Capítulo 6

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Já era quase noite quando chegamos do sepultamento, Rafael depois de tomar um banho demorado subiz para o quarto e se trancou. Ele não falou muito depois de tudo que aconteceu. Eu trouxe algumas roupas comigo, então também tomei um banho e preparei algo para comermos.
- Rafael? - bati levemente na porta do seu quarto mas não tive resposta - desculpa mexer nas suas coisas,mas eu precisava fazer algo para você se alimentar.
- Obrigado,mas não estou com fome. Preciso ficar sozinho.
- Eu sei que precisa e prometo te deixar em paz assim que comer algo.
- Annelise,por favor. - sua voz está rouca e baixa.
- Ok,vou sentar em frente a essa porta e esperar que abra. - o seu quarto ficava em um corredor - Talvez não se importe,mas também não como nada desde ontem,e ao contrário de você não aguento sentir fome por muito tempo. - sentei no chão como havia dito e encostei minhas costas na parede que fica em frente ao quarto. Alguns segundos depois ele abriu a porta sem dizer uma palavra.
- Obrigada - agradeci ainda sentada no chão enquanto ele me olhava de pé em frente a porta. Sentamos na mesa e o silêncio reinava mesmo depois de alguns minutos.
- Pode pegar o que precisa,tem cobertas limpas e travesseiros em todos os quartos. - finalmente disse algo.
- Obrigada,irei embora bem cedo pela manhã.
- Obrigado pela refeição. - apenas assenti. Ele mexeu a comida mais do que comeu,mas já era algo para quem não havia comido nada a quase um dia.
- Tem certeza que não quer companhia? - questionei quando se levantou.
- Hoje não,Anne. - pôs uma mão em meu ombro.
- Tudo bem! - não insisti,sabia que ele precisava de um tempo,foi um dia triste e cansativo.
Rafael voltou para o quarto e depois de lavar toda a louça,liguei a enorme tv que havia na sala, eram quase oito da noite e não tinha muito o que fazer, recebi uma ligação da Maria,que dizia estar preocupada com ele, seu semblante não escondia o quanto estava abalado no velório e também agradeceu por eu o fazer companhia, a senhora lamentava não ter ficado por muito tempo já que dependia da carona da Ellen, que tem um trabalho que exige muito dela. Pobre mulher!
Eu desejava muito,fazer mais por ele, porém deveria respeitar o seu luto,e cada um tem sua forma de lidar com isso.
Já se passava das dez da noite quando o filme acabou,não sei dizer ao certo o que assisti,n estava prestando atenção, com isso resolvi arriscar e ver como ele estava. Subi a pequena escada quase em ponta dos pés e giro a maçaneta com todo o cuidado do mundo. Se isso era errado,que Deus me perdoe, mas a quietude dele me incomodava e me preocupava absurdamente.
Me deparei com ele sentando no chão do quarto, suas costas estavam encostadas na cama, apoiava um de seus cotovelos em seu joelho esquerdo e sua mão mexia levemente seus cabelos. Pensei seriamente em entrar e sentar ao seu lado,mas não fiz,fechei a porta lentamente sem fazer barulho para que nao me notasse ali e voltei para o sofá,onde acabei adormecendo.
Pela manhã acordei na cama,muito bem agasalhada e assim que notei que estava nela tentei me recordar do momento que fui para o quarto,mas acho que isso não aconteceu.
Ao olhar as horas me decepcionei pois havia dormido demais,pelo horário eu já devia estar no caminho para casa. Sem esperar a disposição, me lenvatei sem ela mesmo,me organizei e desci as escadas em busca do carregador do celular,eu o esqueci em algum lugar da casa, por estar destruída acabei levando um susto ao perceber o Rafael sentado no sofá com uma xícara de café em mãos.
- Desculpa pelo susto - falou calmo.
-Tudo bem,eu estava distraída,pensei que ainda estava dormindo. - me aproximei dele.
-Já tem algumas horas que acordei - tomou um gole do líquido.
- Como se sente? - perguntei passando a visão pela sala com o intuito de encontrar o que procuro,até que finalmente encontrei.
- Estou bem e você? Teve uma boa noite?
- Sim,só não me recordo de ir para o quarto…
- Eu te levei.
- Levou? - questionei olhando para ele e em seguida para a escada.
- Se estiver pronta, posso te levar pra casa. - ficou de pé.
- Não precisa,posso ir de ônibus - nesse momento o meu celular tocou e alguém do outro lado da linha que se identificou como Paulo,gerente de uma empresa de celulares chamada Nord me cumprimentou. O mesmo pediu que eu comparecesse à empresa para uma entrevista de emprego. Fui pega de surpresa,pois não tinha esperanças apesar de entregar inúmeros currículos pela cidade.
- Pensando bem,vou aceitar a carona,tenho uma entrevista de emprego daqui a poucas horas.
- Ótimo,então vamos. - o que estava acontecendo? Não era este Rafael que vi ontem no quarto.

Entre o casulo e a borboleta (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora