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Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo
não tentaste qualquer viagem
não possuis carro, navio,
terra.
mas tens um cão.
Algumas palavras duras
em voz mansa, te
golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
-  Carlos Drummond de Andrade

|| Gabriel Donato ||

Ser dono de empresa é bom, não vou mentir. Mas tem dias que eu simplesmente não aguento. Hoje é 21 de abril, feriado nacional, e estou em uma reunião online porque não é feriado para os meus investidores. Mando uma mensagem no grupo avisando que provavelmente vou atrasar e continuo tentando prestar atenção no que estão falando.

[...]

– For today it's just Harold, we'll talk later.- Encerro a reunião já cansado de toda essa conversa.

Digitei o número do Raphael enquanto esperava o elevador.

– Tô saindo daqui agora, precisam que busque alguma coisa?- Falei assim que ele atendeu.

– Traz gelo!- Falou após perguntar para os demais se era só isso. Ouvi alguém falando que a corona acabou, então vou comprar um fardo também, bebida nunca é demais.

– Até daqui a pouco então.- Falei desligando.

Passei no mercado e comprei o gelo, um fardo de corona e umas carnes também. Nunca se sabe, e pra não precisar voltar já comprei tudo.

Arregacei as mangas da blusa e empurrei o carrinho ao perceber que chegou a minha vez. Rio de janeiro parecia estar pegando fogo, um calor absurdo. A melhor coisa que já inventaram foi esse caixa rápido que nós mesmos cobramos. Depois de pagar tudo, peguei as sacolas e entrei no carro. Indo em direção a casa do Thiago.

Cheguei em uns 15 minutos e entrei já que a porta já estava aberta. Cumprimentei os pais dele que estavam na sala e fui até a área de churrasco que foi onde a mãe dele disse que eles estavam.

– Fala meus lindos, a felicidade de vocês acabou de chegar.- Cumprimentei entregando as sacolas pro Thiago.

– Com esse fardo de corona aí, realmente!- Bia falou chamando a atenção dela pra mim. Ela usava um daqueles croppeds cheio de fitas amarradas é um short jeans branco. Namoral essa menina é absurda.

– Iiih já tá com essa intimidade toda?- Perguntei debochado a fazendo rir. Não é novidade pra ninguém que ela e a Valentina iam se enturmar fácil no grupo e isso só ficou mais fácil depois que os meninos adicionaram elas no grupo do whatsapp e que fomos pra praia no domingo.– Eai gata, tá bem?

– Tô sim. E você?- Só concordei com a cabeça e a abracei de lado dando um beijo na bochecha dela. Bia é muito gente boa, só a carinha que é de enjoada.

Pouco tempo depois as meninas já estavam dançando na frente da piscina enquanto riam, nunca vi gostar tanto de dançar assim.

– Quer um guardanapo?- Mateus perguntou e eu olhei pra ele confuso.- Tá quase babando na Bia aí pô.

– Vai se foder.- Comecei a rir.– Pode nem olhar mais pô.

– Vai na fé, da moral pra ninguém. Maior cu doce da história.- Falou e eu concordei com a cabeça enquanto bebia mais um gole da minha cerveja.

A mina é muito gata, mas não sou de correr atrás de ninguém. Vou investir no máximo 2 vezes, me enrolou demais eu canso.

– Vai ficar aí só na cerveja olhando?- Thiago perguntou se aproximando também.

– Me falaram que ela não vai me dar moral, caso contrário nem estaria aqui mais.- Falei e o Raphael deu uma risada negando com a cabeça, provavelmente entendendo que o Mateus já me contou como é.

– De quem vocês tão falando?- Chegou as meninas perguntando curiosas. Só neguei com a cabeça.

– O babacão aí querendo abandonar o barco por medo.- Phael soltou na roda. Sem noção.– Falaram que era difícil e o bonitinho já quis pular fora.- Dei um tapa na nuca dele, fala demais. Elas riram e voltaram pra onde estavam.

Pouco tempo depois a Valentina, Duda e o Phael decidiram fazer uma batida de morango, sumindo pra dentro da cozinha. Mateus e Marina tinham sumido também, me deixando sozinha com a Bia.

– Não foi lá com eles?- Perguntei me aproximando dela, que estava sentada no sofá que tinha por aqui.

– Odeio bagunça, e sei que lá só vai ter isso.- Concordei com a cabeça sabendo que era exatamente isso que ia estar lá.– Me conta uma fofoca aí, tô afim de escutar uma fofoquinha.- Falou me fazendo rir.

– Que fofoca maluca? Sei nada de ninguém, isso aí é com Raphael e Mateus, eles que são fifi.- Ela riu negando.

– Conta o rolê da menina lá, que estavam falando aquela hora.- Encarei ela pensando como falaria que estávamos falando dela.

– Pô, quem eu quero falaram que não é pra mim!- Disse dando de ombros. Tô pouco me fudendo, ela já sabe que eu quero mesmo.

– Te falaram que ela não é pra você?- Assenti.– Então tu nem perguntou se ela queria?–Falou indignada e eu assenti de novo.– Aí é foda né? Como tu sabe se ela não é pra você se nem chegar nela tu chegou?

– Eai, bora?- Falei metendo o maior charme e ela me olhou surpresa, lerdinha demais. – Sim ou não?

– Me pegou total de surpresa agora viu?- Falou colocando a mão no rosto, morrendo de vergonha.– Talvez mais tarde.– Deu um beijo na minha bochecha que pegou no canto da minha boca, indo em direção a cozinha depois. Filha da puta.

Parado eu estava, parado eu fiquei. Mina só tem a cara de santa mesmo. Bebi o resto da noite tentando não focar nela, sabia que esse mais tarde não seria hoje.

Continua...

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