-Alguém quer falar com você. - o mesmo policial apareceu.
-Comigo? - não sabia por quanto tempo estava ali,mas parecia uma vida.
-Exato,vamos lá - diz abrindo a cela. E me recuso a acreditar que era o Paulo bem ali na minha frente.
-O que faz aqui?
-Vim te oferecer um acordo.
-Reconhecem o erro de vocês, que não tentei roubar nada? - perguntei sem me aproximar muito,o policial havia nos levado até uma sala pouco arejada e nos deixado sozinhos.
-Sr. Carlos sabe que não fez isso. - fez sinal para que eu me sentasse na cadeira que ficava do outro lado da pequena mesa onde estava sentado de braços cruzados. Me recusei. Meu corpo estava encostado em uma das paredes da sala,o mais longe que consegui ficar daquele homem.
-E o que ainda estou fazendo aqui?
-Ele saber que não fez,não significa que não encontrará uma forma de provar que "você fez".
-Espera, o que está tentando me dizer? - senti meu sangue ferver.
-Ele me mandou aqui para te oferecer um acordo.
-E qual seria ? - desconfiei,aquelas pessoas provaram não ser confiável. O fato de irem me visitar naquele sim de mundo provava que não queriam apenas me difamar,tinha algo maior por trás de tudo aquilo.
-Sua casa pela sua liberdade.
-Como? - pisquei meus olhos algumas vezes e por pura incredulidade fui me aproximando da mesa enquanto o ouvia falar.
-Ele promete esquecer tudo que aconteceu,o assunto será dado por encerrado,você terá a sua liberdade e ele a propriedade que tanto deseja.
- Meu Deus,eu devo estar maluca. - passei minhas mãos pelos cabelos e em seguida pelo rosto.
-Não importa o valor da fiança, sabemos que não terá dinheiro o suficiente para pagar. Estamos te fazendo um favor.
-Um favor? - bati com as duas mãos tão forte na mesa que Paulo tomou um leve susto - Vocês me incriminaram,humilharam e me jogaram em uma cela, chamam isso de favor? - minhas palavras saem quase em gritos.
-Você pode resolver tudo isso facilmente. Sr. Carlos quer apenas a casa.
-Eu lamento muito estragar o plano brilhante de vocês,mas a casa não é minha, eu moro de favor. E mesmo que fosse,Deus sabe que eu passaria o resto da minha vida atrás das grades mas não a venderia a pessoas como o senhor e o seu chefe. Fique a vontade para dar a péssima notícia a ele. Policial! Terminamos a conversa.- me aproximei da porta e o aguardei chegar.
-Já é quase noite e até onde eu sei nenhum advogado seu chegou aqui,você está sozinha nessa. Boa sorte e caso mude de ideia sabe como nos contactar. - permaneci de gostas para ele sem dizer uma palavra. Se estavam tentando me enlouquecer,estavam quase tendo êxito.
Voltei pra cela com um terrível nó na garganta. Pensei na possibilidade do Rafael não vir, ou com todos os esforços eu jamais provar minha inocência e passar anos na prisão.
-Que cara é essa,o que seu advogado disse? - Lorena parecia que tinha contado os segundos pra me ver de volta ali.
-Não era meu advogado,na verdade nem sei se tenho um. - sentei no chão e encostei minha cabeçana parede.
-O que te falaram? Foram as pessoas da Nord não foram? - se aproximou e sentou do meu lado.
-Sim, querem a casa que moro em troca da minha liberdade. - revirei os olhos.
-Que estranho,nunca vi fazerem questão por tão pouco. Mas não é algo de outro mundo,afinal são bem sujos.
-Eu nem tenho casa.
-Como eles querem algo que não é seu?
-Acredite, também estou até agora tentando assimilar tudo isso.
-Como pôde se envolver com aquela empresa. O que aprontaram dessa vez?
-Se entendi bem,eu fui acusada de roubar um aparelho de celular quando alguém o colocou na minha bolsa. Me incriminaram porque querem a casa onde eu moro,mas ela não é minha,vivo de favor e conheço o dono o suficiente para saber que ele ama demais a casa para abrir mão dela.
-Uau - bateu as mãos duas vezes - você já tinha ouvido antes que eles tinham interesse na casa? - pareceu muito interessada.
-Não. . . Na verdade, certa vez uma funcionária de lá comentou,mas nunca imaginei que chegariam tão baixo nível.
-A ambição pode levar o homem a níveis desconhecidos até por ele próprio.
-Sábias palavras - encostei minha cabeça na parede novamente e fechei os olhos. - sobre a ajuda,do que precisa?
