Quando O Amanhã Chegar - zosan

Sanji - Capitulo 21

— Ai! — urro amaciando o topo da cabeça — Precisa me bater por isso?

— Eu já falei que é pra marcar essa consulta, moleque teimoso!

— Mas eu já fiz a terapia dessa semana.

— Então marque outra!

— Pra quê?!

— Pra você melhorar mais rápido! — Ele segura a colher de pau, que a poucos segundos foi seu instrumento de agressão contra mim, tão furioso a ponto de uma veia saltar de sua testa.

Eu e Zeff estávamos no fim do expediente. Hoje foi um dia tranquilo, já não tinham mais clientes no salão, então o velhote precisava ocupar a mente com algo: me atazanando.

— Eu estou bem, tá legal? Foi só um evento...a parte. Não vou ter mais crises. Use sua mente caduca para se preocupar com outra coisa.

— Se é assim, devolve meu dinheiro!

— Talvez eu devolva mesmo! E esse seu colesterol? Fez sua consulta do mês?

— Não é da sua conta, pirralho! — começa a resmungar lavando os pratos descontando sua raiva na esponja — Eu dou o dinheiro pra esse fedelho usar de qualquer jeito.

— Você deu o dinheiro por vontade própria. O dinheiro é meu, faço o que bem entender — argumento ríspido com o pano de prato em mãos.

A água da torneira escorre no prato, ele me entrega o utensílio e coloco-o na pilha de pratos limpos. Ao lavar o próximo, o esfregar da esponja torna-se mais suave.

— Talvez eu faça berinjela frita para jantarmos amanhã.

Ah, o velho truque das berinjelas fritas.

— Acho que a velhice está acabando com sua audição, então vou falar de forma bem clara pra você entender — chego perto do seu ouvido, aumentando o tom — Eu! Não! Vou! Te! Obedecer!

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— Bem...eu me considero bi.

Tomo mais um gole do cappuccino, sentindo minha língua acalorar com a bebida ainda quente. Confesso que existem certas vantagens de fazer terapia, uma delas é a grande máquina de café que há na sala de espera.

— Você se considera ou se afirma?

Às vezes é estressante como Ivankov tem sempre as perguntas mais complexas disfarçadas de perguntas simples. No primeiro segundo, a resposta vem na ponta da língua, mas penso mais e concluo que precisaria de pelo menos 10 minutos de silêncio para expressar algo decente. É estressante não ter respostas.

— Tem diferença?

— Ah, muita. "Se considerar" dá apenas o benefício da palavra, é algo inconstante e que está sujeito à mudança. Já "se afirmar" é uma certeza, algo fixo o qual experimenta e vivencia no seu dia a dia. Tem muita diferença entre se considerar um médico e de fato ser um, não acha? E então, Sanji? Você se considera ou se afirma bissexual?

— Eu...me afirmo — os olhos certeiros de Ivankov me encaram como se analisassem cada metro, decímetros, centímetros e milímetros da minha alma. Ao mesmo tempo, seu olhar me provoca, gritando: "Então diga logo de uma vez". Respiro fundo, cerrando os olhos com força — Eu sou bissexual.