Capítulo 5

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Os dias eram um verdadeiro tédio dentro daquela enorme casa, por vezes minhas tardes eram em ligação com a Suzana e a noite,a Alface era a minha companhia,ainda não havia uma amizade entre nós, mas ela me ouvia e isso já era alguma coisa.
Um mês longo e lento havia se passado, e finalmente a primavera nos cumprimentava com sua beleza. Os dias que haviam se passaado eu mantive o contato com o Rafael, não apenas pelo fato de está morando em sua casa,mas por graças as circunstâncias nos tornarmos amigos. Algumas vezes eram mensagens como um "bom dia" ou "espero que esteja bem",em outras ocasiões eram ligações que me arrancavam simples sorrisos.
Apesar da minha timidez ,eu e a Maria também nos aproximamos. Me acolheu como filha e sempre me trazia mimos,como, bolos e frutas.

-Boa tarde,o Rafa deu notícias de como andam as coisas no hospital,minha querida? - A Maria me viu limpar as janelas da parte debaixo da casa e veio pedir informações das quais eu não tinha. Afinal não fazia ideia do que estava acontecendo.

-Boa tarde,Maria. Aconteceu algo com ele? - questionei parando o que estava fazendo e sentindo um leve nervosismo.

-Como sempre, ele prefere ficar sozinho ao invés de contar com a ajuda de alguém,eu deveria ter imaginado que ele não te diria, mesmo eu o aconselhando ontem a noite.

-Desculpe, Maria,mas estou ficando um pouco apreensiva. O que aconteceu? - me aproximei deixando os materiais de limpeza para trás.

-Seu namorado me ligou noite passada,disse que a Márcia teve uma terrível piora. Sabiamos que a situação dela é irreversível, mas é doloroso aquela pobre mulher sofrer tanto antes de partir. Então pedi que te ligasse. Você é uma boa menina,sei que ficaria algumas horinhas com a Marcia enquanto ele tomasse um banho e descanssasse um pouco em casa. Mas o Rafael é um cabeça dura, não quer tirar os pés daquele hospital. Estou um pouco preocupada,a avó dele é a única família de sangue que lhe resta e ele disse que já está lá há quase 3 dias. - isso explicava o porque fazia dias que não recebia mensagens suas.

