Dia 13

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DIA 13- BEIJO

[ RUBY ]

Os nossos lábios moviam-se com sintonia e automaticamente as suas mãos apoderaram-se dos meus quadris, puxando-me para si de forma a poder sentir o aroma do champô nos seus cabelos compridos e encaracolados húmidos começando a ganhar a sua forma natural. Já as minhas moveram-se desajeitadamente pelo ar sem saber onde as deveria pôr.

A sensação dos nossos corpos interligados, da revolta que provocava nos seus caracóis e a harmonia como os nossos lábios se encaixavam perfeitamente, tudo isto era novidade para mim, originando arrepios e sentimentos que desconhecia, como as borboletas derivadas da minha barriga e os pensamentos calorosos pelos quais a minha mente não os largava.

A maneira como o seu corpo me atrai, a sua expressão divertida e furiosa de quando discutimos e até as suas atitudes de 'adulto' são aspetos que me chamam à atenção, por mais pequenos que sejam. Eu não tinha qualquer controlo de como ele me atraia mais para a sua teia, por mais que eu odeie aranhas.

Os nossos olhos estão semicerrados, desfrutando o momento assim como as nossas respirações ofegantes. Distraída e apanhada desprevenida, assusto-me com uma mordidela no meu lábio inferior, produzindo um gemido. Afasto-me dele com as minhas mãos no seu peito, empurrando-o levemente longe do meu pequeno corpo. As minhas mãos refugiaram-se no meu semblante, escondendo o meu embaraço.

Harry tentou aproximar-se de mim, vagarosamente, embora me afastasse sempre que dava um passo.

- Isto foi esquisito.

- Para ti é esquisito, duas pessoas beijarem-se? - questiona com um pequeno sorriso na face.

- Bem, só o fazem quando realmente gostam um do outro - reclamei descontrolada pela recente situação. Não conseguia mesmo meter no meu pequeno cérebro o que tinha acabado de acontecer.

- E quem diz o contrário?

- Estamos sempre a discutir, sempre a contrariar um ao outro, sempre com opiniões diferentes. Eu sou o gato e tu és o rato - o meu olhar foca-se nas minhas fatelas e largas peças de roupa.

- Posso ser o gato?- ele pergunta divertidamente. Rolo os olhos. Apesar da sua forma divertida, ele estava igualmente sem saber como agir pela forma desajeitada que sacudia o cabelo com a mão.- Eu nunca disse isto na minha vida e Deus me amaldiçoe se eu o voltar a fazer mas não sabias que os opostos se atraem? - as suas mãos envolvem as minhas, esfregando os seus dedos suavemente, deixando-me mais tranquila, um dos lados dele o qual eu nunca vira mas que suplicava para que perdurassem.

Sinto o calor frustrante nas minhas bochechas e deixo a minha cabeça colidir com o seu peito, embaraçada. É a primeira vez que tenho uma interação deste tipo com um rapaz e eu nunca estive tão à nora na minha vida. Não sei como agir. Não sei o que fazer a seguir. Não sei o que devo dizer e se é certo dizê-lo. Para além do mais, as palavras dele pareciam uma confissão e eu nunca ouvi uma dirigida a mim na minha vida. No entanto aproveitá-la-ía para me refugir no seu abraço confortante. Por vezes vivemos com uma máscara a fim de escondermos a nossa verdadeira identidade com o passado que amaldiçoava-me todas as noites, embora estes últimos dias, me tenham deixado desorientada e a Ruby que tentava esconder vinha sempre há tona. O medo apoderou-se da minha mente e todo o tipo de perguntas apareceu. Se a Ruby que antigamente toda a gente odiava voltasse, o Harry deixava de gostar da atual Ruby?

Caminho para longe do ser, encostando-me a uma palmeira, escorregando e caindo na areia quente, deixando-me com os pés a ferver. Escondo a minha cara nos joelhos e choramingo pelas memórias que invadiam a minha mente. Escuto uns passos e o rabo do rapaz senta-se ao meu lado, puxando-me para si, consolando-me, respeitando-me, sem pronunciar nenhuma palavra sobre o assunto.

***

Ambos continuávamos instalados debaixo da árvore, com as mãos interlaçadas a apreciar o pôr-do-sol mais uma vez. Encolho os joelhos e pouso o meu queixo nestes mesmos, observando a paisagem de tirar o fôlego há minha frente. Espreito para o meu lado, um Harry atento igualmente ao que tinha há sua frente. Os seus olhos brilhavam à luz do sol e as suas faces pareciam angélicas. Harry não comera nada o resto da tarde assim como eu, deixando-me preocupada pela falta de energia. Observo a sua face quando os meus olhos pousam nos seus lábios e os meus olhos arregalam.

- Estás bem?- ele questiona.

Relembro-me da minha inexperiência com os rapazes e das consequências cada vez que me aproximava deles e volto a minha cabeça de volta para a frente, embaraçada. Sinto uns dedos afastarem-me as lágrimas que escoriam pela minha face, livremente, libertando a minha agitação perante a situação.

- Não queres contar? - abano a minha cabeça negativamente pedindo 'desculpa' baixinho. Ainda não.

***

Encosto a minha cabeça novamente na palmeira e suspiro pesadamente, observando o ser a meu lado. Ele já estava a olhar para mim e sorri quando pouso os meus olhos nos dele. Ele estica a sua mão para tocar na minha bochecha fria, olhando-me fixamente nos meus olhos. Quando menos esperava algo treme e eu sou apanhada desprevenida pelo o meu estômago revoltado, esfomeado e desesperado por comida.

Harry solta uma gargalhada e esgueira-se da relva, sacudindo o resto das suas calças novas Deixo escapar um sorrisinho nervoso ao reconhecer a melódica gargalhada que apertava o meu coração e aceito a mão que me ajudava a levantar.

- Vamos fazer uma noite como aquela que fizeste com o teu pai- ele sugeste.

- Não temos marshmallows – aponto

- Havemos de arranjar alguma coisa.

Os seus dedos entrelaçaram-se com os meus e caminhámos pelo areal da maré-baixa. O som que o mar transmitia era agradável e nesta noite convidáva-nos a apreciá-la. Mas Harry tinha outra ideia. Quando menos esperava, ele puxa-me para a águas geladas e cristalinas do mar enquanto tentava visualizar o peixe que estava aos seus pés. Ele cai redondamente na água com o peixe a resistir às suas mãos.

Solto uma gargalhada pelo Harry molhado e feliz por ter conseguido o peixe e ele sorri espantado pelo som que saia da minha boca. Era como todas as lágrimas tivessem simplesmente desaparecido com o mar. Preparo a fogueira, sentando-me na areia fria e encosto-me na árvore observando o rapaz a pousar o peixe na fogueira. Ele senta-se ao meu lado e envolve-me no seu braço.

- O quer que tenha sido que te fez chorar, eu estarei aqui Ruby não importa o que aconteça.

- Deus vai-te amaldiçoar por teres dito isso - ele solta uma gargalhada, depositando um beijo na testa enquanto a noite e as estrelas engoliam os dois adolescentes perdidos numa ilha.

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