Na manhã seguinte, uma limusine foi buscar o feliz casal na estação
ferroviária de Perúgia. O motorista os conduziu pelas estradas sinuosas até
uma propriedade perto de Todi, um vilarejo medieval.
– Esta é a vila?
Julia ficou maravilhada enquanto eles subiam o longo passeio particular
em direção ao que parecia uma mansão no topo de uma colina. Era uma
construção de pedra de três andares, erguida em meio a um terreno de
vários acres, salpicado de ciprestes e oliveiras.
Gabriel apontou um grande pomar que, quando o clima estava mais
quente, dava figos, pêssegos e romãs. Ao lado da vila, havia uma piscina
sem borda cercada de arbustos de alfazema. Julia quase conseguia sentir o
cheiro das flores de dentro do carro e prometeu a si mesma que colheria
alguns ramos para perfumar os lençóis da cama deles.
– Gostou? – Ele olhava para ela com ansiedade, esperando que a
surpresa a tivesse agradado.
– Adorei. Quando você disse que tinha alugado uma vila, não imaginei
que fosse tão luxuosa.
– Espere até ver por dentro. Eles têm uma lareira e uma banheira
aquecida no terraço do andar de cima.
– Eu não trouxe roupa de banho.
– E quem disse que vai precisar? – Ele arqueou as sobrancelhas de modo
sugestivo e Julia riu.
Um Mercedes preto estava estacionado na entrada para carros, para que
eles pudessem visitar os vilarejos vizinhos, incluindo Assis, destino pelo
qual Julia tinha um interesse especial.
O caseiro havia abastecido a cozinha com comida e vinho. Julia revirou
os olhos ao descobrir na despensa várias garrafas de suco de cranberry
importado.
Professor Gabriel “Superprotetor” Emerson volta a atacar.
– O que você acha? – perguntou Gabriel, pousando a mão na cintura
dela, os dois lado a lado na cozinha grande e completamente equipada.
– É perfeito.
– Tive medo de que você não fosse gostar de estar no meio da Úmbria.
Mas achei que seria bom passarmos alguns dias tranquilos a sós.
Julia arqueou uma sobrancelha.
– Nossos dias a sós não costumam ser tranquilos, professor.
– Isso porque você me enlouquece de desejo. – Ele a beijou com paixão.
– Vamos ficar em casa hoje à noite. Podemos cozinhar juntos, se quiser, e
talvez relaxar diante da lareira.
– Acho ótimo. – Ela o beijou de volta.
– Vou levar nossas malas lá para cima enquanto você explora a casa. A
banheira aquecida fica no terraço, bem em frente ao quarto principal.
Encontro você nela daqui a quinze minutos.
Ela concordou com um sorriso.
– Ah, Srta. Mitchell...
– Pois não?
– Nada de roupas pelo resto da noite.
Ela deu um gritinho e subiu correndo as escadas.
A decoração da casa era de muito bom gosto, com seus vários tons de
creme e branco, e no segundo piso havia um quarto principal bastante
romântico, cujo destaque era uma cama com dossel. Julia se deitou para
testar a cama por alguns instantes, antes de levar sua nécessaire para o
banheiro.
Ela arrumou seus produtos de beleza e colocou o xampu e o gel de
banho no boxe grande e aberto. Prendeu o cabelo e tirou todas as roupas,
enrolando-se numa toalha cor de mármore. Nunca havia nadado nua, mas
estava louca para experimentar.
Enquanto dobrava as roupas e as guardava na penteadeira, ouviu uma
música vindo do quarto. Reconheceu a canção: “Don’t Know Why”, de Norah
Jones. Gabriel pensava em tudo.
Sua voz à porta do banheiro confirmou isso:
– Trouxe alguns antipasti e uma garrafa de vinho, caso esteja com
fome. Estou esperando lá fora.
– Já vou – respondeu ela.
Julia se olhou no espelho. Seus olhos brilhavam de excitação e suas
faces exibiam um saudável tom rosado. Ela estava apaixonada. Sentia-se
feliz. E, ao que tudo indicava, estava prestes a batizar a banheira aquecida
com seu amado sob o céu negro da Úmbria.
Enquanto se encaminhava para o terraço, viu as roupas de Gabriel
penduradas nas costas de uma cadeira. A brisa fresca da noite soprava pela
porta aberta, despenteando os cabelos de Julia e fazendo sua pele ficar
ainda mais corada. Gabriel estava nu, à sua espera.
Ela saiu para o terraço e esperou até ter toda a atenção dele para si. Só
então largou a toalha.
Nos arredores de Burlington, Vermont, Paul Virgil Norris embrulhava os
presentes de Natal sobre a mesa da cozinha da casa de seus pais:
presentes para a sua família, para sua irmã e, por fim, para a mulher por
quem seu coração sofria.
Talvez fosse surpreendente ver um jogador de rúgbi de 90 quilos cercado
de fita adesiva e de rolos de papel de presente natalino, tirando medidas de
forma metódica antes de cortar o papel. Uma garrafa de xarope de bordo,
uma vaca Holstein de pelúcia e dois bonecos estavam orgulhosamente
dispostos à sua frente. Os bonecos eram uma curiosidade que ele havia
encontrado numa loja de revistas em quadrinhos de Toronto. Um
representava Dante, vestido como um cruzado com a cruz de São Jorge
estampada no peito da cota de malha; o outro era uma anacrônica Beatriz
loura de olhos azuis, vestida como uma princesa medieval.
Infelizmente, a empresa que produzia os brinquedos não se deu o
trabalho de fazer um de Virgílio. (Virgílio, pelo jeito, não merecia participar
da brincadeira.) Paul discordava, então decidiu escrever para a empresa
para alertá-la daquela lamentável omissão.
Ele embrulhou cada item com atenção e os colocou numa caixa de
papelão com plástico-bolha. Escreveu algumas palavras num cartão de
Natal, esforçando-se ao máximo para soar casual e disfarçar seus
sentimentos cada vez mais intensos, e fechou a caixa com fita adesiva,
endereçando-a com uma letra caprichada à Srta. Julianne Mitchell.
Depois de momentos muito agradáveis na banheira aquecida, Gabriel
preparou um jantar típico da região da Úmbria. Bruschetta con pomodoro e
basilico, tagliatelle com azeite de oliva e trufas pretas colhidas na
propriedade, uma tábua de queijos artesanais da região e pão. Eles
comeram à vontade, rindo e bebendo um delicioso vinho branco de Orvietto
à luz de velas. Depois do jantar, Gabriel preparou um ninho de cobertores e
travesseiros no chão diante da lareira da sala de estar.
Conectou seu iPhone no aparelho de som para que continuassem ouvindo
sua lista de músicas intitulada “Fazendo Amor com Julia”. Então a tomou
nos braços e eles ficaram sentados assim, terminando suas taças de vinho,
os sons de cânticos medievais rodopiando ao redor deles. Estavam nus,
envolvidos pelas cobertas e sem nenhum pudor.
– Que música linda! Como se chama? – Ela fechou os olhos e se
concentrou nas vozes femininas, que cantavam a cappella.
– “Gaudete”, do grupo The Mediæval Bæbes. É uma cantiga de Natal.
– Que nome curioso para uma banda.
– Elas são muito talentosas. Fui ao show quando estiveram em Toronto
pela última vez.
– Ah, é?
Gabriel abriu um sorriso malicioso para ela.
– Está com ciúmes, Srta. Mitchell?
– Deveria?
– Não. Tenho tudo o que quero nos meus braços.
Eles começaram a se beijar. Logo seus corpos nus estavam entrelaçados
diante da lareira.
Sob o brilho das chamas alaranjadas, Julia deitou Gabriel de costas e
montou seus quadris. Ele sorriu enquanto a deixava assumir o controle,
recebendo de braços abertos sua recém-descoberta confiança.
– Não é tão assustador assim ficar por cima, é?
– Não. Mas agora estou mais à vontade com você. Acho que o sexo na
parede do hotel acabou com as minhas inibições.
Ele se perguntou em silêncio de que outras inibições poderia libertá-la
fazendo sexo em outros lugares, como no chuveiro, por exemplo. Ou,
talvez, o cálice sagrado do coito doméstico: sexo na mesa da cozinha.
A voz dela interrompeu seus pensamentos:
– Quero lhe dar prazer.
– Você já me dá. Muito.
Julia estendeu a mão para trás e tocou de leve a virilha dele.
– Com a boca. Eu me sinto mal por ainda não ter retribuído. Você tem
sido muito generoso.
O corpo de Gabriel reagiu à voz sussurrada dela e à sua mão hesitante.
– Julianne, isso não é uma troca de favores. Eu faço isso com você
porque quero. – Os lábios dele se curvaram num meio sorriso. – Mas, já
que você está oferecendo...
– Sei que os homens gostam disso.
Ele encolheu os ombros.
– Sexo bem-feito sempre vai ser melhor. Em comparação, todo o resto
não passa de um amuse-bouche. – Ele piscou de um jeito safado, apertando
o quadril dela para enfatizar o que dizia.
– Esta posição está boa? Com você deitado ou...?
– Está ótimo – sussurrou ele, os olhos subitamente incendiados.
– Acho que vai ser melhor do que se eu ficar de joelhos. – Pelo canto do
olho, Julia observou a reação dele.
– Exatamente. Eu, por outro lado, ficaria feliz em me ajoelhar diante da
minha Princesa para lhe dar prazer, como já provei em outras ocasiões.
Julia riu baixinho. Mas então seu sorriso desapareceu.
– Preciso lhe contar uma coisa.
Gabriel ergueu um olhar curioso para ela.
– Eu tenho ânsia de vômito.
Um vinco surgiu entre as sobrancelhas dele.
Julianne evitou a expressão intrigada no rosto dele enquanto sua mão
descia mais um pouco.
– Com muita facilidade.
Gabriel fechou a mão sobre a dela.
– Não vai ser um problema, querida. Eu prometo. – Ele apertou a mão de
Julia.
Ela desceu mais um pouco e Gabriel começou a entrelaçar os dedos em
seus cabelos, puxando-os de leve, brincando com eles.
Julia congelou.
Distraído por um instante, ele continuou a brincar com seus cabelos
longos e sedosos. Então percebeu que ela não estava se mexendo.
– O que foi?
– Por favor, não force minha cabeça para baixo.
– Eu não pretendia fazer isso – respondeu ele, parecendo perturbado.
Julia ficou totalmente imóvel, esperando. Gabriel não sabia pelo quê. Por
fim, soltou os cabelos dela para erguer seu queixo.
– Querida?
– Hum... é só que não quero vomitar em cima de você.
– Como?
Ela baixou a cabeça.
– Eu já... vomitei... antes.
– Como assim? Depois?
– Hum, não.
Gabriel ficou calado por alguns instantes, então estreitou os olhos.
– Você passou mal porque engasgou ou porque aquele desgraçado
segurou sua cabeça à força?
Ela se encolheu, assentindo de forma quase imperceptível com a cabeça.
Gabriel praguejou, ardendo de raiva. Ele se sentou depressa, esfregando o
rosto com as mãos.
No passado, não tinha sido muito carinhoso com suas parceiras, embora
se orgulhasse de sempre ter mantido algum vestígio de boas maneiras.
Menos quando usava cocaína. Apesar de ter participado de orgias, festas
que por vezes se aproximavam da decadência romana, ele nunca havia
segurado a cabeça de uma mulher à força até ela vomitar. Ninguém fazia
isso. Nem mesmo os traficantes e viciados com os quais costumava andar
– e olhe que eles eram o tipo de pessoa que não tem limites ou escrúpulos.
Só mesmo um filho da puta incrivelmente doentio, pervertido e misógino
teria prazer em humilhar uma mulher daquela forma.
Submeter Julianne a uma coisa dessas, com seus olhos bondosos e sua
linda alma... Uma criatura tão tímida que tinha vergonha de engasgar. O
filho do senador tinha sorte por estar escondido na casa dos pais, em
Georgetown, com sua sentença suspensa e sua ação cautelar. Do contrário,
Gabriel teria batido à sua porta para continuar a briga que havia começado.
E a conversa entre eles terminaria com mais do que alguns socos.
Ele afastou aqueles pensamentos homicidas da cabeça, pondo Julia de pé
e envolvendo-a em um dos cobertores.
– Vamos subir.
– Por quê?
– Porque não posso ficar sentado aqui depois do que você me contou.
As faces de Julia ficaram vermelhas de vergonha e seus olhos grandes
se encheram de lágrimas.
– Ei. – Gabriel pressionou os lábios na testa dela. – A culpa não é sua.
Entende o que eu digo? Você não fez nada de errado.
Ela abriu um sorriso fraco, mas estava claro que não acreditava nele.
Gabriel a conduziu ao andar de cima e atravessou o quarto até a suíte,
fazendo-a entrar antes de fechar a porta atrás de si.
– O que está fazendo?
– Algo de bom. Pelo menos é o que espero. – Ele deslizou o polegar pela
curva do rosto dela.
