Dia 4

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DIA 4 - CASCATA

[ RUBY ]

Sabes aquele momento estranho em que uma pessoa, completamente desconhecida, agarra na tua mão?

Não sabes?

Eu, infelizmente, sei.

De mãos dadas, andávamos a explorar a desconhecida ilha que agora se tornaria o nosso lar. A sua mão, para além de ser grande e colocar-me num momento constrangedor, fazia-me sentir segura e fiquei contente pelo facto de ele não se ter afastado de mim.

Um pé à frente do outro e engolida nos meus pensamentos apareceu-me uma questão à consciência. Como é que dois adolescentes, cada um de um sítio diferente, vão parar a um avião e este se despenha na água? Como é que sobramos só nós? Como é que algum dia poderemos ter uma conversa civilizada sem discussões? Provavelmente nunca.

Bufei com essa frustração e continuei a caminhar a tentar alcançar o seu passo acelerado. Ele parecia uma chita à procura da sua presa enquanto me puxava completamente com a sua mão forte. Observo os meus redores, tentando identificar as plantas pelas quais passávamos, interessando-me pelos seus nomes e objetivos. Deito um som de protesto e de dor pelas minhas pernas e mão, tentando chamar a atenção do moreno.

- Harry espera – pedi educadamente. Em resposta largou-me a mão, fazendo-me desequilibrar um pouco e virou-se para mim com uma cara interrogativa. – Importas-te de ir um pouco mais devagar?

- Mas tu estás a gozar comigo? Se não nos despacharmos não teremos água nem abrigo até ao anoitecer! – resmungou na minha cara e agarrou-me bruscamente no pulso para me levantar e voltar a acompanhá-lo, mas eu fui rápida de mais e afastei-o. – O que pensas que estás a fazer?

- Preciso de descansar. Já não sinto as minhas pernas.

- Bem, eu é que não vou dar-te as minhas! – ele cospe.

- Precisas de ser tão idiota o tempo todo?! - berro, cruzando os braços.

- Precisas de ter tão desmanchas prazeres o tempo todo?! - ele berra de volta.

- Pareces uma criança! - comentei.

- É por isto que não queria que viesses comigo, portanto se tiveres chateada lembra-te que foste tu que quiseste vir comigo.

Ele afasta-se de mim com passos longos enquanto o observava com uma postura tensa e chateada. Ele fechou os punhos afastando as folhas, super furioso pela discussão que acabou de acontecer. Suspirando, analiso a situação, apercebendo-me que estava de novo sozinha. Olho de novo para o caminho pelo qual ele tinha tomado, relembrando as palavras que proferi e logo a seguir sentir-me um pouco culpada. Aliás, fui eu que disse que queria ir e agora tenho de aguentar com a sua idiotice e o seu cérebro de um tamanho de uma ervilha.

Sentindo-me derrotada, começo a correr até ele quando reparei que a sua figura desaparecia pelas árvores e folhas. Assustada, grito o seu nome repetidamente, olhando em volta, nervosamente. Quando o silêncio preencheu os meus ouvidos, grito pela enorme aranha pendurada num ramo de uma árvore. A sua teia aumentava à medida que a aranha nojenta movia as suas patas nojentas e os seus olhos nojentos observavam a minha cara de enjoada.

- Ruby!? - uma voz berra o meu nome. Logo a seguir o rapaz que andava à procura estava ao meu lado, olhando-me assustado. – Que aconteceu?

- Ali - aponto para a aranha-nojenta. Ele vira a sua cabeça noventa graus, observando a árvore antes de deitar uma gargalhada alta. Confusa, olho para ele de sobrancelha franzida, observando os seus olhos cheios de lágrimas.

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