Dia 12

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DIA 12 - BANHO

[ HARRY ]

- A nossa salvação durante os próximos dias.

- Bastante profundo. E que tal se fosses direto ao assunto? - Ruby aproxima-se de mim tentando avistar a preciosa mala nas minhas mãos, colocando levemente a sua mão no meu ombro, movendo-se atrás de mim, sempre de olhos bem abertos, curiosa com o objeto.

Bufa de frustração assim que o meu corpo não a deixa percorrer com o olhar esta, pois o meu peso balançava ao mesmo tempo que se mexia.

- Será que podias parar quieto um segundo?

Cruza os braços no peito e assim que a deixo visualizar a mala, um grito de alegria e histeria soa pela ilha. Encolho-me nos meus próprios braços pelo volume exagerado e lanço-lhe um olhar mortífero pelo seu tom de voz bruscamente alterado.

As minhas mãos percorrem a suposta mala encharcada da água do mar e giro-a no intuitivo de encontrar as pegas, sacudindo a areia agarrada da mesma, raspando os enrugados dedos nos fechos para cima, originando um som brusco fazendo com que esta abrisse.

À primeira vista, o meu olhar penetra assim que vê a tonelada de roupa desorganizada, sendo esta provavelmente de um bêbado qualquer que foi apanhado com droga e decidiu sair do país acabando com morte certa num despenho do avião.

Dentro de uma pequena bolsa discreta e ensopada, camuflada com produtos de higiene, uma capa com dinheiro, admirou-nos. Podia pressentir as nossas reações radiantes pela quantidade de notas que transbordava. Só quando não há lojas é que o dinheiro decide aparecer. Só se quisermos comprar bananas aos macacos.

Agarramos nas embalagens, nomeadamente no champô masculino e o sabonete, trocamos olhares e optamos por tomar um banho na cascata, sem a preocupação do odor. Penso que estávamos mais preocupados com a nossa imundice do que com o nosso cheiro.

Ambos corremos num ritmo acelerado, como se disputássemos a vitória de quem tomava banho primeiro. Por mais que ela tentasse, conseguia-se ver o quanto esforço ela colocava e na dedicação que tinha para chegar primeiro. Apesar das minhas pernas doridas e dos intermináveis arranhões que amaldiçoavam-me, corria mais do que em toda a minha vida. O solo era acidentado com várias rochas que magoavam os pés quase descobertos no entanto nenhum de nós desistia da nossa tarefa. Quando dei conta tinha entrado dentro de água com as roupas velhas e a gritar:

- Vitória!

Ruby cruza os braços pela minha criancice e resmunga pelo facto de ter de esperar pela sua vez, visto que está fora de questão alguma vez tomarmos banho juntos. Não que eu não me importasse contudo ela é tão reservada e indefesa que tenho quase a certeza que até vergonha teria com as suas amigas.

No entanto, pouco me importei com os seus protestos, tínhamos feito uma aposta e eu tinha ganho tal como tinha proferido no início. Pela forma como o meu corpo relaxava era como não existissem mais problemas.

- Como mencionaste que eras um rei ou príncipe, que tal seres cavalheiro e deixares a senhora ir primeiro?

- Recuso-me. Só se, claro, quiseres tomar banho comigo! - pisco-lhe o olho provocando-a com o meu charme natural.

- Recuso-me a tomar banho contigo.

- Por favor dirija-se então à sala de espera - gozo numa voz irritante, levando à loucura, psicologicamente.

Ruby rola os olhos e vira-se de costas, colocando o seu jeitoso rabo nas ervas. Eu admito seria engraçado vê-la envergonhada a tomar banho comigo e sinceramente, sendo rapaz, não me importava nem um pouco se ela aceitasse a proposta. No entanto, a rapariga sendo tímida ficava embaraçada com situações daquelas.

