Lorena se despediu apenas com um olhar,não tinha certeza se ela havia sido convincente o suficiente para o policial,mas ela foi levada embora da cela. Eu não tinha noção das horas, mas com certeza já era noite, sentia muita fome e sede. Minha última refeição foi no almoço.
-Policial?! - gritei - já tem horas que estou aqui,estou com fome e sede e nenhum delegado chegou até agora,que tipo de lugar é esse? Um matadouro? - estava irritada.
-Não tenho culpa se tem um péssimo advogado e que resolveu roubar em um péssimo dia. O delegado informou que voltará depois da meia noite.
-Está de brincadeira! - ele foi embora ignorando meu comentário.
Menos de dez minutos depois o novato apareceu.
-Foi o que consegui pra você - me entregou um sanduíche e um copo com suco pelas grades.
- Graças a Deus,muito obrigada - mordi o alimento rapidamente como se minha vida dependesse daquilo - que horas são? - Estava de boca cheia,comia o mais rápido que conseguia.
- Oito da noite. Antes que pergunte,não recebemos nenhuma ligação do seu advogado. Não sei como entrou nessa, mas já vi pessoas por muito menos pegar anos de prisão. E come devagar não vou tomar o sanduíche de você.
-A quanto tempo está aqui? - não me importei em falar de boca cheia,sabia que ele poderia ir embora a qualquer momento.
-Seis meses,é meu primeiro emprego usando esta farda. - era nítido o orgulho em sua fala.
-Te darei um conselho,como se chama?
-policial Felipe Pereira.
- Ok, escuta bem,policial Felipe. Não conheço você,mas sei que lutou pra estar nessa farda e arriscar a vida por pessoas desconhecidas. Ter o medo ao sair de casa sem a certeza da volta são coisas que farão parte da sua vida. Em meio a tudo isso virão propostas que aos olhos de um ambicioso são irrecusáveis. Propostas que poderão te levar até o topo mas não de forma honesta e quando você chegar lá em cima não terá a opção de descer. Então chegará a hora que essas propostas não terão limite e você terá apenas duas opções: fazer o que te pedem ou ser jogado lá de cima, será quando você chegará a conclusão que dinheiro e poder não é tudo quando não se tem uma noite de sono tranquila e quando sujou de corrupção a farda que lutou pra vestir um dia. Não se corrompa a não ser que pular de um penhasco sem paraquedas não seja um problema pra você. Demonstra ser um bom profissional e essas pessoas não te querem ver bem,muitos menos crescer na carreira,querem que você faça o trabalho sujo delas, trabalho que elas tem dinheiro, mas não tem coragem de fazer. - ele ouvia me olhando nos olhos quando o outro policial apareceu
-Novato,o que faz aí? - levou um leve susto e tentou disfarçar da melhor forma.
-Vim trazer água. - Escondi o sanduíche rapidamente.
- Falei pra não dar nada a ela.
- Foi apenas um copo com água. Vamos,estou com fome.
-E o sanduíche?
-Não foi o suficiente,ainda estou com fome.
Depois de irem embora,voltei a sentar no chão,estava tão exausta de esperar que minha vontade era arrancar aquelas grades. Encostei minha cabeça na parede e fechei os olhos, a exaustão me fez adormecer não sei ao certo por quanto tempo,mas despertei com a voz do Rafael chamando meu nome.
-Ai meu Deus,você veio. Graças a Deus. - falei indo em direção a ele que estava agachado na frente da cela e se levantou quando fui em sua direção. - antes de conseguir impedi-las minhas lágrima desciam sem modéstia.
-Você está bem? Está machucada,te fizeram algo? - neguei todas as perguntas ainda em lágrimas - Desculpa minha demora,meu vôo atrasou e fiquei sem bateria,não sabia o que estava acontecendo.
- Eu sou inocente, Rafael. - segurei fortemente sua mão - Me ajuda a sair daqui por favor! Eu não fiz o que me acusam e eu não posso dar o que eles querem.
-Eu sei que não fez,mas preciso que me diga tudo que aconteceu com riquezas de detalhes,vou te tirar daqui e tudo será resolvido. - acaricia meu cabelo e enxuga minhas lágrimas carinhosamente.
-Pensei que não viria - apertei ainda mais forte sua mão.
- Não acredito que pensou algo assim. Me lançou um sorriso que me trouxe alívio.
…
- Eles querem a casa,a sua casa - falei sobre o acordo depois de explicar todo o ocorrido que me levai ate ali.
- Como? - Rafael parecia ter sido pego de surpresa.
- O gerente da empresa veio aqui a algumas horas,disse que esqueceriam tudo o que aconteceu em troca da casa.
-Espera,isso tudo é pela casa? - sua expressão confusa não é muito diferente da mesma que fiz ao ouvir o Sr. Carlos.
- Sim.
- Falaram o motivo de tanto interesse?
- Não, provavelmente estão tão focados em consegui-la que não chegaram a imaginar que a casa poderia ser alugada e não comprada por mim.
- Eles sabem bem mais do que imagina,Anne. Acreditam que se cedi a casa a uma única pessoa,posso abrir mão dela pela sua liberdade.
- Eu jamais te pediria isso. - disse de imediato.
-E eu jamais deixarei você pagar por um crime que não cometeu. - estávamos por alguns segundos em um olhar profundo quando fomos interrompidos pelo policial Felipe.
-O delegado chegou - parecia desconfortável por interromper.
- Ótimo,ele lembrou que trabalha - Rafael comentou baixinho - vou resolver isso e já volto. - apenas afirmei com a cabeça. Depois de um tempo, ele voltou acompanhado por um homem de certa idade bem vestido, e o Felipe que estava a alguns passos a frente deles abriu a cela.
-Vamos pra casa. - segurou minha mão e me tirou dali de dentro.
- Como fez isso? - fiquei surpresa porém muito agradecida.
- Te explico no caminho. Agora nós vamos para casa.
Após entrar estarmos no carro o Felipe surge correndo.
- Sinto muito pela forma que te tratei quando chegou, e não esquecerei do seu conselho. Suportarei até um ano e depois pedirei transferência daqui. Obrigado.
- Por nada,policial. - disse com sorriso sincero e apertei sua mão.
Quando vc se permite ser usado,não importa o tamanho da tempestade,o vento se torna um detalhe.
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Entre o casulo e a borboleta (Livro 2)
RomanceApós decidir se reerguer,o primeiro passo de Annelise foi mudar de cidade,o segundo tentar não viver presa ao seu passado e a suas cicatrizes,o terceiro...bem,uma coisa de cada vez. Passos curtos e lentos também são passos importantes. Rafael não e...