Gabriel abriu a ducha, testando a temperatura da água até ficar
satisfeito. Ajustou o fluxo até a água cair gentilmente do chuveiro de teto
estilo “banho de chuva”. Retirou devagar o cobertor do corpo de Julia e
segurou a porta do boxe aberta, esperando que ela entrasse, para só então
acompanhá-la.
Ela parecia confusa.
– Quero mostrar que amo você – sussurrou ele. – Sem levá-la para a
cama.
– Por favor, me leve para a cama – implorou Julia. – Para que nossa
noite não seja um completo desastre.
– Nossa noite não é um desastre – disse ele, irritado. – Mas nunca
deixarei, de forma alguma, que voltem a machucá-la. – Ele acariciou seus
cabelos com as mãos, separando-os e movendo-os para que cada mecha
ficasse molhada.
– Você me acha suja.
– Pelo contrário. – Gabriel tomou a mão dela e a pressionou na tatuagem
em seu peito. – Você é a coisa mais próxima de um anjo que terei a
chance de tocar. – Ele fitou os olhos de Julia sem piscar. – Mas acho que
nós dois precisamos nos purificar dos nossos passados.
Ele afastou os cabelos dela para o lado e deu um beijo em seu pescoço.
Recuando um passo, despejou um pouco do xampu de baunilha de Julia na
palma da mão. Espalhou o líquido no couro cabeludo dela, esfregando devagar, deslizando os dedos pelos cachos até as pontas. Seus movimentos
eram cuidadosos. Nunca tivera oportunidade de demonstrar, através de seus
atos, que seu amor por ela era muito mais profundo do que uma atração
sexual. Aquele era o momento.
Conforme Julia começava a relaxar, sua mente voltou a uma das poucas
recordações felizes que tinha da mãe. Ela era uma garotinha e Sharon
lavava seus cabelos numa banheira. Ela se lembrava de as duas estarem
rindo. Lembrava-se do sorriso da mãe.
Ter Gabriel lavando seus cabelos era muito melhor. Era uma experiência
profundamente afetuosa e íntima. Ela estava nua diante dele, que lavava
toda a sua vergonha.
Ele também estava nu, mas tomava o cuidado de não sufocá-la nem
permitir que sua excitação um pouco constrangedora roçasse nela. O que
interessava ali não era o sexo, mas fazer com que Julia se sentisse amada.
– Sinto muito por ter ficado tão emotiva – falou ela, baixinho.
– Sexo deve ser emotivo. Você não precisa esconder seus sentimentos
de mim. – Gabriel envolveu a cintura dela com os braços. – Também tenho
emoções muito fortes com relação a nós dois. Esses últimos dias foram os
mais felizes da minha vida.
Ele descansou o queixo no ombro dela.
– Você era muito tímida aos 17 anos, mas não me lembro de estar tão
machucada.
– Eu deveria tê-lo largado na primeira vez que ele foi cruel comigo. – A
voz dela ficou trêmula. – Mas não fiz isso. Não fui capaz de me defender e
as coisas pioraram.
– Não foi culpa sua.
Ela se encolheu.
– Eu fiquei com ele. Agarrei-me às vezes em que ele era gentil ou
atencioso, esperando que os momentos ruins fossem desaparecer. Sei que
você ficou enojado com o que eu disse, mas, Gabriel, acredite: ninguém
poderia ter mais nojo de mim do que eu mesma.
– Julia – atalhou ele com um suspiro, virando o rosto dela para que o
encarasse. – Não tenho nojo de você. Não importa o que tenha feito,
ninguém merece ser tratado assim. Está me ouvindo? – Uma chama azul
perigosa brilhou em seus olhos.
Ela cobriu o rosto com as mãos.– Queria fazer algo por você. Mas não sirvo nem para isso.
Gabriel puxou os punhos dela, baixando suas mãos.
– Preste atenção. Nós nos amamos e tudo o que existe entre nós,
inclusive o sexo, é uma dádiva. Não um direito, uma obrigação ou uma
cobrança, mas uma dádiva. Você tem a mim agora. Liberte-se dele.
– Ainda ouço a voz dele na minha cabeça. – Ela secou uma lágrima
solitária.
Gabriel balançou a cabeça, movendo-os para que eles ficassem no centro
da ducha, a água quente se derramando sobre seus corpos.
– Você se lembra do que falei em minha palestra sobre A primavera de
Botticelli?
