginia.
Apenas um misógino defenderia que mulheres são santas ou sedutoras,
virgens ou prostitutas. É claro que uma mulher, ou um homem, pode ser
ambos: a musa pode ser a amante tanto do corpo quanto da alma.
Ele fez uma breve pausa.
– Agora vejamos a pintura que está atrás de mim, intitulada Madona da romã.
A plateia voltou o olhar para o outro quadro de Botticelli. Satisfeito,
Gabriel notou a maneira como Julia tocou um de seus brincos de diamantes,
como se tivesse compreendido suas revelações e as aceitasse de bom
grado. Como se entendesse que ele estava revelando seu amor por ela por
meio da arte. Seu coração inflou no peito.
– Aqui também vemos o mesmo rosto repetido na figura da Madona.
Beatriz, Vênus e Maria: a trindade das mulheres ideais, todas com o
mesmo rosto. Ágape, eros e castidade, uma combinação inebriante capaz
de pôr de joelhos até o mais forte dos homens, se ele tivesse a sorte de
encontrar alguém que manifestasse essas três facetas.
Ouviu-se uma tosse suspeita, como se tentasse disfarçar um
comentário sarcástico. Irritado com a interrupção, Gabriel fez uma careta
para um ponto da segunda fileira, por sobre o ombro de Julia. A tosse se
repetiu, com um efeito mais dramático, e dois pares de olhos se
enfrentaram num duelo carregado de testosterona entre o professor e um
italiano claramente incomodado.
Consciente de que usava um microfone, Gabriel resistiu à tentação de
praguejar e, fuzilando seu desafiante com os olhos, prosseguiu:
– Há quem defenda que foi uma romã, e não uma maçã, que tentou Eva
no Jardim do Éden. No caso do quadro de Botticelli, muitos disseram que a
romã simboliza o sangue de Cristo em seu sofrimento e em sua
subsequente vida nova por meio da ressurreição. Na minha interpretação, a
romã representa o fruto edênico, a Madona é uma segunda Eva, e Cristo,
um segundo Adão. Com essa Madona, Botticelli remonta à primeira Eva, o
arquétipo da feminilidade, beleza e companhia feminina. Mais do que isso,
afirmo que Eva também é o ideal de amizade feminina, a amiga de Adão,
sendo, portanto, o ideal de philia, o amor que nasce da amizade. A amizade
entre Maria e José também revela esse ideal.
A voz de Gabriel falhou e ele precisou tomar um pouco de água antes de
continuar. Algo na comparação entre Julia e Eva fez com que ele se
sentisse vulnerável, nu, levando-o de volta à noite em que lhe oferecera
uma maçã e a mantivera em seus braços, sob as estrelas.
Um burburinho começou a se espalhar pela plateia, que se perguntava
por que uma pausa para um copo d’água havia se tornado uma interrupção
tão longa. Gabriel enrubesceu ao erguer os olhos para fitar novamente sua
amada, desesperado pela sua compreensão.
Os lábios de Julia, da cor de um rubi, se abriram em um sorriso encorajador. Gabriel suspirou.
– A musa de Botticelli é uma santa, amante e amiga, não uma
representação unidimensional de uma mulher ou uma fantasia adolescente.
Ela é real, complexa e infinitamente fascinante. Uma mulher a ser adorada.
Como vocês sabem, a precisão da língua grega nos permite falar de forma
mais clara sobre os diferentes tipos de amor. Se estiverem interessados,
poderão encontrar uma abordagem moderna dessa discussão no livro Os
quatro amores, de C. S. Lewis.
Ele pigarreou e abriu um sorriso triunfante para o salão.
– Por fim, observemos a pintura à minha esquerda, A primavera. Era de
se esperar que o rosto da musa de Botticelli estivesse refletido na figura
central do quadro. Mas vejam o rosto de Flora, à direita. Ela guarda uma
semelhança com a Madona, Vênus e Beatriz. O mais surpreendente, no
entanto, é que Flora aparece duas vezes na pintura. Se olharmos do centro
do quadro para a direita, podemos vê-la grávida do filho de Zéfiro. Zéfiro
está na extremidade direita, pairando entre as laranjeiras com uma segunda
representação de Flora, como uma ninfa virgem. A expressão dela é
marcada pelo medo. Ela foge dos braços de seu futuro amante, olhando
para trás, apavorada. Quando aparece grávida, porém, seu semblante é
sereno. O medo é substituído pelo contentamento.
