Dia 19

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DIA 19 - LAR

O telefone toca. O som estridente e insuportável perfura os tímpanos de cada ser daquela casa pequena. Este ecoa e suplica para que seja ouvido a fim de transmitir a devastadora e inesperada mensagem. Do outro lado, o agente, com o aparelho encostado ao ouvido, batendo o pé e com o seu café da manhã na mão direita, resmunga pelo tempo de espera.

Finalmente, antes de a chamada ir para a caixa de correio, a voz de uma senhora surge:

- Bom dia Ms. Holmes.  Desculpe incomodá-la a esta hora mas recebemos a notícia de que o voo ENAR T-75 Pantera  se despenhou a noite passada. De momento, temos as autoridades há procura dos sobreviventes mas não temos nenhuma novidade até agora.

- Isso só pode ser uma brincadeira certo? - a voz da mãe de Ruby vacilava.

As suas mãos tremiam e piscava diversas vezes os olhos na tentativa de conter as lágrimas.

- Não minha senhora. Lamento que a estejamos a informar desta forma. Estamos a fazer tudo ao nosso alcance.

- Deviam era ter contribuído na segurança da minha filha e dos restantes passageiros prevenindo o despenhar do avião!

- O que aconteceu não pôde ser controlado. Não conseguimos prever uma falha no sistema senhora. Lamentamos.

O telefone foi desligado. Ms. Holmes desligou a chamada e chorou baixinho. Tão baixinho que ninguém naquela casa a ouviu. O marido ainda dormia. Estava tão ferrado que mal se mexeu quando o telefone tocou.

Qual é a sensação de quando perdemos um filho? O mundo simplesmente deixa de nos fazer sentido. Tornamo-nos transparentes em relação à realidade em que vivemos. Perdemos cor e desejamos por vezes nunca mais voltar a adquiri-la. Somos meros seres a preto e branco que vagueiam no mundo. Tudo para nós é negro e obscuro. Não suportamos a felicidade dos outros porque achamos que a cima de tudo também somos dignos de a recebermos. Os sorrisos desaparecem, as gargalhadas evaporam-se.

O seu coração aspertava. Ms. Holmes solussava e não controlava a sua respiração. O seu choro não podia ser mais ocultado. Esta deslocou-se á cozinha, encheu um copo com água e tomou uma cápsula branca.

Disse a si mesma que o que tivera ouvido não era real. Que o avião não tinha caído e que a sua filha encontrava-se em segurança no seu destino e que não tivera rede suficiente para a contactar.

Assombrava-a a sensação de nunca mais voltar a ver a filha. De principalmente não a ver crescer como pessoa, pois ainda era uma criança aos olhos dos pais. Magoava-a profundamente o facto de se sentir culpada por não ter prevenido a sua ida naquele avião, mesmo que Ruby estivesse a seguir o seu sonho. A sua pequenina teria uma vida tão curta e injusta.

Entretanto, Mr. Holmes abraçou a sua mulher. Aconchegou-a e sussurou-lhe que tudo iria ficar bem. Que partilharia com o maior número de pessoas a notícia, que obrigaria as autoridades a continuarem com as buscas e que não aparecem até a encontrarem. Temia pela segurança da sua menina assim como pela sua sanidade mental.

Ansiava que aquilo fosse um sonho e que quando acordasse, ela encontrar-se-ía no quarto ao lado com um bloco de papel cavalinho ao colo, o conjunto de lápis de carvão que nunca largava e a aparelhagem ligada. Adorava poder observá-la mais uma vez a desenhar. O seu traço fino e delicado a percorrer a folha branca. Essa mesmo a ser preenchida por desenhos, cada um com a sua história e o seu significado. Todos estavam espostos num placard. Mr. Holmes refletia na hipótese de enviá-los a um agente a fim de ser publicados se a morte da sua filha fosse confirmada.

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