-Não precisa se preocupar, se tiver o endereço do hospital, vou até ele,e prometo deixar a senhora informanda de tudo. - penso em segurar a mão da Maria,mas lembro que as minhas estão
cheias de espumas. Olho para um lado e para o outro e lembro que a poucos instantes estava segurando algo, então corro até os materiais os recolho.
- Você faria isto,meu bem? - demostrou um pouco de entusiasmo - não sei se será útil mas tenho o nome do hospital.
- Tudo bem,posso conseguir o restante das informações sozinha. - digo me aproximando dela mais uma vez.
- Graças a Deus. Anotei em um papel,vou busca-lo para você.  - Maria foi o mais rápido que pôde e nesse tempo esperei ansiosamente onde estava.
Ao pegar o papel,me despedi dela e fui as pressas organizar algumas coisas para levar na viagem,como uma roupa e objeto pessoais. Desmanchei meu coque bagunçado,me olhei rapidamente no espelho do quarto e percebi que precisava de um banho. Peguei uma mochila pequena e joguei algumas peças de roupas e higiene.Tomei um banho e me arrumei apressadamente. Andei pela casa com visão de águia, procurando minhas chaves, carteira,o celular e os colocando na mochila,fui em passos largos até ao ponto de ônibus sem nem mesmo saber seus horários.  Era a primeira vez voltando a cidade,mas n tive muito tempo para pensar nisso.
Peguei o primeiro ônibus que consegui,graças a Deus não precisei esperar muito. A Maria havia me dito qual hospital eles estavam e o nome completo da avó do Rafael. Graças ao trânsito, cheguei quase duas hora e meia depois no hospital, pedi informações de como chegar até o quarto da paciente, mas fui informada que não estava mais no horário de visitas, porém eu tinha a total certeza que o Rafael ainda estava em algum lugar dali.
Fui até o corredor onde ficava o quarto da Márcia e encontrei o Rafael sentado em uma cadeira. Ele não notou minha aproximação, estava com os olhos vidrados na parede vazia a sua frente.
- Oi. - falei sentando com calma ao seu lado e coloquei minha mochila de costas no chão.
- Oi,o que faz aqui? - notei seu semblante abatido e o fato de estar bastante surpreso com minha presença.
- A Maria falou onde eu poderia te encontrar.
- É claro,a Maria - mexe em seus cabelos e os deixa um pouco bagunçados - eu agradeço muito,mas não precisava ter vindo.
- Sei que pensou que estaria me incomodando pedindo que eu viesse até aqui,mas pensou errado. - assim que percebi seus olhos brilharem graças as lágrimas,ele voltou a olhar para a parede.
- Não há mais o que fazer,eu não posso impedi-la de ir embora e caso eu pudesse seria egoísmo meu fazer tal coisa,ela já sofreu muito. Precisa descansar. Mas minha avó é tudo o que me resta,Anne. - diz com os olhos lacrimejados e em seus lábios havia um leve tremor.  Senti uma enorme tristeza ao ouvir suas palavras e busquei não deixar que notasse algumas lágrimas que cairam dos meus olhos.
- Eu sinto muito por você passar por tudo isso. Mas não precisa ser sozinho. Eu posso ficar com sua avó enquanto você vai em casa se alimentar e tomar um banho,você também pode dormir algumas horas.
- Não consigo deixá-la. - balançou a cabeça levemente.
- Não é o que fará, mesmo que fique,não poderá vê-la. Vai pra casa,Rafael. A Márcia iria concordar com isso... hum? - segurei um de suas mão e senti ele a apertar.
- Ok - respirou fundo - mas não irei dormir,voltarei o mais rápido que puder e na minha ausência não me deixe sem notícias. Por favor. - fechei meus olhos ao sentir senti o alívio por conseguir convencê-lo.
- Tudo bem. A bateria do seu celular acabou,deve colocá-lo para recarregar assim que chegar,prometo que te darei notícias caso haja alguma. - afirmou com a cabeça antes de levantar. Depois de alguns passos,percebi que seu joelho  vacila e prendo a respiração.Ele me pareceu desorientado,o vi apoiar uma mão na parede e agi sem nem ao menos pensar. Mal tive tempo de correr até ele e segurá-lo antes que desmaiasse.
- Eu preciso de ajuda! - gritei com sua cabeça em meu colo,meus olhos ardiam,minha visão embaçou devido às lágrimas. Olhei para os lados enquanto continuava pedindo socorro, então uma enfermeira veio correndo até nós.
Após passar alguns minutos fui informada que ele estava desidratado e sobrecarregado, foi o que causou o desmaio. Pedi para ficar no quarto com ele e tive permissão para isso.
Ao vê-lo, senti um aperto no peito,estava recebendo soro e ainda desacordado, . Parecia tão indefeso,seu semblante abatidome entristecia. Ele era um bom rapaz,me sentia em dívida por tudo que ele já havia feito por mim, queria ali por ele agora. 
Deslizei meus dedos por seus cabelos e um sentimento novo me invade e me assusta. Sentei na cadeira ao lado e o observei até acordar.
- O que aconteceu? - questionou assim que abriu os olhos e me viu sentada ao lado da cama.
- Você desmaiou,agora está tomando soro com alguns medicamentos. - apontei para a bolsa que já estava com seu líquido pela metade.
- Eu estou bem,foi apenas cansaço.
- Eu sei,mas vai continuar bem aí - o impesi de tirar a agulha do seu braço. - Perguntei alguns minutos atrás,o quadro dela não mudou,sinto muito. - Respirou frustrado - quanto tempo passei apagado?
Pouco mais de duas horas - falei olhando às horas e ele voltou a encostar a cabeça na cama.

Observar o desespero do Rafael enquanto se despede da sua avó,prova que não importa se você sabe que seu ente querido vai partir em poucas horas, você não está preparado,sua dor não irá ser menor.
Rafael sabia que a Márcia estava em seus últimos momentos,ele sabia que tudo que poderia fazer era sentar e esperar a notícia ruim vir até ele. Mas isso não prepara ninguém. Ninguém está pronto para dizer adeus. 
Sentir seus soluços de choro enquanto me abraçava naquele corredor de hospital me fez querer nunca mais largá-lo. Me fez desejar dizer que aquela dor se amenizaria um dia. Que ele aprenderia conviver com ela e chegaria um momento que não seria mais a dor da perda,ele não choraria ao lembrar dela, mas sorriria com as boas lembranças que ela deixou. Mas o Rafael sabia de tudo isso, afinal até meses atrás foi ele quem me consolou. Então o que eu precisava fazer era ficar ao seu lado,até que ele colocasse para fora através das lágrimas todo aquele sofrimento,e foi o que fiz.

"Obrigado por está aqui" foram as únicas palavras que pronunciou durante o velório e eu apenas assenti enquanto segurava sua mão sem me importar com os olhares que nos rodeavam, inclusive algumas pessoas da turma da faculdade.
Já quase no fim a Elen e a Maria chegaram,Maria pediu mil e uma desculpas,disse que sua neta estava em uma viagem de trabalho e não sabia chegar sozinha até ali. Mas o Rafael não queria suas explicações e sim o seu abraço. Era disso que ele precisava.

Voltei gente 🥲  me desculpem pelo abandono na obra, minha vida está uma loucura e me peguei desanimada para dar andamento em meus projetos!
Posso não postar outras obras aqui,futuramente ,mas prometo finalizar esta!

Entre o casulo e a borboleta (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora