Capítulo 17 - Conflito

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        Uma semana havia se passado desde o interrogatório na fortaleza, e tanto Tamlin quanto eu ainda estávamos sem ideias sobre como retomar a Cidade Dourada.

        Os dias se arrastavam lentamente, sem que nenhuma solução surgisse em nossas mentes. E eram marcados por treinamentos que só aumentavam inseguranças e ressuscitavam pensamentos que eu desejava abandonar na Corte Noturna, mas que voltaram à tona nos primeiros dias.

        Eu era um desastre em combate.

        Mesmo com Tamlin e Volkan pacientemente tentando me ensinar o básico do básico sobre golpes que eu já deveria saber, eu continuava executando-os porcamente, como se nunca tivesse treinado durante meses em Velaris. No entanto, isso não era novidade. Desde os treinos das Valquírias, eu sempre soube que meus ataques tinham grandes aberturas e que meu corpo era mole demais para defender um golpe sem cambalear até o chão. Na Corte Noturna, Cassian se esforçou para mudar isso, mas tudo o que conseguiu tirar de mim foram chutes altos e uma esquiva boa, nada mais.

        Nenhum soco forte o bastante.

        Nenhum bloqueio eficiente.

        Apenas esquivas pomposas, das quais ele ria, dizendo que eu deveria parar de dançar no meio da luta, e alguns chutes que muitas vezes erravam o alvo.

        Eu realmente era um desastre em combate. E gostaria que Tamlin não notasse isso tão rápido, pois, se ele percebesse o quão ruim eu era, tenho certeza de que daria um jeito de quebrar o acordo e ir até a Cidade Dourada sozinho. 

        Por conta disso, apesar da minha óbvia desmotivação e falta de aptidão, eu me esforcei em manter uma fachada de interesse genuíno durante os treinos. Pois apenas o pensamento de deixá-lo ir sozinho retomar uma cidade sem seu poderes parecia combustível o bastante para me fazer sustentar aqueles treinamentos com um sorriso forçado no rosto.

        Sendo assim, dia após dia, eu continuava a fingir um entusiasmo que estava longe de sentir, esperando que, de alguma forma, minha persistência pudesse eventualmente se transformar em alguma habilidade verdadeira.

        No entanto, aquela mesma insegurança que me rondava na Corte Noturna ressurgiu; eu era totalmente dependente dos meus poderes, assim como um pássaro é de suas asas. Sem eles, eu não era capaz de fazer praticamente nada além de definhar. Então mesmo que o objetivo fosse que eu treinasse sem usá-los, as espadas sempre acabavam vindo até minha mão ou me defendendo automaticamente. E quando Tamlin tirou todos os metais do pátio de treinamento, ficou mais do que óbvio que eu era uma inútil sem eles.

        E eu me sentia exatamente assim: inútil, um desastre. Envolta em uma aura irritadiça e chorosa por errar tantas vezes, sempre exausta antes mesmo de começar a me aquecer e completamente esgotada ao final dos primeiros golpes. Contudo, no final daquela semana, percebi que aquelas emoções confusas e a exaustão exagerada tinham mais a ver com minha fisionomia feminina do que com minha competência.

        Era sexta-feira, durante o começo de um desses infelizes treinos, quando senti meu corpo se virar contra mim em uma onda de desconforto mais intensa que nos dias anteriores. Tamlin fixou seu olhar em mim no mesmo instante, como se soubesse... como se tivesse certeza ou até pudesse sentir o exato momento em que uma cólica esquentou meu sangue. Ele parou onde estava, observando eu me erguer de onde fazia uma série de abdominais no chão e encolher as pernas contra o peito. 

        Com a cabeça abarrotada de problemas da Corte Primaveril e meu indesejado laço de parceria me assombrando pelas ruas de Velaris, eu tinha esquecido completamente de contar os meses desde o meu último período. E aquilo tinha sido um erro, pois eu mal havia notado os sutis sinais ao longo dos dias até o momento em que a primeira pontada de dor me atingiu.

𝐂𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐏𝐫𝐢𝐦𝐚𝐯𝐞𝐫𝐚 𝐞 𝐋𝐮𝐚𝐫Onde histórias criam vida. Descubra agora