Dia 5

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DIA 5 - BETADINE

[ HARRY ]

A sua expressão demonstrava deveras inquietação e conseguia ver o quanto desconfortável ela estava pelo meu olhar a queimar a sua pele. Sorri levemente pelas suas mãos a tremer, desconfortável por toda a atenção que estava a receber vindo de mim. A sua reação era divertida de ser ver como se tivesse a olhar para um ecrã que só dá um Tv show que ninguém vê. O facto de ela ter-se assustado com uma aranha só dava mais para ver nesse Tv show, pois a forma como ela olhava para o bicho  era um entretenimento.

Porém, uma pergunta ainda permanecia na minha mente, por mais funda que estivesse no resto dos meus pensamentos. Como pode ser ela tão cautelosa ao ponto de ainda se preocupar comigo, sendo eu tão mal-educado e irritante?

Provavelmente está ralada contigo, relembra o meu subconsciente.

- Tens um corte fundo... - relembra-me a linda rapariga agora ajoelhada há minha frente na tentativa fracassada de tratar a ferida feita pela valente queda que dei. Aquilo não era uma pergunta, mas sim uma afirmação. Por mais que me controlasse para não lhe responder, a minha mente só dizia para resmungar com ela por dizer o óbvio. Esforcei-me bastante para manter os comentários rudes e irónicos para mim mesmo. No entanto, estes pareciam que saiam naturalmente.

- Jura Sherlock? – acabo por dizer.

- Não sei mesmo o que fazer para que isto cure mais depressa. Dava tudo para ter uma mala de primeiros socorros - ignora o meu comentário, passando de novo e repetidamente o tecido pela ferida na minha testa, bufando por não estar a acontecer nada.

Enquanto ela passava o tecido na minha testa, as suas sobrancelhas franzidas revelavam que estava perdida em pensamentos confusos, provavelmente a vaguearem no assunto da família. Eu sabia que ela queria voltar para casa, que estava em pulgas para que um avião nos resgatasse, mas por outro lado iria ser interessante sermos os primeiros adolescentes que sobreviveram numa ilha durante tempo incerto e que voltaram a casa por eles próprios.

Só de imaginar que os seus progenitores estariam de braços abertos, sorrisos radiantes e de lágrimas a escorrerem-lhes pela face de tanta felicidade que estariam por voltar a vê-la, os meus nem sequer se dariam ao trabalho de lá pôr os pés. Nem mesmo a minha irmã. Depois de tudo o que lhes fiz, eles nunca me irão perdoar. Por agora é só imaginá-los a chorar enquanto me vêm buscar do barco se nos resgatassem. Imaginar é tão doloroso como não ter lá ninguém feliz por ver que eu estou bem.

A rapariga que à momentos estava a admirar neste instante desaparecera do meu campo de visão sem deixar qualquer rasto. Estava tão distraído ao ponto que nem dei pela sua saída, o que ela levou isso como a ótima oportunidade de fugir. Mas porque iria ela fugir? Estamos nisto juntos certo? De sobrancelha franzida observo os arredores. Nada. Vazio.

Comecei a ficar preocupado. Nenhum barulho me fazia despertar a atenção, nem um desviar de folhas quanto mais um grito por ter voltado a ver uma horrorosa aranha que ela tanto tem fobia.

- Ruby! – concluo que chamá-la é a melhor hipótese que tenho em vez de sair a correr como uma chita à procura dela e não a encontrar. Se ela voltar ao meu encontro e estou do outro lado da ilha à sua procura só porque fui teimoso ao ponto de não confiar nela? Se é para isso prefiro esperar. – Meu deus Ruby, se fugiste por uma aranha eu juro que me passo!

Ninguém me responde. Era como se estivesse mesmo sozinho. Admito que começava a ficar um pouco assustado de todo o silêncio, sem nenhum sinal humano, só o som da natureza há minha volta. Respiro fundo, sentindo-me um grande maricas por as minhas mãos continuarem a tremer e estar assustado só porque estava sozinho. Eu não sou assim!

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