Sanji - Capítulo 1

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Dou um suspiro profundo, retirando toda a fumaça presente em meu organismo, levo o cigarro novamente aos lábios e trago, sentindo meus ombros se aliviarem. Eu definitivamente não me orgulho disso, sei listar de cor todos os malefícios que isso me trará a longo prazo, mas eu simplesmente não consigo evitar. É o fardo que carrego.

Por alguns segundos começo a relembrar a história de como tudo acarretou nessa pilha de problemas, mas aumento o volume da minha pequena caixa de som e dou mais uma tragada, impedindo que meus pensamentos entrassem profundamente em minha consciência.

Cantarolo alguns trechos de "You Don't Love Me", de Dawn Penn, aproveitando a brisa que a música e a droga combinavam. Tombo minha cabeça para trás, deixando-a repousada no encosto do sofá. Olho para o teto, minha noção do espaço começa a esvair.

A música termina, mas não movo um músculo sequer, deixando as canções seguirem, uma após a outra. Fecho meus olhos, desfrutando o momento. De repente, sinto meu cigarro quase chegar ao fim, me fazendo voltar à realidade. Perdi a noção do tempo, admiti.

Meu estômago se pronuncia, anunciando minha fome. Levanto do sofá de uma vez, perdendo o equilíbrio, mas antes que pudesse cair, seguro no braço do móvel e fechos os olhos de novo. Respiro profundamente, recuperando minhas capacidades físicas. Desligo meu som e me conduzo até minha pequena e confortável cozinha. É, definitivamente bem pequena. Solto um leve riso. Meu apartamento inteiro é um cubículo, mas é o que consigo sustentar com meu emprego de garçom.

O primeiro cômodo visível ao entrar em minha morada é uma sala de estar, que possui apenas um sofá, uma TV velha e uma mesinha de centro de vidro, onde costumo colocar minha caixa de som e meu cinzeiro. Logo após a sala, sem nenhuma divisória de cômoda, há minha bela cozinha, com bancada, fogão quatro bocas e prateleiras à esquerda do apartamento, no centro há uma pequena mesa de jantar com duas cadeiras e à direita há apenas uma geladeira. Entre a sala e a cozinha há somente um corredor de no máximo dois metros de profundidade, que dava ao banheiro, à esquerda, e ao meu quarto, à direita.

Retiro alguns ingredientes e uma frigideira da estante, planejamento preparar um simples Fricassê. Pego as coxas do frango e tempero com sal e pimenta, colocando na frigideira com um leve fio de azeite, esperando elas dourarem.

Além do cigarro, cozinhar é a única coisa capaz de me dar dopamina. Mas é impossível cozinhar o tempo todo, certo? Por isso a droga. É preciso de um alívio acessível e preguiçoso: fumar e relaxar, apenas dois passos, não precisaria de muito tempo ou esforço. Quando algo me despertasse um gatilho e a possibilidade de cozinhar não fosse viável, eu possuía uma solução rápida.

Retiro o frango, o colocando em um prato raso. Peguei a faca e uma tábua para cortar alguns cogumelos, cebola e alho. Tenho o luxo de ter ingredientes variados de vez em quando, pois o chefe me permite levar algumas sobras ou alimentos do estoque quando estão perto de se estragarem. Será que um dia eu terei meu próprio restaurante? Sei que ainda tenho muito o que fazer até chegar até lá, quero ter um diploma de gastronomia, para começo de tudo. Mas mesmo assim, gosto de sonhar um pouco, enquanto faço meu trabalho de garçom de segunda à sexta à noite, sempre espio Zeff, o chefe, preparar tudo com maestria e vendo as feições satisfeitas dos clientes.

Será que Zeff me deixaria trabalhar consigo em sua cozinha? Balancei a cabeça, tentando apagar essa pergunta. Sou apenas um jovem de 17 anos, se quero ter o privilégio de realizar isso, devo mostrar que sou capaz, não apenas com boas habilidades culinárias, mas com um bom currículo. Além disso, ter um bom boletim foi uma das exigências que o chefe me deu quando comecei a trabalhar lá há uns anos atrás. Por isso minhas notas são tão importantes.

Quando O Amanhã Chegar - zosanOnde histórias criam vida. Descubra agora