𝑪𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟐 - 𝑰𝒎𝒑𝒓𝒖𝒅𝒆̂𝒏𝒄𝒊𝒂

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𝐄u me lembrava do cheiro da terra molhada, do gosto de sangue na minha boca e da dor latejante provocada pelos arranhões dos espinhos em meu corpo. Sabia com certeza que, pelas flechas que me atingiram, eu não deveria estar viva, e se isso não bastasse para justificar minha morte, a sensação de ser atirada de um penhasco ainda estava fresca em minha memória. No entanto, mesmo com todas essas informações, eu continuava respirando.

A primeira sensação que tive ao despertar foi a presença dos metais à minha volta, vibrando em perfeita harmonia, arrepiando os pelos dos meus braços e despertando o poder dentro de mim. Eram muitos, todos a mais pura prata. Eles serpenteavam pelas paredes em centenas de ornamentos, e eu podia sentir seus desenhos mesmo com os olhos ainda fechados. Pareciam sussurrar com a minha essência, prontos para obedecer ao meu comando, e dispostos a se cravarem nas gargantas daqueles cujas vozes chamavam minha atenção em algum lugar à direita.

— Ela tem barreiras? – perguntou uma delas.

— Pensei que algo assim fosse impossível. – disse outra. — Não era para ser literalmente impossível?

— Não fique tão indignado, Cassian. — E mais uma respondeu. Eram três machos.Eu consigo entrar, mas está caótica. Não vejo nada com clareza além do que já sabemos.

Fiquei imóvel, respirando o mais calmamente que conseguia.

Se eu fingisse ainda estar dormindo, teria uma chance de conseguir fugir quando todos saíssem do cômodo, ou, pelo menos, me daria mais tempo para pensar em um plano melhor.

— Essa ideia poderia funcionar se eu não estivesse presente.

Se fosse precisa o bastante, poderia eliminá-los de uma só vez com pedaços de metal afiados feitos dos adornos. Seria uma morte rápida, desde que acertasse diretamente suas gargantas.

— Isso não será necessário. – Aquela voz parecia estar mais próxima agora. – Não temos a intenção de te machucar.

Próxima demais.

Pulei do lugar onde estava, atraindo todos os metais do cômodo por alguns segundos antes de uma onda de dor me derrubar de joelhos. Perdi o fôlego, e minha visão ficou turva. Os metais caíram como chuva ao meu redor, tilintando pelo piso. A tontura me fez deslizar até tocar minha testa no chão, abraçando meu corpo e buscando em minhas costelas o ponto doloroso. Me recordei com clareza da madeira entre meus ossos, se afundando mais a cada expiração. Era como se a flecha ainda estivesse lá, arranhando e pressionando.

Subindo e descendo.

Mas não havia somente ela; minha perna latejava enquanto as imagens das outras duas flechas surgiam em minha mente pintadas de vermelho. A pressão dolorosa nas minhas costelas aumentou, espalhando-se pelo peito e apertando até o ar ficar preso.

Não podia respirar, pois qualquer movimento faria cada uma delas se mover dentro da minha pele.

Arranhando. Afundando.

Eu não podia respirar.

Eu não podia respirar.

Eu não conseguia respirar.

Subindo e descendo.

Está tudo bem, Eostre. – A mesma voz de antes ecoou por todos os lados. – Você está segura.

As flechas sumiram, todas elas.

        Você está segura agora, Eostre. — Ele repetiu.

𝐂𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐏𝐫𝐢𝐦𝐚𝐯𝐞𝐫𝐚 𝐞 𝐋𝐮𝐚𝐫Onde histórias criam vida. Descubra agora