-Ah! - se aproxima de pressa ainda mais me pegando de surpresa - Tenho dois cartões de memória,um tem as provas e o outro está vazio. Preciso que fique com as provas. Vou usar o vazio para conseguir um acordo para sair daqui e tirar eles da minha cola por um tempo.
-Como pretende fazer isso?
Primeiro vou quebrar o cartão vazio ao meio,vou mostra-lo e dizer que quebrou quando o tirei as pressas da câmera. Mas eles vão perceber que consegui esconder um cartão,então provavelmente serei revistada novamente e podem encontrar o verdadeiro,por isso ele precisa estar com você.
-Sou sua companheira de cela,o que te faz pensar que não irão me revistar também? -era uma ideia maluca mas existe a chance de dar certo.
-Porque uma pessoa de bom juízo não daria algo tão valioso a uma desconhecida,é isso que irão pensar.. - e era ali que o plano podia falhar,ela não parecia ter bom juízo - Irei negociar minha liberdade pelo cartão quebrado. São idiotas.
-Como vou esconder isso? E se der certo como vou te devolver lá fora? - falei como uma "certa certeza" que sairia daquele lugar.
-Podemos marcar o dia e um ponto de entrega. Te darei a presilha onde guardei por todo esse tempo.
-Espera,o cartão está em seu cabelo? - falei baixinho e do meio do seu coque bagunçado ela tirou uma presilha preta bem discreta, dentro havia dois cartões,tirou um deles e pôs a presilha em meu cabelo.
-Prontinho. Em cinco dias nos encontraremos na praça principal. As seis da tarde. Combinado?
-Você tem certeza que quer fazer isso? - perguntei com a esperança que repensasse sobre tudo aquilo.
-Todo o meu trabalho e esforço estão em suas mãos. - me olhou nos olhos e senti o peso da responsabilidade.
-Isso é um sim. Ok. Praça principal. Seis da tarde.
- É isso,vou chamar o policial - levanta e se aproxima da abertura da cela.
- Espera - vou rapidamente até ela - se as coisas derem errado por aqui,outra pessoa vai até você. O nome dele é Rafael,da forma que está confiando em mim,pode confiar nele. - Lorena apenas afirmou com a cabeça olhando dentro dos meus olhos.
-Ei! - grita e eu me afasto dela - alguém ? - em pouco tempo um policial apareceu.
-O que você quer?
-Um acordo. Não aguento mais ficar na mesma cela que ela. - aponta pra mim,mas sem me olhar.
-Não temos outra e você não tem escolha. Se for condenada, a cela que ficará é bem mais…movimentada.
-Eu sei,darei o que você quer,mas apenas se me deixar ir embora, sei que vocês não tem nada contra mim, pouparei o tempo de vocês e o meu.
-Você fala demais. - fez com que ia embora.
-O cartão está comigo,não irão encontrar na câmera,no carro ou em qualquer outro lugar.
-Você engoliu? - questionou surpreso olhando pra sua barriga.
-Não,mas só porque não pensei nisso antes. Enfim, vocês não precisarão mais procurar e nem me manter aqui. - mostra o pequeno objeto partido em dois pedaços.- Quando tentei tirá-lo às pressas da câmera,ele acabou se arrebentando. Pode tentar ver se consegue algo,mas não vai conseguir, não com ele desse jeito. Não tenho mais provas e nem interesse em continuar com isso.
- O que deu em você? Já tem meses que está no nosso pé. Estamos perto de te pegar né?
- Vocês me pegaram,tudo que tinha estava nessa droga. Não pretendo recomeçar do zero.
-Acha que vou cair nessa?
- Sabe quanto tempo levei pra conseguir tudo que tinha aqui - mostra o objeto quebrado - pouco mais de um ano fez uma expressão de cansada e admito que era boa em atuar - Me deixa ir por favor. Prometo sumir. Estou cansada de tudo isso. - a garota era magnífica na interpretação,eu mesma acreditei,suas palavras eram bastante convincentes.
- Como vou saber que não tem mais algum com você?
- Pode me revistar - levanta as mãos rápido como se estivesse com uma arma apontada para sua direção - espera,não você,mas a policial que fez isso antes. Com certeza revistaram o meu carro e não acharam nada, muito menos seria louca de jogá-lo pelo caminho.Nunca tive plano B, esse cartão era tudo que tinha.
- Vou fazer umas ligações, enquanto isso chamarei a polícial,se estiver mentindo, dê adeus a sua liberdade.
- Ok,ok. - não acreditei,ele caiu na dela.
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Entre o casulo e a borboleta (Livro 2)
RomanceApós decidir se reerguer,o primeiro passo de Annelise foi mudar de cidade,o segundo tentar não viver presa ao seu passado e a suas cicatrizes,o terceiro...bem,uma coisa de cada vez. Passos curtos e lentos também são passos importantes. Rafael não e...