Julia ruborizou-se ao se lembrar de como Gabriel tinha sido gentil com
ela na noite anterior. Ele a havia tratado com ternura e carinho e, nos seus
braços, ela se sentira venerada. Estremeceu ao pensar no mito de Flora e
Zéfiro, desejando que todos os amantes fossem tão carinhosos com suas
parceiras virgens quanto Gabriel havia sido com ela.
– Flora representa a consumação do amor físico e da maternidade. Ela é
o ideal do storge, o amor familiar ou companheiro, o tipo de amor que uma
mãe sente pelo filho ou que existe entre amantes que têm um
compromisso não baseado apenas no sexo e no prazer, mas também no
companheirismo conjugal.
Somente Julia notou os nós dos dedos de Gabriel ficarem brancos quando
ele agarrou o púlpito com as duas mãos. Só ela percebeu o pequeno tremor
em sua voz quando ele pronunciou as palavras grávida e maternidade.
Ele franziu as sobrancelhas e, recompondo-se, remexeu nos papéis por
alguns instantes. Julia conhecia o motivo de sua vulnerabilidade e precisou
lutar contra o impulso de ir até ele e abraçá-lo. Começou a bater com o
salto agulha de um de seus sapatos cor de tangerina no chão, ansiosa.
Gabriel notou o movimento repentino dela e engoliu em seco antes de prosseguir:
– Nos primeiros escritos sobre A primavera, afirmava-se que Flora se
assemelhava a La Bella Simonetta, a musa de Botticelli. Se isso for
verdade, podemos dizer, com base apenas em uma avaliação visual, que
Simonetta serviu também de inspiração para a Madona, Vênus e Beatriz,
pois todas compartilham do mesmo rosto. Dessa forma, temos os ícones
do ágape, do eros, da philia e do storge representados todos num só rosto,
numa só mulher: Simonetta. Em outras palavras, poderíamos sugerir que
Botticelli vê em sua musa todos os quatro tipos de amor e todos os quatro
ideais de feminilidade: santa, amante, amiga e esposa. No fim das contas,
contudo, devo voltar para onde comecei, com Beatriz. Não é coincidência
que a inspiração por trás de uma das obras literárias mais famosas da
Itália tenha recebido os traços de Simonetta. Diante de tamanha beleza, de
tamanha bondade, que homem não iria querê-la ao seu lado não só por uma
estação, mas por toda a vida?
Ele correu os olhos pelo salão, sério.
– Nas palavras do poeta: Eis que surge sua bem-aventurança. Obrigado.
Quando Gabriel encerrou sua palestra, recebendo aplausos
entusiasmados, Julia teve que piscar algumas vezes para conter as
lágrimas, tomada pela emoção.
O dottore Vitali voltou ao palanque, apresentando seus agradecimentos
ao professor Emerson por suas palavras esclarecedoras. Um pequeno grupo
de políticos locais lhe ofereceu vários presentes, incluindo um medalhão que
representava a cidade de Florença.
Julia continuou em seu lugar pelo máximo de tempo possível, esperando
que Gabriel fosse até ela. Mas ele estava ocupado demais com muitos dos
membros da plateia, entre eles vários historiadores da arte inconvenientes.
(Era uma audácia, se não puro narcisismo, que um reles professor de
literatura analisasse as peças mais valiosas da coleção da Galleria degli
Uffizi.) Relutante, ela o seguiu enquanto jornalistas o enchiam de perguntas.
Julia cruzou olhares com ele, que lhe abriu um sorriso tenso de desculpas
antes de posar para fotos.
Frustrada, ela vagou por alguns dos salões contíguos, admirando as
obras até chegar a uma de suas favoritas, A anunciação, de Leonardo da
Vinci. Estava perto do quadro, perto demais, na verdade, observando os
detalhes da peça de mármore, quando uma voz em italiano soou em seu
ouvido: – Gosta deste quadro?
Julia levantou a cabeça e encarou um homem de cabelos negros e pele muito bronzeada. Ele era mais alto que ela, mas não muito, e corpulento.
Usava um terno preto muito caro, com uma rosa solitária presa à lapela.
Julia o reconheceu como um dos convidados que havia se sentado atrás
dela durante a palestra.
– Sim, muito – respondeu ela em italiano.
– Sempre admirei a profundidade que Da Vinci imprimia a suas pinturas,
especialmente o sombreamento e os detalhes na peça de mármore.
Ela sorriu e se voltou para o quadro.
– Era exatamente isso que eu estava analisando. E também as penas
nas asas do anjo. São incríveis.
O cavalheiro fez uma mesura.
– Por favor, permita que eu me apresente. Sou Giuseppe Pacciani.
Julia hesitou, reconhecendo o sobrenome. Era o mesmo do suspeito de
ser o mais famoso serial killer de Florença.
O homem parecia esperar que ela respondesse a sua apresentação, por
isso Julia conteve o impulso de sair correndo.
– Julia Mitchell. – Ela estendeu a mão num gesto cortês, mas ele a
surpreendeu ao agarrá-la pelos braços e aproximá-la de seus lábios,
erguendo os olhos em sua direção enquanto a beijava no rosto.
– Encantado. E, se me permite, devo dizer que sua beleza rivaliza com a
de La Bella Simonetta. Especialmente à luz da palestra dessa noite.
Julia desviou o olhar e recolheu a mão depressa.
– Permita-me lhe oferecer uma bebida.
Ele se apressou em chamar um garçom e pegou duas taças de
espumante da bandeja. Bateu as taças uma na outra e fez um brinde à
saúde deles.
Julia bebericou o espumante Ferrari, agradecida, pois aquilo serviu para
distraí-la do olhar intenso do homem. Ele era charmoso, mas ela estava
desconfiada e não era só por causa do seu sobrenome.
Ele abriu um sorriso voraz.
– Sou professor universitário. Literatura. E você?
– Eu estudo Dante.
– Ah, il Poeta. Também sou especialista em Dante. Onde você estuda?
Não é aqui. – Os olhos dele se desviaram do rosto de Julia e percorreram o corpo dela até os seus pés, antes de voltarem a encará-la.
Ela deu um passo largo para trás.
– Na Universidade de Toronto.
– Ah! Uma canadense. Uma ex-aluna minha está estudando lá. Talvez
vocês se conheçam. – Ele se aproximou um passo.
Julia decidiu não corrigi-lo quanto a sua nacionalidade e tornou a recuar.
– Acho que não. A Universidade de Toronto é enorme.
Giuseppe sorriu, mostrando dentes muito retos e brancos que emitiam
um brilho estranho sob a luz do museu.
– Já viu o quadro Perseu libertando Andrômeda, de Piero di Cosimo? –
Ele apontou uma das pinturas do salão.
Julia assentiu.
– Já.
– Há elementos da pintura flamenga na obra dele, percebe? Observe
também as figuras paradas na multidão. – Ele gesticulou para um grupo
reunido no canto direito do quadro.
Julia deu um passo para o lado a fim de enxergar melhor. Giuseppe
parou atrás dela, muito mais perto do que devia, observando-a analisar a
pintura.
– Gosta?
– Sim, mas prefiro Botticelli – respondeu ela, teimando em manter os
olhos no quadro, na esperança de que ele se cansasse de ficar perto dela e
se afastasse.
(De preferência para a outra margem do Arno.)
– Você é aluna do professor Emerson?
Julia engoliu em seco.
– Não. Eu... estudo com outra pessoa.
– Ele é considerado bom para os padrões americanos, o que explica por
que foi convidado para discursar aqui. Mas a palestra dele foi
constrangedora. Como você descobriu Dante?
Julia estava prestes a discutir com Giuseppe sobre sua opinião a
respeito da palestra quando ele estendeu a mão para tocar seus cabelos.
Ela se encolheu e recuou, mas os braços dele eram longos e sua mão a seguiu. Ela abriu a boca para censurá-lo quando alguém bufou perto dos
dois.