Levantei-me silenciosamente e retirei o meu corpo dorido dentro de água e caminhei em bicos de pés até à morena de olhos castanhos. Quando dei conta, ela solta um guincho pela água fria que recebeu ao rodear os meus braços no seu pescoço ao puxá-la para trás. Rio-me quando a agarro pelas pernas e coloco a minha mão nas suas costas. Ela esperneia e tenta libertar-se do meu peito frio e molhado com socos. Por mais pontapés dolorosos que recebia, num só ia deixá-la dentro de água.

Um enorme contato que teve contra a água soou por aquelas redondezas e sabia que tínhamos de nos despachar antes que outro macaco decide-se dar as suas bem-vindas. Salto com os joelhos ao peito para a água, apanhando a morena desprevenida e a tossir água que entrara pelas narinas. Agarro no champô e lavo o cabelo oferecendo-lhe logo a seguir.

Esta ainda estava em choque que agarrou-o com cuidado e com as mãos trémulas. Sentia-se desconfortável, no entanto tinha a perfeita certeza de quanto mais rápido acabássemos de nos lavar, melhor. Ela coloca pouca quantidade de champô com medo que não sobrasse mais e esfrega o seu cabelo de costas para mim.

- Ai de ti, Harry que vires sequer um olho quando estiver a lavar o corpo, ouviste-me?!

- Alto e bom som, senhora!

Passamos para o sabonete, só olhamos um para outro para o emprestar e voltávamos logo de costas. As roupas sujas foram arrojadas em cima da erva e podia sentir-se o silêncio pesado e constrangedor no ar. Nenhum de nós dizia uma única palavra. Não conseguia deixar de tirar o pensamento de que ela só estava a uns centímetros sem nenhuma peça de roupa, divididos entre a vergonha e a raiva se eu arriscava olhar para trás. Decidi não arriscar, a última coisa que desejava fazer era arranjar discussões.

- Agora a questão é, como raio é que vamos sair daqui?

Ruby olhou para a mala que tínhamos deixado longe da cascata e respirou fundo para se acalmar. Murmurou algumas asneiras antes de proferir.

- Quando eu contar até três, viras-te e fechas os olhos enquanto vou buscar a mala. Ou espera, não, agora vais tu buscá-la, foste tu que me arrastaste a isto és tu que tens as consequências!

- Tudo bem, aprecia o quanto jeitoso o meu rabo é se decidires dar uma espreitadela- pisco o olho.

Ruby encolhe-se num canto da cascata, onde a força da água impossibilitava-a de ver o meu corpo, enquanto a rapariga semicerrava os olhos com força. Corro até à mala e volto para trás, retirando a toalha ensopada, desprendendo-a. Quando estava seca o suficiente, retiro maior parte da água do meu corpo e visto as calças de fato de treino que me ficavam justas e uma camisola branca confortável.

- Ruby podes vir!

A rapariga abriu os olhos e arregalou-os quando me viu vestido. Olhou para mim de sobrancelha franzida como se tivesse a exprimir-se, telepaticamente, para me virar e não ser perverso. Levanto as mãos, rendendo-me, fechando os olhos. Pressenti-a a sair da água e a secar o seu corpo desajeitadamente, pelas suas asneiras murmuradas.

- Podes virar agora!

Assim que o faço e os meus olhos arregalam pela forma adorável como a camisola larga caia graciosamente e uns calções largos pelas suas pernas. Espremeu o seu cabelo molhado e encarou-me com as faces rosadas. Se ela soubesse o quanto bonita estava agora, deixava de ser envergonhada.

- Foi o banho mais difícil que já tomei em toda a minha vida - comentou, resmungando pelo seu cabelo não ter ficado do jeito que ela queria. Retiro um elástico da necessaire e aproximo-me dela. Apanhada desprevenida e ainda desconfortável, afastou-se tropeçando nas várias pedras.

Soltou um guincho enquanto eu rodeava a sua cintura e puxava-a para mim. A sua cabeça colidiu com o meu peito enquanto levantava os seus olhos esbugalhados para mim encarando-me.

Quando menos esperava, pressionou os seus lábios com os meus ao acercar-se de mim.

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