Dia 10

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DIA 10 - ALMOÇO

[ RUBY ]

Por mais que tentasse voltar a adormecer, era sempre assombrada por novos pensamentos sobre o passado do Harry, acerca da tal informação que me tivera relatado ontem. Supostamente deveria estar a reviver o sonho em que tudo ficaria bem e que juntos voltávamos para casa livres do perigo, oferecendo a oportunidade ao Harry de resolver as pazes com a sua família e eu poder voltar a ver a minha. Claro que estava fora de questão, pois nunca iriamos ser algo mais que pessoas conhecidas que sobreviveram numa ilha, durante um tempo incerto.

Seria boa ideia se eu começasse a contá-los, para ter uma mera ideia, caso sejamos encontrados. Até agora, sei que passamos dois dias nesta ilha a tentar sobreviver e a aturar-nos um ao outro, se não estou em erro.

O Harry que conheço não é aquele de que ele me contou na sua trágica situação familiar. Sim, é verdade que ele pode ter um passado turbulento, às vezes pode ser arrogante e muito irônico, mas o rapaz que até agora conheci não parecia o mesmo que revivia na história.

As pessoas podem mudar, ou eu ainda não vi a faceta do Harry furioso capaz de pôr a mãe a sangrar e dar uma tareia ao " merdas", como ele gosta de chamar. As suas palavras e as suas asneiras perfuravam o meu ouvido com uma intensidade incalculável. Não estava habituada, visto que os meus pais sempre me ensinaram que não se deve pronunciar esse tipo de palavras, seja em qualquer situação que possa ocorrer.

Se ele tinha assim tanta certeza do suposto namorado da irmã tinha assaltado a sua conta porque não o confrontou num jantar, por exemplo? Ou então, outra solução seria tirar uma fotocópia do dinheiro que continha a testemunha e dá-lo como prova.

O que mais impressiona é o facto da sua própria mãe não ter acreditado no seu filho, em vez disso, preferiu acreditar no exagerado de gel. Elas não sabem como ele se sente agora e provavelmente nunca o saberão pelo Harry, visto que pouco diz sobre o que sente. Era frustrante só de pensar nisso.

A maneira de como ele ontem contava a sua história deixou-me em baixo porque não podia fazer nada para mudar a situação, apenas podia apoiá-lo e confortá-lo, isto se ele me deixasse. O Harry tem uma personalidade dura, embora na realidade tenha receio do que lhe possa acontecer se perder quem mais ama.

Estava tão concentrada nos meus pensamentos, que nem sequer são meus assuntos quando escuto um ruído que me faz sobressaltar do meu sono e provavelmente de alguns sonhos que tive pela noite mas que a minha memória falha.

O rapaz ao meu lado dormia profundamente que nem uma pedra, encolhido nas suas pernas e a sua cabeça encostada no seu braço esquerdo enquanto o outro espalhou-se pelas folhas da palmeira.

Permaneci-me quieta para me certificar que não estava louca e estivesse a ouvir coisas da minha cabeça, com este calor, não admira que tenha alucinações. O rachar de unhas na madeira dos bambus ecoou pelo pequeno espaço acolhedor, ainda não acordando o rapaz sonolento que deitava baba pela boca, involuntariamente. O ruído das unhas voltou-se a ouvir mas desta vez no lado direito, ou como gosto de chamar, o lado onde Harry dormia. Este resmungou pelo som, mudando de posição e virando-me as costas e rebolo os olhos por demorar tanto a acordar.

Assim que me apercebi que ele não ia acordar tão cedo, dou-lhe uma estalada no braço e este que ficou logo com a marca dos meus dedos, mas acredito que quem sentiu mais, foi realmente o Harry que gritou de dor e virou-se para mim com a sua mão a proteger a zona ferida.

- Pelo menos, não foi uma estalada na cara - ele resmunga. - Mas é melhor nem sequer dar ideias.

Encostou-se de novo na sua cama improvisada de folhas, que não era bem confortável e pousou o seu braço por cima dos seus olhos para voltar a dormir.

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