Dia 6

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DIA 6 - GRUTA

[ RUBY ]

Caminhávamos sem rumo por caminhos desconhecidos e novos aos nossos olhos, completamente desorientados da nossa localização. Sem saber os perigos que haviam por ali e despreocupados onde nós ponhamos os pés. Como poderíamos saber qual destino haveríamos de seguir se estávamos presentes num território desconhecido? Se não procurássemos um abrigo urgentemente, como iríamos nós sobreviver? Nem alimento tínhamos encontrado, quanto mais um lugar de refúgio para nos abrigarmos durante a noite.

Estava a ficar tarde e o pôr-do-sol era a única forma de nos guiar, uma vez que não tarda, este iria desaparecer e iria dar lugar à brilhante lua cheia que nos iria vigiar durante a noite. Lembro-me de quando era pequena, os meus pais iam às compras ao final do dia de propósito para que pudéssemos apreciar o entardecer, o momento em que o sol se escondia. Por sua vez quando chegávamos a casa já era tarde e quem agora me acompanhava de volta a casa era a lua e não o quente sol.

Confesso que achava alguma graça ao facto de a lua "andar" ao mesmo tempo que o carro e queria sempre desenhá-la assim que chegasse a casa. Antes de andar na escola, a minha mãe dizia-me sempre que a lua nos vigiava até chegarmos e que, quando estivéssemos seguras, ela partia, isto todas as noites, só que quando comecei a ter aulas de astronomia é que me revelaram que essa "mentira" era devido ao movimento de translação e rotação da terra.

As minhas pernas doíam-me e não era a única que me estava a queixar. Apesar de Harry não pronunciar nenhuma palavra, eu sabia que ele também estava cansado através de pequenos atos seus.

Na sua testa escorriam algumas gotas de suor em que ele as limpava com a manga da camisa.
Outras vezes largava a minha mão para colocar os seus caracóis no sítio que com o calor vinham para a frente da cara, mas de seguida voltava a entrelaçar os seus dedos com os meus e sorria abertamente um pouco envergonhado.

O ato mais comum era morder o lábio, o que me deixava louca só de observar e a maioria das vezes tinha de desviar o olhar para o mar, que se aproximava à medida que voltávamos à praia, de maneira a que ele não soubesse que o estava a observar. Ele podia começar com os seus comentários e estragar o único momento que não discutíamos.

Apesar das nossas discussões, estamos nisto juntos e é uma sorte enorme termos um ou outro. Se bem que poderíamos ter começado a nossa "amizade" de outra maneiras, mas todos têm os seus altos e baixos e agora estamos nós aqui de mãos dadas, como se fossemos um casal jovem de férias numa ilha tropical ou até mesmo numa lua-de-mel, que reservou uma grande suíte num hotel de cinco estrelas. Ninguém nos poderia criticar por não termos tentado.

As saudades de casa apertavam. Sempre que falava com Harry sobre isso, ele desviava o assunto o que me fazia sentir culpada por o estar a meter nestes assuntos, visto que não sei nada sobre ele e o assunto da família podia ser delicado. Mas não é normal nós sentirmos a falta dos nossos progenitores, quando não os temos aqui presentes? Eu precisava de desabafar com alguém e esse alguém era ele, bem era o único. Ou ia descarregar as palavras que prendia para as plantas e os insetos presentes nesta ilha?

O pequeno arranhão que Harry tinha estava a cicatrizar e isso fazia-me sentir feliz e orgulhosa de mim própria não só por ter prestado atenção às "lições" da minha avó como também ele estava a ficar melhor. Graças a isso é que consegui adquirir todos os conhecimentos para o curar. Pelo menos já não escorria pequenas e teimosas gotas de sangue pela sua linda face.

Sentámo-nos na areia a observar o pôr-do-sol. Não havia palavras para descrever como era tão lindo. O céu já não se encontrava em tons de azul límpido mas, sim de contrastes laranjas e escarlate. Ainda de mãos dadas, o silêncio confortável permanecia entre nós.

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