Ela assentiu.
– Há quem pense que A primavera é sobre o despertar sexual, que parte
da pintura é uma alegoria para um casamento arranjado. A princípio, Flora é
virgem e está com medo. Quando está grávida, parece serena.
– Sempre achei que Zéfiro a houvesse estuprado.
O rosto de Gabriel ficou tenso.
– E estuprou mesmo. Apaixonou-se por Flora depois e se casou com ela,
transformando-a na deusa das flores.
– Não é uma boa alegoria para o casamento.
– Não, não é. – Ele engoliu em seco. – Julia, embora algumas de suas
experiências tenham sido traumáticas, você ainda pode ter uma boa vida
sexual. Quero que saiba que está segura nos meus braços. Não quero que
faça nada de que não goste e isso inclui sexo oral.
Gabriel passou um braço em volta da cintura dela, sentindo a água
quente escorrer por seus corpos nus antes de respingar nos azulejos aos
seus pés.
– Só estamos dormindo juntos há uma semana. Temos a vida inteira
para nos amarmos, de várias maneiras.
Com uma esponja, ele ensaboou a nuca e os ombros dela, em silêncio e
com ternura. Então percorreu suas costas, deslizando pela coluna, detendo-
se vez por outra para pousar os lábios onde a espuma já havia sido
enxaguada.
Lavou a base das suas costas e as duas covinhas que marcavam o início
de sua bunda. Sem hesitar, ensaboou as nádegas de Julia, massageando a parte de trás das suas pernas. Chegou até a lavar seus pés, pegando-lhe a
mão para apoiá-la em seu ombro para que ela não perdesse o equilíbrio
enquanto ele limpava entre os seus dedos.
Julia nunca havia se sentido tão bem cuidada na vida.
Em seguida, Gabriel se dedicou à parte da frente do seu pescoço e ao
relevo dos seus ombros. Lavou e acariciou-lhe os seios, colocando a esponja
de lado enquanto os beijava. Então tocou-a com carinho entre as pernas, de
um jeito não sexual, mas reverente, enxaguando a espuma que havia se
acumulado entre seus pelos negros e, por fim, colando sua boca ali
também.
Quando terminou, tomou Julia nos braços e a abraçou como um
adolescente tímido, de forma casta e simples.
– Você está me ensinando a amar e suponho que eu esteja lhe ensinando
a amar também, de certa forma. Não somos perfeitos, mas podemos ser
felizes. Não podemos? – Ele recuou para fitar seus olhos.
– Podemos – respondeu ela, os olhos cheios de lágrimas.
Gabriel a apertou contra o peito e enterrou o rosto em seu pescoço,
deixando a água caír sobre eles.
Emocionalmente exaurida, Julianne dormiu até o meio-dia. Na noite anterior,
Gabriel tinha sido muito carinhoso, muito gentil. Havia prescindido daquilo
que Julia sempre acreditara ser a necessidade básica de um homem – sexo
oral – e lhe oferecera algo que só poderia ser descrito como a purificação
da sua vergonha. O amor e a aceitação tinham alcançado o efeito
pretendido, de serem transformadores.
Ao abrir os olhos, ela se sentiu mais leve, mais forte e mais feliz.
Carregar os segredos de como ele a havia humilhado tinha se mostrado um
fardo muito pesado. Quando o peso foi retirado de seus ombros, ela se
sentiu uma nova pessoa.
Embora talvez fosse uma blasfêmia comparar sua experiência com a
parábola cristã do Progresso do peregrino, ela via semelhanças importantes
entre suas redenções. A verdade liberta, mas o amor expulsa o medo.
Em seus 23 anos, Julia ainda não havia percebido como a graça estava
em tudo e como Gabriel, que se considerava um grande pecador, poderia
ser um catalisador dessa graça. Isso era parte da divina comédia – o senso
de humor de Deus reforçando os mecanismos internos do universo. Pecadores ajudavam outros pecadores a se redimirem, fé, esperança e
caridade triunfavam sobre a descrença, o desespero e o ódio, enquanto o
Um que chama todas as criaturas para Si observava e sorria.
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julgamento de Gabriel
RomanceFlorença, 1290 poeta deixou o bilhete cair no chão com a mão trêmula. Ficou alguns instantes sentado, imóvel como uma estátua. Então, cerrando os dentes com força, levantou-se e atravessou sua casa em alvoroço, ignorando mesas e objetos frágeis, des...