Capítulo 9 - Infame

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        Ás vezes, era surpreendente quão rapidamente as coisas podiam se transformar. Dentro de dois dias Tamlin tinha passado a realmente conversar comigo, seus sentinelas aparentemente estavam de volta e a mansão teria novamente empregados. No entanto, o que eu não previaera que, em menos tempo, veria todo esse progresso escorregar por entre meus dedos como areia.

       Ao despertar na manhã seguinte, me deparei com uma fêmea me observando junto à penteadeira do meu quarto.

        E embora soubesse sobre o retorno dos empregados, a presença inesperada no meu quarto logo cedo ainda me surpreendeu. Contive meu susto a tempo somente de evitar um grito, limitando minha reação a um sobressalto na cama que pareceu arrancar o ar dos meus pulmões. Instintivamente, minha mão voou em direção à adaga escondida entre o colchão e a cabeceira. Por um instante, pensei que fosse uma intrusa, talvez um rebelde como Rhysand havia alertado, mas as memórias do jantar da noite anterior voltaram a tempo de impedir que eu apontasse a adaga para a mulher. Me sentando, acalmei minha respiração e estiquei os pés para alcançar minhas sapatilhas no carpete.

        A mulher me observou em silêncio, seus olhos grandes e pretos como carvão envoltos em cílios longos e escuros, lembrando os de uma corça. O rosto salpicado por manchinhas mais claras do que sua pele castanha exibia traços delicados, expressando uma mistura de timidez e doçura naturalmente. Dois chifres se enrolavam graciosamente acima de suas orelhas, mesclando-se ao cabelo castanho encaracolado preso em um coque volumoso na nuca. Certamente, ela não fazia parte dos empregados que as memórias de Feyre me mostraram; disso eu tinha certeza.

        — Bom dia, senhora. Eu sou a sua nova camareira. – ela informou, torcendo as mãos com timidez à frente do corpo. Não deveria passar de uma criança, cinquenta anos no máximo. – Meu nome é Zaya.

        — Tamlin a contratou? – perguntei de repente, e seu olhar se tornou confuso. – Quero dizer, ele irá lhe pagar?

        Me preparei para uma resposta que traria de volta a minha total repulsa por ele.

        Zaya tentava, sem sucesso, esconder as patas debaixo das saias do vestido de camareira, como se seus chifres sozinhos não fossem suficientes para revelar a sua espécie. Ela era um sátiro, uma raça feérica considerada tão inferior que, em sua maioria, eram comprados em vez de contratados. Geralmente destinados a trabalhos agrícolas devido à sua infinita afinidade com a terra, viviam para cuidar de plantações e campos. Ter um deles trabalhando dentro de uma propriedade como a mansão primaveril era, no mínimo, peculiar.

        — Sim. – Zaya encarou suas próprias mãos, com tanto nervosismo que suas bochechas coraram. – Foi realmente generoso; ele contratou toda a minha família ontem, e estamos todos muito honrados em trabalhar diretamente para um grão senhor.

        Me levantei lentamente da cama, tomando cuidado com cada movimento, pois Zaya parecia à beira de ter um colapso nervoso, seu rosto ficando cada vez mais vermelho. Imaginava claramente como ela poderia ter sido tratada nos campos, dada sua reação tão submissa.

        Ajeitei minha camisola e meus ombros, deixando um sorriso preencher meu rosto enquanto me aproximava alguns passos dela.

        — Seja bem-vinda. Espero que goste daqui. – falei com delicadeza. – É reconfortante saber que há mais gente na mansão; um lugar grande com apenas duas pessoas dentro é bastante solitário.

         Zaya levantou os olhos, um leve vislumbre de castanho contornava suas pupilas, tornando-se visível apenas pelo feixe de luz do sol que atravessava a janela e a atingia. Parecia surpresa por um instante, tentando assimilar minhas palavras. É claro, ela devia saber que eu era parceira do Tamlin a esse ponto, o que talvez a deixasse receosa de dizer ou fazer algo errado, como se eu fosse julgá-la por isso. Mal sabia ela que era um alívio para mim saber que eu não estaria mais sozinha com ele aqui.

𝐂𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐏𝐫𝐢𝐦𝐚𝐯𝐞𝐫𝐚 𝐞 𝐋𝐮𝐚𝐫Onde histórias criam vida. Descubra agora