Giuseppe e Julia se viraram devagar e depararam com Gabriel, seus
olhos cor de safira faiscando, as mãos na cintura, inflando seu paletó
aberto como as plumas de um pavão furioso.
Ele deu um passo ameaçador à frente.
– Vejo que já conheceu minha fidanzata. Sugiro que mantenha suas mãos
sob controle, a menos que queira perdê-las.
Giuseppe fez uma careta antes de sua expressão se abrandar num
sorriso educado.
– Estamos conversando já há alguns minutos. Ela nem mencionou o seu
nome.
Para que Gabriel não tivesse chance de arrancar os braços de Giuseppe,
sujando de sangue o piso impecável da Galleria, Julia se colocou entre os
dois e pousou a mão no peito dele.
– Gabriel, este é o professor Pacciani. Ele também é especialista em
Dante.
Os dois homens trocaram olhares e Julia percebeu que Pacciani era o
homem que havia interrompido de modo grosseiro a palestra de Gabriel,
murmurando e tossindo.
Ele ergueu as mãos, fingindo se render.
– Mil perdões. Eu deveria ter percebido que ela era sua pelo modo como
você a olhava durante a sua... palestra. Perdão, Simonetta. – Pacciani a
encarou e manteve os olhos fixos nos dela, sua boca se entreabrindo num
sorriso irônico.
Ao som do sarcasmo de Pacciani, Gabriel se aproximou um passo, os
punhos cerrados.
– Querido, preciso encontrar um lugar para deixar minha taça. – Julia
balançou a taça de espumante vazia, na esperança de que isso distraísse
Gabriel.
Ele pegou a taça e a entregou a Pacciani.
– Tenho certeza de que você sabe o que fazer com isso.
Puxando Julia pela mão, ele a arrastou para longe dali. Conforme os dois
atravessavam o Salão Botticelli, os convidados se separavam, como o mar
Vermelho.
Julia viu cada um dos presentes olhar para eles e foi ficando mais e
mais vermelha.
– Para onde estamos indo?
Ele a conduziu rumo ao corredor ladrilhado contíguo e começou a
percorrê-lo, afastando-se o máximo possível dos ouvidos dos demais
convidados. Empurrando-a para um canto escuro, ele a posicionou entre
duas grandes estátuas de mármore sobre seus pedestais. Ela parecia
minúscula entre as formas imponentes.
Gabriel pegou a bolsa dela e a jogou de lado. O som do couro se
chocando ao chão ecoou pelo corredor.
– O que você estava fazendo com ele? – Os olhos de Gabriel faiscavam
e suas faces estavam avermelhadas, o que era raro de acontecer.
– Só estávamos conversando até que ele...
Gabriel a puxou para um beijo tórrido, enfiando uma das mãos nos
cabelos dela enquanto a outra deslizava pelo seu vestido. Empurrou-a com o
corpo até ela sentir a parede fria da galeria contra a pele nua de suas
costas.
– Nunca mais quero ver outro homem pôr as mãos em você.
Ele forçou a língua na boca de Julia, obrigando-a a abrir os lábios,
enquanto deslizava a mão pela curva de suas nádegas, massageando a
carne com os dedos.
Na mesma hora Julia percebeu que ele havia sido cuidadoso todas as
vezes em que a tocara. Mas não agora. Parte dela estava em chamas,
desesperada por recebê-lo. Outra parte se perguntava o que ele faria se ela
o mandasse parar...
Gabriel levantou a perna esquerda de Julia, apertando a coxa dela contra
seu próprio quadril.
Ela o sentiu através do tecido do vestido, ouvindo o tafetá de seda
farfalhar, como se fosse o sussurro de uma mulher ofegante. O vestido
sem dúvida queria mais.
– O que preciso fazer para torná-la minha? – rosnou ele, a boca colada
na dela.
– Eu sou sua.
– Não esta noite, ao que parece. – Gabriel sugou o lábio inferior dela
para dentro da boca, mordiscando-o de leve. – Não entendeu minha
palestra? Cada palavra, cada pintura foi para você.
Sua mão subiu pela saia do vestido de Julia, percorrendo sua coxa até
chegar à tira de pano que se estendia em volta do quadril dela.
