𝑪𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟓 - 𝑫𝒆𝒔𝒂𝒍𝒆𝒏𝒕𝒐

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        𝐀lguns dias depois que concordei em considerar sua proposta, Rhysand me enviou uma coleção de anotações sobre a Corte Primaveril. A maioria dos documentos consistiam em estratégias para melhorar a funcionalidade da corte e planos de ação para lidar com possíveis revoltas pelo território. Incluía também um adendo para a abolição de uma de suas leis, o tributo, dizendo que essa mudança seria capaz de acalmar a população ao menos um pouco.

        Porém, nada me preparava para lidar com o verdadeiro problema: o Tamlin.

        O Calanmai aconteceria em cerca de três meses. A Corte Primaveril estava um caos, e o Grão-Senhor, até onde sabíamos, vagava pelos bosques como uma fera. Não havia qualquer indício de que ele estivesse inclinado a fazer seu trabalho como líder ou dar atenção aos problemas ao seu redor. Mas a proposta de Rhysand continuava de pé, mesmo parecendo cada dia mais impossível e improvável de funcionar.

        E embora eu quisesse recusá-la no instante em que terminei de ler suas primeiras páginas, permanecia considerando-a por alguma razão.

         — Oi, vim ver se você ainda está viva. — Dei um pulo no meio da sala. A voz veio da porta, onde minha vizinha estava com a cabeça enfiada de maneira assustadora, como sempre fazia, com seus dentes afiados em um sorriso ainda mais pontudo. — A baranga do cinco está espalhando rumores de que você tem um caso com o Illyriano e por isso ainda não foi embora.

         — Cassian?!

         Ele era o único Illyrano que aparecia por aqui e vinha apenas para me levar até os treinos, nada mais.

        Vlatka sacudiu a cabeça confirmando.

        Isso era ridículo.

         — Mas não se preocupe com isso, eu comi os canários dela para te vingar. — Sua risadinha maldosa preencheu o cômodo conforme ela vinha se sentar no sofá ao meu lado, analisando a sacada com interesse. — Falando nisso, aquele passarinho gorducho não está por aqui hoje?

        — Não. — Acabei dando um suspiro cansado.

         O corvo costumava aparecer todos os dias, ficava esperando no parapeito até que eu abrisse as portas para entrar e comer os farelos das minhas bochechas, mas isso foi antes de Vlatka tentar comê-lo. Agora eu não o via há dias, e sentia uma estranha melancolia me assombrar por sua ausência... junto com uma leve desconfiança de que minha vizinha tivesse o devorado escondido. O que me assombrava ainda mais.

         — Acho que ele se cansou de mim. — Falei mais para mim mesma do que para ela, pois era o que eu gostaria de acreditar.

         Vlatka virou a cabeça para mim de um jeito assustador que a fazia parecer uma boneca com o pescoço quebrado, seus cabelos pretos escorreram pela pele verde de seus ombros, e ela lançou um olhar para a pilha de anotações na mesa de centro.

         — Você está perdendo tempo anotando tudo isso, sabia?

         — Claro que não. Antes de ir para a Corte Primaveril, preciso conhecer o território e ter um plano. — Isso era o principal, na verdade. Apontei para o meu caderno de anotações, onde havia uma lista de afazeres. — Olha, eu criei um roteiro para seguir até o Calanmai.

         — Ah, então acho que você já se decidiu. — Ela piscou lentamente a membrana de seus olhos escuros como um réptil. — Não é?

         Abri a boca para negar, mas minhas palavras anteriores me atingiram no rosto como um tapa. Recuei, encarando-a com um pouco de mágoa. Vlatka era assustadora, não somente em aparência, mas em sua capacidade de fazer as pessoas dizerem exatamente aquilo que não conseguiam aceitar. Ela já tinha feito isso algumas vezes na minha frente, mas comigo era a primeira vez.

𝐂𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐏𝐫𝐢𝐦𝐚𝐯𝐞𝐫𝐚 𝐞 𝐋𝐮𝐚𝐫Onde histórias criam vida. Descubra agora