𝑪𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟕 - 𝑶𝒃𝒍𝒊𝒒𝒖𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆

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         𝐀zriel estaria na Corte Primaveril naquela tarde, e eu não tinha sequer uma informação útil além do estado decadente da mansão para enviar a Rhysand. E, embora Tamlin e eu tivéssemos tido uma conversa relativamente decente na noite anterior, não era algo bom o bastante para ser considerado progresso.

        Sendo assim, naquela manhã, acordei duas horas mais cedo, determinada a recuperar o que eu havia perdido em uma semana. Eu queria um progresso.

        Me levantei disposta, talvez pela primeira vez desde a minha chegada. E, em vez de me esconder no meu quarto até a hora do almoço para evitar a fadiga de encarar o Grão-Senhor, caminhei até a sala de jantar exatamente com o propósito de encontrá-lo. Estava determinada a manter o ritmo da conversa que tivemos no dia anterior, mesmo que precisasse falar sozinha na maior parte do tempo. Pretendia fazê-lo me ouvir tagarelar sobre tudo o que havia no mundo, até que ele se sentisse compelido a responder. Inventaria mais metáforas com dentes-de-leão e flores, falaria sobre recomeços e como tudo era mutável. Eu faria com que ele acreditasse que poderia ser mais do que essa criatura arruinada — e que eu estaria ao seu lado para isso.

        Se Tamlin precisava de alguém para dizer que tudo ficaria bem, então eu seria essa pessoa pelos próximos três meses.

        Ao chegar à sala de jantar, encontrei-a vazia e cogitei que o Grão-Senhor ainda estivesse dormindo. Considerando as olheiras profundas que haviam chamado minha atenção na noite anterior, não me surpreenderia se ele acabasse dormindo algumas horas a mais. Contudo, ao entrar na cozinha em busca de algo para comer, a visão que me esperava arrancou o ar dos meus pulmões em uma expiração sobressaltada. 

        Tamlin estava ali, de costas para mim, seus cabelos loiros caindo por suas costas largas e tensas. Ele olhou por cima do ombro, as sobrancelhas levemente franzidas, os olhos verdes encontrando os meus com um toque de confusão. Pisquei, tentando processar a cena, e ele respondeu com um piscar ainda mais expressivo. Um leve odor de queimado permeou a cozinha, vindo da frigideira à sua frente, e ele rapidamente voltou sua atenção para ela, mexendo o conteúdo com uma espátula, o maxilar contraído de maneira quase frustrada.

        — A mansão não tem empregados? — perguntei, sem conseguir conter o espanto em minha voz.

        Mesmo sem ter visto uma alma viva além dele, eu jurava que pelo menos um cozinheiro e uma camareira deveriam estar ali.

        — Tinha — ele respondeu, jogando o conteúdo queimado no lixo com um movimento rápido. — Mas estou resolvendo isso.

        — Você tem certeza? — Não pude evitar a dúvida. Deveria ser fácil para um Grão-Senhor encontrar feéricos dispostos a trabalhar em sua mansão, e o fato de ele não ter conseguido isso me deixava desconfiada.

        — Sim.

        Eu não esperava outra resposta. Na verdade, não esperava mais nada. Ainda estava atordoada demais pela cena para pensar em como reagir. Tamlin, sozinho na cozinha, um Grão-Senhor diante de uma tarefa tão mundana. A imagem destruía completamente a aura sombria que o cercava e, pela Mãe, fazia os rumores sobre sua malvadeza parecerem ridículos. Essa era a criatura terrível que diziam que voltaria para se vingar da Corte Noturna? Quebrando ovos cuidadosamente em uma frigideira, ficando frustrado porque a gema havia se misturado com a clara e começando tudo de novo?

𝐂𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐏𝐫𝐢𝐦𝐚𝐯𝐞𝐫𝐚 𝐞 𝐋𝐮𝐚𝐫Onde histórias criam vida. Descubra agora