Ele recuou para olhar seu rosto.
– Não está usando cinta-liga hoje?
Ela balançou a cabeça.
– Então o que é isto? – Os dedos dele puxaram a tira muito fina.
– Uma calcinha – sussurrou ela.
Os olhos dele brilharam na penumbra.
– Que tipo de calcinha?
– Uma tanga.
Gabriel abriu um sorriso perigoso antes de colar os lábios à orelha dela.
– E devo supor que a vestiu para mim?
– Só para você. Sempre.
Sem aviso, Gabriel a levantou, pressionando-a contra a parede. Levando
os lábios ao seu pescoço, ele colou o quadril ao dela. Os saltos longos e
finos dos sapatos de Julia se cravaram logo acima das nádegas dele. Ele a
encarou com seus olhos azuis, alucinados.
– Quero você. Agora.
Com uma das mãos, Gabriel puxou a tira de pano até ela se rasgar. De
repente, Julia se viu nua. Ele estendeu a mão para trás, para esconder a
tanga no bolso do paletó, e os saltos dela se moveram, enterrando-se no
traseiro dele com tanta força que ele se encolheu.
– Você tem ideia de quanto achei difícil me controlar depois da palestra?
Como ansiei por ter você nos meus braços? Ficar jogando conversa fora foi
uma tortura quando tudo o que eu queria era isto. Quem dera você pudesse
ver como fica sexy com as costas contra a parede e as pernas em volta de
mim. Quero você assim, mas sussurrando meu nome, ofegante.
Gabriel deslizou a língua pela base do pescoço de Julia, e ela fechou os
olhos. O desejo dela lutava contra sua mente, que a incitava a empurrá-lo
para longe, parar e pensar por alguns instantes. Quando estava nesse
estado de espírito, Gabriel era perigoso.
De repente, Julia ouviu vozes ecoando pelo corredor e arregalou os olhos.
Os sons de passos e risadas animadas se aproximaram. Gabriel ergueu
a cabeça, levando os lábios à orelha dela.
– Não dê um pio – sussurrou.
Ela sentiu os lábios dele se curvarem num sorriso, pressionados em sua
pele.
Os passos pararam a poucos metros de distância e Julia ouviu duas
vozes masculinas conversando em italiano. Seu coração continuou acelerado
enquanto ela tentava ouvir algum sinal de movimento. Gabriel continuou a
acariciá-la de leve, tapando a boca de Julia com a dele, abafando seus
gemidos. De vez em quando, sussurrava palavras sensuais para ela: frases
que a faziam ruborizar-se.
Uma das vozes masculinas riu alto. Julia ergueu a cabeça, surpresa, e
Gabriel aproveitou a chance para beijar seu pescoço, mordiscando a pele
delicada.
– Por favor, não me morda.
As vozes ecoavam em volta deles. Demorou um pouco, mas por fim o
significado das palavras dela conseguiu vencer a excitação frenética de
Gabriel. Ele levantou a cabeça, afastando-se do pescoço de Julia.
Com seus peitos unidos daquele jeito, ele podia sentir o coração dela.
Fechou os olhos, como se arrebatado pelo seu ritmo acelerado. Quando
tornou a abri-los, as chamas já haviam se apagado quase por completo.
Julia havia se esmerado em esconder a marca da mordida de Simon com
maquiagem, mas Gabriel a encontrou com o dedo, contornando-a de leve
antes de beijá-la. Ele expirou muito devagar e balançou a cabeça.
– Você é a primeira mulher que diz não para mim.
– Não estou dizendo não.
Ele olhou por sobre o ombro e viu dois homens mais velhos entretidos
numa conversa. Estavam perto o suficiente para vê-lo, se olhassem em sua
direção.
Ele voltou a encarar Julia e abriu um sorriso triste.
– Você merece mais do que ser possuída contra a parede por um
amante ciumento. E não estou interessado em ser flagrado pelo nosso
anfitrião. Peço desculpas.
Ele a beijou e esfregou o polegar debaixo do seu lábio inferior inchado,
limpando uma pequena mancha de batom vermelho de sua pele clara.
– Não vou arruinar a confiança que vi em seus olhos ontem à noite.
