𝑪𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟔 - 𝑬𝒇𝒆̂𝒎𝒆𝒓𝒐

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𝐀cordei na manhã seguinte com a sensação de ter sonhado com algo ruim, mas a lembrança dos acontecimentos dentro desse pesadelo desapareceu tão rápido quanto meus olhos se abriram. Ainda assim, aquela sensação sufocante de que algo estava fora do lugar permaneceu comigo por minutos incontáveis, enquanto eu olhava para um canto do teto em busca de conforto. Mas não havia conforto naquele lugar, e eu duvidava que encontraria algum nos próximos três meses.

Três meses...

Engoli em seco, sentindo minha respiração perder o ritmo enquanto as paredes do quarto pareciam se fechar ao meu redor.

Eu precisava aguentar três meses. Conseguiria fazer isso, não conseguiria? Ontem parecia que sim...

Me sentei na cama, meu coração martelando no peito. As memórias de Feyre ecoavam em minha mente, mostrando vislumbres das barreiras que a trancafiaram na mansão se fechando ao seu redor, transmitindo todas as emoções que ela sentiu naquela época. Angústia, desespero... traição. Aquele lugar em breve poderia também se tornar minha prisão — sem correntes visíveis ou um carrasco, mas com barreiras e um Grão-Senhor igualmente opressor.

Andei em círculos pelo quarto, os pés descalços deslizando sem som sobre o piso frio, enquanto tentava controlar a respiração e conter a angústia que crescia dentro de mim ao despertar no mesmo lugar onde Feyre foi mantida cativa. Onde eu também poderia ser... onde Tamlin poderia me aprisionar a qualquer momento.

O sol ainda estava nascendo, e poucos feixes de luz se infiltravam pela janela. Mas voltar a dormir seria impossível naquele momento, por mais que eu quisesse me desligar de tudo ao redor por mais algumas horas. Me arrastei até o banheiro, joguei água no rosto e depois bebi um pouco. Molhei a nuca também, porque Vlatka sempre dizia que isso acalmava os nervos.

"Essas memórias não são suas", repeti para mim mesma, respirando fundo e contando até dez enquanto encarava o ralo da pia.

Lavei o rosto mais uma vez, como se a água pudesse limpar o impacto que as memórias de Feyre tinham sobre mim. O espelho da pia estava quebrado, partido em vários pedaços, mas ainda era possível ver meu reflexo desgrenhado em meio às rachaduras. Passei os dedos pelos cabelos, encontrando alguns grampos perdidos em meio aos nós. Demorei tanto trançando-os de volta em um penteado aceitável que, quando terminei, a angústia já havia se dissipado.

Encarei meu reflexo mais um pouco, ensaiando expressões suaves para usar ao encontrar Tamlin novamente: sorrisos forçados, olhares gentis, e toda a delicadeza que poderia demonstrar ao colocar uma mecha de cabelo atrás da orelha. Eu estava pronta para fingir, para ser adorável e dócil, pois acreditava que assim o Grão-Senhor não veria motivos para me trancafiar. Afinal, por que prender algo que não parece querer ir embora? Apesar de estar pronta para seguir com esse plano, a ansiedade da possível falha ainda pesava no meu peito.

Eu não podia falhar... não podia decepcionar Rhysand.

O sol já havia terminado de nascer quando terminei de amarrar os cadarços das minhas botas, enquanto repassava mentalmente meu plano. Na teoria, parecia relativamente fácil: iniciar diálogos, conquistar um pouco de confiança a cada dia, aprofundar nossas conversas, encontrar assuntos em comum, fingir interesse de maneira convincente e, eventualmente, abordar o tema Calanmai. Era um plano simples, mas eu sabia que colocá-lo em prática seria muito mais complicado, considerando o humor atípico do Grão-Senhor. Nesse ponto, o laço de parceria teria que operar um milagre.

𝐂𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐏𝐫𝐢𝐦𝐚𝐯𝐞𝐫𝐚 𝐞 𝐋𝐮𝐚𝐫Onde histórias criam vida. Descubra agora