CAPÍTULO 63

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Sabe quando você faz uma merda, mas é de modo involuntário (se bem que ninguém faz merda de modo voluntário)? Pois bem, foi o que aconteceu com Rebecca e eu na casa de Normani. Eu estava concentrada em outra coisa quando Rebecca me fez aquela pergunta e acabei sendo grosseira e insensível sem querer, digo, eu geralmente sou bastante grosseira de modo geral e perguntas idiotas me irritavam de maneira inexplicável, mas não foi o que aconteceu com Rebecca.

Bem, o fato era que eu precisava me desculpar com minha namorada. Ela havia dito "só não aparece mais na minha frente hoje", isso queria dizer que eu poderia aparecer na frente dela no dia seguinte. Por esse motivo, eu havia ido ao mercado na noite anterior e comprado duas pencas de bananas e passado as duas horas seguintes customizando um laço parecido com os que eu fazia quando deixava as bananas na porta dela na época da Lacinho I.

No dia seguinte, coloquei as duas pencas numa
cestinha e fixei o laço nelas. Vesti minha melhor roupa casual, tomei dois banhos, penteei os cabelos e perdi uns quinze minutos em frente ao espelho treinando minha melhor expressão inocente e fofa e esperei minha mãe ir fazer sua caminhada matinal com Sinu. Eu sabia que visitar Rebecca na parte da manhã não seria uma ótima escolha para conseguir o seu perdão porque ela era um demônio logo após acordar, mas eu queria encontra-la quando estivesse sozinha e também estava ansiosa para resolver tudo.

Parei em frente à sua porta, com a cesta embaixo do braço e toquei a campainha. Enquanto aguardava ser atendida, ajeitei minha camisa, fiz minha expressão inocente e segurei a cesta com as bananas nas duas mãos.

Quando a porta foi aberta, eu inspirei fundo, enchendo de oxigênio os meus pulmões novos que ainda estavam em fase experimental, quando vi a imagem de Rebecca. Ela estava com os cabelos completamente desgrenhados, como se houvesse sido atacada por guaxinins, seu olhar era baixo por conta do sono e ela mastigava alguma coisa invisível como uma vaca comendo capim. Ela usava uma camisa grande demais, seus pés estavam descalços e havia algo branco azulado no canto de sua boca, que julguei ser creme dental.

Eu nunca a vi tão linda.

- Becky, eu trouxe para voc...

- Shrr... - Eu fiquei em silêncio sem saber o que fazer e ela pegou a cesta de minhas mãos e entrou, deixando a porta aberta e eu vi aquilo como um convite para entrar também. Ainda em silêncio, ela foi até a cozinha e deixou a cesta em cima da mesa antes de voltar para mim e segurar minha mão, puxando-me em direção à escada. Eu não estava entendendo porra nenhuma, e isso estava causando uma ansiedade enorme em mim. As pontas dos meus dedos estavam formigando, meu estômago queimava de uma forma inexplicável, minha cabeça zumbia, meu coração queria rasgar o meu peito e tudo isso com ela apenas segurando a minha mão.

Fui levada até seu quarto e instante em que coloquei os pés no cômodo, fui surpreendida com um abraço. Seus braços se apertavam fortemente ao redor da minha cintura, como se fossem arrebentar a qualquer momento e sua respiração calma batia de encontro ao meu pescoço, fazendo-me arrepiar dos pés à cabeça. Eu não conseguia formar nenhum raciocínio coerente com aquele gesto, mas meu corpo respondia a ela como dois polos de um imã que se atraem buscando alinhamento.

- Becky... - Eu pensei em perguntar se ela ainda estava aborrecida comigo, mas não tive a oportunidade porque suas mãos abarcaram o meu rosto e seus lábios me calaram, fazendo com que eu inspirasse rapidamente em busca de ar, tomada pela surpresa de seu beijo repentino. Sem nenhum movimento, permanecemos com os lábios unidos e eu me permiti fechar os olhos e apenas sentir o leve e intenso contato.

Pode parecer contraditório, mas aquele beijo estava sendo daquela maneira, leve, intenso, fazendo tudo dentro de mim se revirar e crescer como se fosse explodir a qualquer momento. E então eu me lembrei do nosso primeiro beijo, que havia sido exatamente daquela maneira, causando em mim os mesmos sentimentos e eu jurei para mim mesma que poderia morrer daquela maneira. Eu poderia morrer nos lábios de Rebecca.

Isso Seria Mais Um Clichê- FreenBecky Onde histórias criam vida. Descubra agora