Quando eu estiver com a cabeça no lugar e tivermos o museu só para nós
dois... – A expressão dele ficou carregada enquanto fantasiava com aquilo. –Talvez em outra ocasião.
Ele tirou os saltos de Julia de cima de suas nádegas e a pôs de pé,
inclinando-se para ajeitar a saia de seu vestido. O tafetá farfalhou sob o
toque dele e então pareceu se calar com tristeza.
Por sorte, o dottore Vitali e seu companheiro escolheram aquele exato
momento para voltar à festa, o som de seus passos ficando cada vez mais
baixo à medida que eles se afastavam.
– O banquete será servido daqui a pouco. Seria um insulto eu ir embora
agora. Mas, quando levar você para o hotel... – Ele cravou os olhos nos dela.
– Nossa primeira parada vai ser na parede junto à porta do nosso quarto.
Julia assentiu, aliviada por ele não estar mais zangado. Na verdade, ainda
se sentia um pouco nervosa, mas muito excitada diante da perspectiva de
fazer sexo contra a parede.
Ele ajeitou a calça e abotoou o paletó, forçando seu corpo a se acalmar.
Tentou arrumar o cabelo, mas só conseguiu ficar mais parecido com
alguém que acabara de arrastar a amante para fazer sexo num canto
escuro do museu.
Sexo no museu é motivo de especial arrependimento para certos
acadêmicos. (Mas não deve ser desdenhado antes de se experimentar.)
Julia penteou o cabelo dele e endireitou sua gravata, conferindo seu rosto
e seu colarinho em busca de marcas de batom. Quando terminou, ele pegou
a bolsa e a pashmina dela, que também havia caído no chão, e as devolveu
a Julia com um beijo. Com um sorriso malicioso, ajeitou a calcinha no bolso
do paletó para que ela não ficasse à mostra.
Ela deu um passo hesitante, descobrindo que a ausência da calcinha lhe
dava uma surpreendente sensação de liberdade.
– Eu poderia beber você como se fosse uma taça de espumante –
sussurrou ele.
Ela ficou na ponta dos pés para beijar seu rosto.
– Gostaria que você me ensinasse seus truques de sedução.
– Só se você me ensinar a amar como você ama.
Gabriel a conduziu pelo corredor vazio e escadas abaixo até o primeiro
piso, onde o banquete estava começando.
O professor Pacciani voltou cambaleando para seu apartamento em frente ao Palazzo Pitti nas primeiras horas da madrugada – o que não era nada
incomum.
Ele se atrapalhou com as chaves, praguejando ao deixá-las cair no chão,
e entrou no flat, fechando a porta atrás de si. Foi até o pequeno quarto
onde seus dois filhos de 4 anos dormiam, beijou-os e depois se arrastou até
seu escritório.
Fumou preguiçosamente um cigarro enquanto esperava o computador
iniciar, então acessou sua conta de e-mail. Ignorou a caixa de entrada e
escreveu uma breve mensagem para uma ex-aluna e amante. Os dois não
se falavam desde a formatura dela.
Ele mencionou ter conhecido o professor Emerson e sua jovem fidanzata
canadense. Embora ele tivesse ficado impressionado com a monografia de
Emerson, publicada pela Oxford University Press, a palestra do professor
lhe deu uma impressão de pseudointelectualidade que não tinha espaço num
discurso acadêmico. Ou bem se era intelectual e acadêmico, ou bem se era
um palestrante interessado em entreter o público. As duas coisas era
impossível. Pacciani perguntou, de forma grosseira, se as coisas seriam
assim nas universidades da América do Norte.
Ele concluiu seu e-mail com uma sugestão explícita e detalhada de um
futuro encontro sexual, possivelmente no final da primavera. Então terminou
seu cigarro no escuro e se juntou à esposa na cama de casal.
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julgamento de Gabriel
RomanceFlorença, 1290 poeta deixou o bilhete cair no chão com a mão trêmula. Ficou alguns instantes sentado, imóvel como uma estátua. Então, cerrando os dentes com força, levantou-se e atravessou sua casa em alvoroço, ignorando mesas e objetos frágeis, des...