Capítulo 4

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Acordei depois das oito e a forma que a Alface me olhava, me afirmou sem miados que odiava esperar.

-Você é uma gata e não está na sua casa, então deixa de ser exigente - fui abrir a porta da varanda. - folgada.

Enquanto a observava indo embora tranquila, meu estômago me fez lembrar da minha falta de comida. " Prioridade número um; ir ao mercado"

Após pedir algumas informações a Maria,me senti confiante em acreditar que não me perderia na cidade, até porque pequeno não é sinônimo de fácil.
Ao voltar de uma caminhada de lentos passos,pois as sacolas moderadamente pesadas não me impediram de apreciar as paizagens da pequena cidade,eu ouvi alguém chamar minha atenção a poucos metros de casa.

-Olá Vizinha!
-Olá, Elen. - forcei o melhor sorriso que pude.
-Desculpa, não lembro seu nome.
Ela nem mesmo prestou atenção quando foi citado.
-Annelise.
-Nome interessante, o que faz da vida, Annelise?
-Sobrevivo.
-Como? - reconheci que estava sendo mal educada. Não havia necessidade de retribui-la como merecia.
-No momento estou desempregada,não é fácil conseguir emprego antes dos 18 anos.
-Você ainda é menor de idade?
-Não mais,porém faz pouco tempo.
-O Rafael é louco? Você ainda é uma... criança.
- Não acho ele louco... e você está sendo rude. - o que ela está fazendo,uma entrevista de emprego?
-Falei sem pensar,desculpa se te ofendi.
-Não ofendeu,minha idade nunca foi um problema para mim. Mas não acho certo que fale mal do seu amigo,ele não estando aqui.
-Minha curiosidade não me permite passar mais nenhum minuto sem saber; o que fez para morar nessa casa?
-Acho que não entendi sua pergunta,Elen.
-Tentei de todas as formas convencer o Rafa a abrir mão dela,como conseguiu?
-Ele não abriu mão de nada,apenas me ofereceu a casa para morar e eu aceitei.
-Inacreditável - revirou os olhos.
-Por qual motivo? Penso ser normal ele escolher a quem alugar a casa.
-A uma garota de dezoito anos desempregada, desculpa,mas que escolha maluca.
-Está me tratando mal por querer uma casa que foi alugada a mim? - entendi a situação.
-Eu perdi um aumento e por muito pouco o meu emprego por conta dessa droga de casa! E agora você me aparece dizendo que ele te ofereceu a casa sem mais nem menos? - falava entre dentes e seu rosto estava vermelho de furia,cheguei a pensar que foi nesse momento que conheci seu verdadeiro eu.
-Ele com certeza teve seus motivos para não alugar...a você. - tento não ser indelicada.
-E quais seriam? A não ser que você já tivesse o convencido com essa cara inocente.
-Já falei que não o convenci e para quem usa roupas finas e elegantes,você é bem mal educada. - já estava no meu limite,se eu fosse uma barragem estaria em estado de alerta!
-Foi culpa sua,não vejo outra explicação. Fui clara com ele, expliquei que meu chefe desejava muito a casa, tinha grandes planos de compra-la por um preço alto. Ele nem mesmo chegou a pensar na proposta. - deslizou sua mão pelos cabelos louros com uma certa impaciência.
-Talvez te falte interpretação,Elen. O Rafael não me deu e muito menos me vendeu a propriedade. A casa continua pertencendo a ele.
-Você é mais sonsa do que imaginei.
-Você precisa amadurecer. Ainda não aprendeu a lidar com as frustrações da vida. Se me der licença,vou entrar. -


A conversa que eu e a Elen tivemos martelou em minha cabeça durante o dia inteiro .Não fazia sentido algum,como ela mesmo havia dito,a amizade deles existia há anos,ele sabia que o emprego dela estava em jogo,seja lá qual fosse,era importante para ela. Eu compreendo que a casa é importante,ela tem um valor emocional inestimável mas o Rafael cedeu a mim,uma completa estranha. Ele teria feito isso apenas por compaixão,não,não seria possível. Amor? Não,pura maluquice da minha cabeça.

Entre o casulo e a borboleta (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora