Dia 16

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DIA 16 - CARINHO

[ RUBY ]

Todo o meu conhecimento provinha dos casais clichés e dos seus momentos românticos que tanto imaginei ao longo da minha vida. Só conhecia a informação dos filmes, para além disso, sabia zero sobre amor. Portanto, não sabia como reagir àquilo. Continuávamos abraçados num silêncio ensurdecedor. Nenhum de nós proferia uma palavra e permanecíamos intactos a ouvir as respirações um do outro.

O meu corpo tinha parado de tremer à medida que se acalmava e deixava-se tomar pelos pedidos de Harry para respirar fundo. Assim que o fiz, o batimento do meu coração começou a desacelerar. Senti uma leve paz na minha mente. Desde que cá pusemos os pés, tem sido stress atrás de stress. Não havia mais nada para fazer a não ser preocupar com tudo há nossa volta que eu me esqueci de respirar e encontrar um pouco de paz. O que me surpreende é que encontrei essa paz nos braços de quem menos esperava: Harry

Ele continuava a respirar contra o meu pescoço, as suas mãos bem firmes e seguras nas minhas costas. Desenho pequenos círculos nos seus ombros e tento afastar-me dele. Não houve resposta da parte dele e eu suspirei, não me importando de ficar assim mais uns minutos.

Foi aí que a realidade me esbofetou. Só à uns segundos atrás, Harry sussurrou que me amava e essas palavras estavam a ecoar na minha mente como uma montanha russa. Por mais que tentasse desviar o assunto para a sobrevivência aqui, aquelas duas palavras voltavam sempre de alguma forma.

Era a primeira vez que as tinha ouvido sem terem sido proferidas pelos meus pais. No entanto, o sentimento que envolve essa pequena mas poderosa palavra, tem um sentido completamente diferente da boca que provém.

Os nossos progenitores protegem-nos e acarinham-nos porque foram eles que nos trouxeram ao mundo. Somos os seus preciosos tesouros que se os roubarem, acabam por ficar num véu de ignorância, desconhecendo o seu objetivo na sociedade. Não sabem que rumo devem seguir, devido ao vazio que os assombra para o resto das suas vidas assim que os filhos sairem da porta para seguir as suas vidas. Em comparação com um simples rapaz, que valor têm essas palavras tão simples de se proferir? Será que ele só me quer confortar? Tal como os pais fazem quando a criança chora? Estará ele a ser sincero em relação aos seus sentimentos ou apenas a deitá-los cá para fora visto que somos os únicos seres na ilha? Como em tão pouco espaço de tempo se pode desenvolver um sentimento tão forte por alguém? Então é isto que é o amor? Perder a noção do tempo quando estamos com a pessoa que amamos mesmo que nos obriguemos a retrair as nossas emoções?

Tantas perguntas, sem respostas. É frustrante, procurarmos por estas respostas quando, provavelmente, nunca as vamos obter. Porém, talvez assim que perceber estes seus sentimentos, as respostas deixam de ter importância, pois tudo o que importa é a rotina que vou viver com ele, com a pessoa que me ama.

De certa forma não sei como lidar com as minhas inseguranças. Estamos constantemente a discutir um com outro como poderia isto alguma vez dar certo? Poderemos viver em harmonia mesmo que partilhemos os nossos segredos mais obscuros? Será que é isso que ele quer?

- Harry- sussurrei o seu nome. O rapaz arrepia-se e suspira antes de empurrar-se e afastar-nos do abraço em que estávamos.

- Peço desculpa, estava a tentar acalmar-me.

Acenei com a cabeça, percebendo o seu lado, já que eu mesma ainda estava a tentar descontrair, não só pelo o que tinha acontecido como as suas palavras não me colocavam num estado bom.

Ficamos, de novo, num silêncio constrangedor, ambos a olhar um para o outro. Ele olhava para mim e eu olhava de volta e acabávamos por voltar a nossa atenção para outra coisa, demasiado envergonhados. Apostava que tinha as bochechas vermelhas e este meu nervosismo colocava a minha respiração descoordenada. Após algum tempo, voltamos a olhar um para o outro e ficávamos assim, fixados como se não houvesse mais nada no mundo para além dos seus olhos verdes com os meus castanhos.

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