15# - Sra. Lúcifer

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- Tenho tanta preguiça, mas parece que hoje é o meu dia de cozinhar, pelo menos só preciso fazer para mim e Naomi - monologuei entrando na cozinha bocejando. Era quase meio-dia e eu estava com pouca vontade de fazer alguma coisa hoje, então meti a panela no fogão, mas tive de pegar rapidamente a pistola que estava escondida no armário para apontar em Lúcifer que estava sentado na mesa olhando para mim - Que porra você está fazendo aqui?

- A uns dias atrás, eu finalmente sentei para assistir a um filme meio antigo, acho que tem 20 e poucos anos, um colega de trabalho insistiu para que eu assistisse, e digamos que a premissa do filme era única para a época que foi lançado - disse ele puxando a outra cadeira para eu sentar - Consistia em um homem que a partir de uma simples decisão proposta por um grupo de estranhos, acorda na verdadeira realidade, onde maquinas dominaram o mundo e os humanos ficam presos em cápsula semelhantes a um útero enquanto são induzidos a uma realidade criada por um computador.

- Eu já vi esse filme, até que é legalzinho - respondi sentando, mas sempre com a pistola apontada para ele - Mas isso não responde a minha pergunta...

- É que em uma cena, um dos amigos do protagonista o trai e em troca ele queria voltar de vez para a simulação sem as memorias que ele possuía, tal como o resto dos humanos presos nela, e quando perguntaram o porquê, sabe qual foi a resposta dele? - olhou para mim, e eu apenas fiz sinal para ele continuar. Eu nem tinha noção de onde ele queria chegar com aquele monólogo - "A ignorância é uma benção", e no princípio eu não liguei, mas agora eu entendi.

- Sabes muito bem que aqui não é um consultório, e eu não sou psicóloga...

- Podes simplesmente calar por um segundo e tentar raciocinar comigo..., e se a verdade fosse demasiado cruel, você preferia viver totalmente em uma ilusão do que na realidade?

- Vendo desse jeito, sim, até porque eu não iria querer viver a minha vida inteira com aquilo preso na minha cabeça - em um segundo passou na minha mente o rosto do miúdo que torturei, mas abanei levemente a cabeça para os lados e olhei para Lúcifer - Onde você quer chegar com todo esse lenga-lenga?

- No momento que convenci aqueles dois a comer a fruta proibida, o meu objetivo era simplesmente desafiar ele, porque eu sabia que quanto maior é a ignorância, mais fácil a pessoa pode ser controlada - pousou os dois cotovelos na mesa, permitindo que ele cruzasse os dedos das mãos - E mais de 7 mil anos depois, os humanos ainda me culpam pelas merdas que eles próprios fazem dizendo que são obras minhas, tentando esquecer que a palavra "livre-arbítrio" existe.

- Você lavou os olhos de quem nem reclamava que estavam cheios de lama, e pensou que todo mundo iria simplesmente te endeusar? - pousei a pistola na mesa e comecei a fazer alguns gestos ilustrando o que eu estava falando - Eu tenho a certeza que todo mundo trocaria tudo isso a nossa volta por um lugar no Éden sem nenhum conhecimento das coisas erradas que eramos capazes de fazer, e você se deu o direito de chegar e tirar esse privilégio de nós.

- Pelo menos a escolha foi dada a vocês, e não a mim! - Ele disse aquilo levantando de sua cadeira e batendo na mesa, e dava para ver a raiva no fundo de seus olhos que emitiam a cor roxa, mas rapidamente ele voltou a si e ajustou a sua gravata - Vamos deixar isso de lado por agora, eu vim pegar a minha esposa Lilith, que pelos vistos atravessa meio mundo só para fuder a sua coleguinha morena.

- Espera aí, deixa ver se eu entendi, você está dizendo que Lilith, uma entidade mitológica religiosa, existe e é sua esposa, e está neste exato momento no quarto transando com Naomi? - Por um segundo eu não acreditei, já que quase todas as religiões negam a existência dela, mas não me admiraria se ela tivesse sido excluída para que Adão não fosse apenas considerado o primeiro humano a ser criado, mas também o primeiro corno da história - E você espera que eu simplesmente engula isso?

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