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Toda vez que eu faço uma coisa
com muita intenção
não sai nada,
sou portanto um distraído
quase proposital.
Eu finjo que não quero,
termino por acreditar que não quero
e só aí a coisa vem.
- Clarice Lispector

|| Biatriz Lacerda ||

Nem o calor de 90° estava me incomodando, simplesmente por estar na praia. Tava até rindo pro vento.

– Que que essa maluca tá rindo pro vento?- Ouvi Thiago falando atrás de mim.

– A piranha chegou em seu habitat natural.- Valentina falou rindo também.

– Me deixem.- Falei colocando a canga que estava amarrada na minha cintura na areia.– Vou é tomar um sol, nem parece que sou carioca. Toda cru.

– Vai é ficar parecendo um camarão bobona.- Falou empurrando minha cabeça.

Fiquei ali deitada tomando um sol de bruços conversando com as meninas sobre alguma celebridade aleatória, enquanto os meninos iam surfar.

[...]

Realmente o mar é minha vista preferida da vida, fico viajando em como é lindo a forma que ele casa com o céu. Minha maior saudade daqui era qualquer lugar ser perto da praia. Definitivamente.

– Pensando em mim?- Gabriel chega colocando a mão na minha cintura, me assustando.– Que isso, tá se escondendo?

– Não me mata do coração que eu tô nova pra isso.- Falo colocando a mão no peito.– Estamos no rio, idiota.

– O perigo sou eu.- Brinca rindo e se senta do meu lado. – Por que tá sozinha aqui maluca?

– Parem de me chamar de maluca.- Murmurei. – Meninas foram dar uma volta, vocês estavam sumidos até agora. Falando nisso cadê os outros trastes?

– Não posso te chamar de maluca, mas tu me chama de traste e tá de boa né?- Falou debochado.– Mas de qual deles tu quer saber?

– Todos.

– Mateus e Thiago estão ali jogando altinha. Tava ali até agora pouco.- Apontou com a cabeça para um grupo do nosso lado que só percebi agora.– Raphael sumiu com a Maria Eduarda.

– Esses dois ainda vai ficar muito sério.- Suspirei. – Não vi vocês jogando, nem surfando. Não falaram também né?

– Se já não estão.- Deu de ombros.– Pensei que já tinha visto, se não chamava. Acha mesmo que eu ia perder a oportunidade de te fazer se apaixonar por minha versão atleta?

– As meninas que tu fica tão te iludindo muito, viu? - Falei fazendo um sorriso brotar no rosto dele.– Sou mais o seu colega loirinho ali, maior gatinho.

– Se for esse o caso, fico loiro facinho.- Falou sorrindo com o olhar no meu.– E gato eu já sou mesmo.

– Puta que pariu, você simplesmente não existe.- Falei rindo. E quando ia responder os meninos chegaram com comida.

Ficamos ali decidindo como seria a volta e nada de quererem ir pra casa. Amava ficar aqui, mas precisava da minha casa, preciso trabalhar amanhã.

Acabou que fomos sair da praia só 17 horas, todo mundo já tinha arrumado as coisas e tomado banho, agora estávamos aqui jogados no sofá conversando e decidindo se voltaríamos do mesmo jeito.

Fechei a cara assim que descobri que a Marina ia comigo e o Mateus no carro. Não levem a mal, adoro ela, mas não tava afim de ir no banco de trás e segurando vela.

Estávamos indo guardar as coisas no carro e eu puta, Valentina me correu do carro do Rapha. Segundo ela, precisava falar algo importante com o Rapha.

– Por que tá com essa cara?- Gabriel perguntou baixinho, só para mim ouvir e eu neguei com a cabeça. – Fala logo. Tá toda borocoxô aí.

– Não tô afim de ir segurando vela, mas não quero acabar com a noite do casal 20.- Murmurei dramática. Odeio demonstrar que estou incomodada com algo.– Tina me correu do carro do Rapha.

– Eu te levo pô, tô sozinho mesmo.- Fala debochando da situação, já que ele está sozinho devido o casal 20.

Até pensei em contestar, faz uma semana que conheço o menino e ele já me deu carona duas vezes. Mas entre ficar segurando vela e me aproveitar da boa vontade dele, prefiro a segunda opção. Então só avisei o Teus indo em direção ao audi branco.

– Quer passar no centro e comprar alguma coisa?- Perguntou abrindo a porta do carro pra mim. Ele também fez isso da última vez, além de tudo o menino ainda é um príncipe. Não aguento.

– Não vou negar, mac? - Perguntei quando ele entrou. Me entregou o celular no spotify e sorri de lado.

– Olha no grupo aí, o povo tava animando Formaggio.- Falou me olhando, estava esperando o Raphael tirar o carro.

– Não tô afim não, queria uma coisa mais leve.- Fiz careta.– Mas vamos então.

– Coloca a rota de um que tu queira aí então.- Falou colocando o celular na minha coxa.

– Não precisa.- Entreguei o celular.

– Cara, tá calor e ficamos o dia todo no tira gosto. Também não tô aguentando pizza.- Fala e eu só consegui reparar nele dirigindo com uma mão só. – Coloca um aí, não sendo japonês eu gosto.

Acabou que passamos no mac mesmo e eu pedi só um milkshake e batata. Fui rápida em entregar o cartão para a moça, pagando os dois pedidos. Antes que ele desse uma de Hariel de novo.

Fomos o caminho em um silêncio confortável, ouvindo música e às vezes cantando. Estávamos os dois mortos e sem saco pra conversas.

Quando chegamos no AP, virei para pegar minha mochila no banco de trás. Que foi o tempo que ele gastou para dar a volta no carro e abrir a porta.

– Obrigada de novo pela carona, te devo uma.

– Se quiser pode pagar com um beijo.- Deu de ombros se escorando no carro me fazendo rir.

– Tchau gatinho, até a próxima. - Falo dando um beijo na bochecha dele sentindo a mão dele me abraçando pela cintura.

– Se na próxima o beijo for em outro lugar, um pouquinho mais pra baixo e pra esquerda. Te dou carona todo dia.- Brinca de novo e eu reviro os olhos rindo.

– Tchau Gabriel.- Falo entrando no hall do prédio, escutando a risada dele.

Já vou direto pro meu quarto, tomar um banho e apagar. Vi que a Valentina ainda não chegou, então só tranquei a porta de fora e fui em direção ao banheiro.

Continua...

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