Capítulo 9

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Pela manhã acordei na cama onde o Rafael dormia na noite passada,ele não estava o que me deixou levemente confusa,resolvi ir procurá-lo pela casa.
Para minha surpresa também não encontrei a Alface,desde o acidente,ela não foi mais embora quando o dia amanhece,o que para nós era um alívio, até nos tornamos amigas apesar de ela ainda não dormir na minha cama e muito menos na dela,sempre optava pelo enorme tapete que têm no chão do quarto.
- Alface? - a chamei, pois estava me preocupando ao pensar que ela podia ter ido embora.  - você é uma maluca se tiver ido embora,sua gata boba. - comentei ainda a procurando pelos comodos da casa,até que finalmente a achei na varanda,deitada no colo do Rafael que estava sentado olhando literalmente para o nada ou talvez para os pinheiros que ficam nas montanhas bem longe. Descansava suas pernas em um pequeno banco que tinha ali próximo,usava uma camiseta e uma calça moletom cinza, e seus cabelos estavam bagunçados como quem não deu importância para eles assim que acordou. Não quis atrapalhar seja lá o que eles estivessem fazendo,então saí de fininho sem que me notassem no ambiente.  Após um bom banho fui preparar o café,o relogio de parede da cozinha dizia que eram sete em ponto da manhã. Por um instante não acreditei que acordei tão cedo em um sábado.
O final de semana finalmente chegou e eu nunca havia desejado tanto um. A semana foi cansativa e os dias demorados. Após preparar a nossa comida, era a vez da Alface. Seu recipiente de comida é água ficam entre a cozinha e a varanda.
- Fiz panquecas - disse ao percebê-lo entrar na cozinha.
- Obrigado.
- Tudo bem? - falamos ao mesmo tempo ao sentarmos à mesa e de imediato nossos olhares se cruzaram.
- Estou - sorri da situação e ele também disse estar bem.
-Tem visto a Suzana? Já tem alguns dias que ela não me atende - comentei iniciando uma conversa.
-Na verdade, também já tem uns dias que não a vejo nas aulas.
-Estranho, acho que isso significa que a Rute deve está doente novamente. - viajei em pensamentos por um momento.
-É provável. Vou tentar ter algumas informações com a turma e te repasso. - observador de detalhes.
-Obrigada. Estou um pouco preocupada. Espero que não seja nada.
-Tenho certeza que logo logo ela entrará em contato com você. - assenti e terminamos nossa refeição em silêncio, exeto pelo barulho que Alface fazia com meu "prato" ao comer.
- Preciso ir, obrigado pelas panquecas - se levantou antes mesmo que eu pudesse dizer algo,e como um reflexo no espelho fiz o mesmo.
-Obrigada por vir. Não esperei que iria lembrar - fui sincera.
- Ela também é importante para mim, Anne. Sua filha com certeza seria linda e forte,assim como você. - eu apenas assenei minha cabeça,um nó na minha garganta havia se formado e quando uma lágrima desceu dos meus olhos a enxuguei rapidamente para que não a notasse.
Acompanhei o Rafael até o carro e ao colocarmos os pés para fora de casa a Elen surgiu das cinzas,ela era boa em aparecer quando menos se esperava.
-Como já era de se esperar,não me avisou que viria. - a moça novamente estava "pendurada" no pescoço do homem.
- Você nunca está disponível nem mesmo nos fins de semana. - retribuiu o abraço,com um leve sorriso no rosto,não era minha intenção, mas meus olhos se reviraram como se tivessem domínio próprio. Por algum motivo ou mais de um,a Elen me deixava desconfortável.
-Por você sempre posso dar um jeito,meu querido. - eu comecei a pensar que ela não sabia o significado da palavra discrição.
-Longe de mim querer atrapalhar seus compromissos.  - sua mão ainda estava sobre suas costas e meu olhar ainda estava observando ela bem ali.
- Quando chegou?
- Ontem,a Anne chegou tarde do trabalho então acabei dormindo aqui.
- Então passaram a noite juntos? - fiquei sem acreditar no que havia escutado. Antes que Rafael respondesse,a Maria se juntou à conversa na forma "mais discreta" possível.
- O Rafael não é maluco,sabe que deve esperar até o casamento - comentou com muita naturalidade enquanto eu estava mais vermelha que meu próprio sangue e o Rafael tossindo de nervoso com todo aquele papo louco.
- Você sempre tem os melhores comentários nas conversas - Rafael sorria enquanto comentava e recuperva seus sentidos.
-Não nego que o Rafael é uma ótima companhia pra dormir,sinto falta disso - o comentário da Elen foi desnecessário,eu particularmente achei. Onde essa conversa irá parar pelo amor de Deus?!
- É claro que sente falta, isso foi a dez anos atrás,vocês não passavam de duas crianças bobas que não se importavam em dormir com os pés sujos. Agora vamos,os dois precisam se despedir - Maria deu um leve tapinha em seu ombro.
- Então você dormia de pés sujos - brinquei assim que as duas foram embora de cochichos.
-Em minha defesa o fato ocorreu apenas uma vez e não me orgulho disso,quero deixar isso bem esclarecido. - tentou se explicar sorrindo.
-Não sei se acredito,precisarei de alguns minutos com a testemunha em particular. - franzi o cenho e segurei o riso.
-Se houver difamação haverá processo - entrou na brincadeira e acabamos sorrindo um para o outro. - agora realmente tenho que ir,meu vôo é daqui a quatro horas e não fiz as malas.
-Espera!está realmente indo embora? De vez? - algo pesou sobre meu peito, senti uma ele apertar e uma discreta tristeza me tomar ao ouvir aquela notícia incompleta.
- Não! - sua resposta veio de imediato,acho que sem intenção deixei claro o que senti. - vou à Anavilhanas   a trabalho,mas voltarei na segunda-feira,provavelmente a noite.
- Ah,é uma viagem de trabalho - havia alívio em cada palavra pronunciada.
- Sim - sorriu olhando em meus olhos -  não se preocupe... - estávamos próximos e antes de ir para o carro,se despediu apertando levemente minha mão direita e me dando um Tchau quase em sossuro.
- Tchau,Rafael.  - disse baixinho enquanto o observava entar no carro.
A tristeza ainda estava ali,talvez era apenas pela sensação boa de ter à "casa cheia" ou apenas por não gostar de despedidas.

Entre o casulo e a borboleta (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora