CAPÍTULO 02: Bruxinhas Malvadas.

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Play Pretend - Margo

4 Anos Antes

Abri os meus olhos, inspirei profundamente e me deparei com uma realidade cruel...

Eu não queria sair da cama.

Nos últimos meses, o meu quarto estava se tornando o meu lugar favorito. A maciez dos lençóis, a escuridão predominante e a ausência de seres humanos que me cercavam como abutres desesperados por uma carcaça morta. Mas, infelizmente, eu precisava mover o meu traseiro deprimido do colchão.

Eu era Avery Sinclair, a capitã das líderes de torcida que também fazia parte da equipe de ginástica e do comitê de organização da escola. A jovem idolatrada por um bando de insetos que precisavam da minha aprovação, como se a minha opinião fosse tão importante quanto a do presidente dos EUA.

Os adolescentes eram animais idiotas, desesperados para encontrar um grupo e serem aceitos, sem qualquer senso crítico ou capacidade de raciocínio. Mas, para a minha infelicidade, eu precisava me enturmar com eles, pois a necessidade de fazer parte de um círculo social era maior do que a minha superioridade intelectual.

Durante a maior parte do meu dia, eu tinha que usar uma máscara maquiada e arrogante, porque todos idolatravam e bajulavam aquela casca vazia. Mas era muito melhor do que ser ignorada como uma espécie de fracassada, pois eu já fiz parte do patético clube dos excluídos.

A pior época da minha vida.

No entanto, sacudi a camada de poeira invisível do meu traseiro, saí da cama e fui tomar banho e maquiar minha carcaça morta no banheiro, que, apesar de ser falsa, era muito bonita. Ajeitei os longos e lisos fios do meu cabelo castanho-claro e disfarcei as olheiras sob meus olhos amendoados de cor cinza. Rapidamente, em menos de uma hora, meu uniforme roxo de líder de torcida estava na minha bolsa, e desci as escadas em um pulo, percebendo que ― como sempre ― a casa estava vazia.

Desde que meu pai morreu, a minha mãe raramente ficava em casa, dedicando a maior parte do seu tempo trabalhando como representante comercial ou ficar presa no sofá comendo chocolate e dopada com soníferos. O lado positivo é que tinha a liberdade que todos os jovens com 17 anos sonhavam: acesso ilimitado a cervejas na geladeira, voltar para casa sem obedecer o toque de recolher, acesso ao armário de remédios e namorar com quem eu quisesse. O lado negativo é que eu sentia inveja de alguns amigos com pais presentes e que os seus únicos problemas eram a tirania deles.

Então, desde muito cedo, eu tive que resolver os meus próprios problemas e questões emocionais, pois o meu pai estava morto e minha mãe presa naquele maldito luto eterno. Eu aprendi a ser independente, livrar o traseiro de encrencas e que a beleza abria muitas portas. Sendo assim, eu poderia viver em um terrível solidão em casa, mas bastava colocar os meus pés na escola para ser cercada por atenção, mesmo quando não queria.

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