Capítulo 15 - Ardente

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        Não me preocupei em esconder o quanto aquela tarde me agradou conforme voltávamos para a mansão naquele dia, nem quando puxei minha cadeira para o seu lado durante o jantar como ele já havia feito anteriormente. Também não menti pra mim mesma sobre os motivos que me fizeram guardar o caule do dente de leão que Tamlin havia me dado dentro das páginas do meu caderno de anotações.

        No entanto, talvez eu devesse ter sido um pouco mais discreta quanto aos meus interesses quando me aproximei de Zaya e sua irmã na sacada na tarde seguinte.

        — O que está acontecendo? — Eu perguntei como se não soubesse o óbvio.

        Zaya se virou para mim com uma caneca de metal na mão. O líquido balançou pelo susto que ela levou ao me ver atrás dela tão de repente.

        — Pelo Caldeirão, mulher. — Ela praguejou com a mão sobre o peito, tomando uma respiração e logo ajeitando a postura para continuar a falar mais calmamente: — Hoje está quente, os sentinelas estão treinando sem camisa.

        Abri a boca e concordei com a cabeça, como se eu já não soubesse disso. Precisava apenas de uma desculpa para ficar em uma sacada sem deixar óbvio os meus motivos. A verdade, é que eu estava curiosa. Desde que fizemos o acordo sobre a porta, ainda não tinha tido a oportunidade de ver a tatuagem de Tamlin enquanto por outro lado ele já havia até tocado na minha.

O que era muito injusto.

        Não que eu acreditasse que fosse ter alguma coisa diferente da minha, mas eu queria vê-la de qualquer maneira.

        Zaya abriu espaço para que me juntasse a elas no parapeito. Cielle estava debruçada no alabastro, com os cabelos em um coque alto assim como sua irmã, bebendo grandes goles da sua própria caneca enquanto não desviava os olhos do treino nem por um segundo.

        — O que é isso? — Perguntei, apontando para a bebida delas com curiosidade.

        — Sidra. — Zaya respondeu, me ofereceu sua caneca.

        Sidra, como o rio em Velaris, era uma bebida espumante muito popular na Corte Noturna, e na primaveril também pelo visto.

        Aceitei a caneca. Bebericando um pouco com cautela, avaliando a quantia de álcool que tinha ali antes de me permitir dar mais um gole. Aparentemente o teor alcoólico não era muito alto.

        Diferente da Corte Noturna, a Sidra primaveril tinha um gosto mais azedo do que doce. Mas era bom, lembrava uma pitada de limão no começo e um pouco de mel no final. Delicioso.

        Deixei meus olhos zanzarem até o pátio, procurando pelo Grão-Senhor que já deveria estar ali depois do nosso almoço. Mas não havia nenhum sinal dele.

        Os sentinelas se alongavam, seus corpos se esticando em movimentos fluidos enquanto se preparavam para o treinamento. O sol da tarde derramava sua luz sobre o pátio, e sobre a sacada também, deixando tudo muito quente, queimando a pele das bochechas e aquecendo o couro cabeludo.

        Estreitei os olhos para conter a luz e procurei pelo rapaz de cauda e orelhas caídas. Ele estava jogando a cabeça de um lado para o outro, puxando os cotovelos em frente ao peito e esticando os braços para cima. Era meio magricela, mas devia ser um daqueles que havia começado a treinar recentemente.

        Os novatos que Tamlin disse que não levaria para Riviera.

        — Humm, Cielle, olha o tamanho do braço dele. — Provoquei, assim que o rapaz que ela estava interessada começou a fazer flexões rápidas no chão. — Sorte sua.

𝐂𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐏𝐫𝐢𝐦𝐚𝐯𝐞𝐫𝐚 𝐞 𝐋𝐮𝐚𝐫Onde histórias criam vida. Descubra agora